Importância religiosa e socioeconômica da devoção à N.S. da Piedade embasa criação de feriado

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Audiência da Comissão de Cultura ouve religiosos e outras lideranças de Caeté e região sobre o PL 1.401/23, que cria a data em 15 de setembro.

Orlando Zanon, Padre Wagner Calegário ouvem Leleco Pimentel Álbum de fotos Foto: Willian Dias

A importância religiosa, cultural, turística, social e econômica da devoção à Nossa Senhora da Piedade foi utilizada como principal argumento para a criação de feriado em homenagem à santa. O debate sobre o tema, enfocado no Projeto de Lei (PL) 1.401/23, do deputado Leleco Pimentel (PT), foi realizado em reunião da Comissão de Cultura nesta quarta-feira (8/5/24).

Já protocolada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a proposição pretende instituir como feriado estadual o 15 de setembro, data em que se comemora o Dia de Nossa Senhora da Piedade, padroeira do Estado.

Leleco Pimentel, que também requereu a audiência pública, argumentou que o feriado é importante para que o santuário de N.S. da Piedade em Caeté (Região Metropolitana de Belo Horizonte) passe a ser mais visitado. “A população mineira precisa deste ambiente da fé para continuar tendo esperança”, declarou ele, lembrando das ameaças de destruição propiciadas pela atividade minerária à Serra da Piedade, que abriga o santuário.

Ele lembrou que do patrimônio cultural e ambiental de Caeté, destacando o cenário da serra, a 1746 metros de altura, com visão panorâmica de 360 graus, inclusive para a Serra do Caraça. “Precisamos falar desses espaços religiosos que se tornaram refúgios para garantir a preservação da nossa casa comum, tão atacada pelas mineradoras”, disse ele, lembrando da destruição promovida por barragens, vista exatamente da Serra da Piedade.

Considerado um cenário de riquíssima beleza natural, o Santuário N.S. da Piedade abriga a imagem dessa santa, esculpida no século XVIII, por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. De lá, são avistadas as cidades da RMBH Belo Horizonte, Caeté, Contagem, Lagoa Santa, Nova União, Raposos, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano. Todo o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do santuário foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Ameaças da mineração

Presidente da comissão, o deputado Professor Cleiton (PV) parabenizoU Leleco Pimentel pela iniciativa e lembrou que só conheceu o santuário em 2015. “Foi amor à primeira vista; fiquei apaixonado pelo complexo religioso e turístico da Serra da Piedade”, registrou. Por outro lado, mostrou-se preocupado com as ameaças de degradação desse patrimônio promovidas pelas mineradoras. 

Professor Cleiton registrou que, com o objetivo de minimizar esse risco, elaborou o PL 513/19, que proíbe a mineração na Serra da Piedade. Ele lembra que o projeto começou sua tramitação, mas devido ao lobby da mineração, ficou paralisado desde então. Na sua avaliação, o projeto do colega ajuda na discussão sobre a preservação dessa serra, livre da mineração. 

N.S. da Piedade sintetiza a alma mineira, forjada na dor e na esperança

O Reitor do Santuário N.S da Piedade, Padre Wagner Calegário, historiou que a devoção à padroeira começou no início do século XVIII, com peregrinações à serra. Já em 1748, o bispo autorizou a celebração da primeira missa no local e, anos depois, determinou a construção da igreja.

Ele defendeu que a decretação do feriado é importante não só em função da religiosidade, mas também pela importância para a economia local e regional. Para se ter uma ideia, só em 2019, foram realizadas 510 mil visitações ao santuário. “A movimentação da hotelaria, dos restaurantes e outros serviços também é grande, com oportunidades principalmente para Caeté e, depois, Sabará”, prospectou.

Por fim, o religioso refletiu que N.S. da Piedade representa a síntese perfeita da identidade mineira. De acordo com ele, várias mulheres mineiras educaram seus filhos sozinhas, porque os maridos iam para as minas ou se aventuravam pelo Estado e muitos morriam. “A alma mineira foi forjada na perspectiva da dor, mas também na esperança, de que é preciso recuperar a vontade de seguir adiante; independentemente da fé, todos nós mineiros sabemos que atrás da montanha tem um horizonte”, concluiu.

Nanci Menezes, do Movimento Mineiro de Fé e Política e da Pastoral Afro-Brasileira, lembrou que a criação do feriado está 66 anos atrasada em relação à data em que N.S da Piedade tornou-se a padroeira de Minas, em 1958. Mas avalia que “o feriado será uma grande riqueza para o turismo religioso e poderá se somar a outro feriado importante, o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro”.

Ela citou a relação forte com N.S. da Piedade, por meio de seu pai, que era devoto da santa. Na infância, ele ficou sem enxergar e, por isso, os pais não queriam levá-lo para as comemorações na Serra da Piedade. Como ele implorou, decidiram ir com ele, que ao chegar ao santuário, voltou a enxergar.

Orlando Zanon, secretário de Turismo, Cultura e Patrimônio de Caeté, disse que o feriado reconhecerá a devoção e a fé do povo mineiro, promovendo a valorização das manifestações culturais. Além disso, afirma, atrairá visitantes interessados nas atividades religiosas e na cultura local, ao mesmo tempo em que valoriza o comércio e a economia como um todo de Caeté e outras cidades.

Crucificar a mãe terra

Já o Padre Ângelo de Paula, administrador da Paróquia Santo Antônio da Lagoa, em Pedro Leopoldo (RMBH), lembrou de trecho dos Atos dos Apóstolos, em que Paulo foi caçoado por anunciar que Jesus havia ressuscitado. “Que não façam com vocês, deputados, aquilo que fizeram com Paulo, de modo que o projeto seja aprovado”, esperançou-se. “Que o Estado de Minas pare de crucificar a mãe Terra, pare de colocar o Cristo morto nos braços de N.S da Piedade, porque queremos o cristo vivo, ressuscitado”, concluiu.

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