Neste caso a lei atrapalhou uma comunidade toda.
Itirapuã:- No dia 23/08 estive na Santa Casa de Patrocínio Paulista e conversei com o Provedor Sr. Ruben Schabert Soares e Nathalia Durval Maxta.
Pedi á eles que explicasse o que aconteceu que culminou na demissão da médica Dra Karen.
Nathália – Eu estou na Santa Casa desde Dezembro de 2017 e o Rubem como provedor, desde Janeiro de 2017. Nós tivemos conhecimento que a Dra. Karen é sobrinha da esposa do Prefeito de Itirapuã, Rui Gonçalves, através da denúncia de um jornal. Nós, sinceramente, não sabíamos. A Dra. Karen nunca foi uma preocupação para a Santa Casa, muito pelo contrário. Ela é muito bem quista. Excelente profissional, de extrema competência e capacidade, e mais que isso, talvez uma das médicas, mais acolhedora e humana que eu já conheci.
Nós temos grande parte da saúde de Itirapuã, muitos funcionários e contratação de quase todos os médicos. Na renovação do convênio vivenciamos a saúde na cidade. Fomos ver todas as questões da estrutura e, realmente, a Dra. Karen é muito querida.
Houve uma denúncia por este jornal, e também uma denuncia formal do responsável pelo mesmo que protocolou no Ministério Público. Esta denúncia resultou em um inquérito onde respondia a Santa Casa, o prefeito de Itirapuã e a empresa da Dra. Karen, pela qual ela recebe seus honorários, pois ela é contratada como pessoa Jurídica. Até então tudo certo, tomamos ciência que ela não é parente, não é “Nepotismo direto”, é o chamado “parentesco por afinidade”. Existe uma súmula 13 que fala sobre este parentesco. Recebemos uma notificação da promotora com a denúncia formal. Foram solicitados a Santa Casa todos os contratos desde a data que a Dra. Karen assumiu. Então, apresentamos, além dos contratos ano a ano de trabalho, 18 mil guias de atendimento desde o primeiro dia de trabalho dela. Ela trabalhava muito. Durante a semana no PS, plantões no centro de saúde aos finais de semana, responsável por médico de transferência, enfim, tudo o que ela recebeu foi fruto do seu trabalho. Isto nem foi contestado. Tudo dentro do valor de mercado.
A questão é ela ter o parentesco por afinidade ser favorecida do cargo. Olha que infelicidade: realmente a lei está certa, mas quem vai sofrer é a população, que tem uma excelente profissional, que nunca recebeu um real a mais do que deveria, que trabalhou e tem paixão pela cidade, muito amor e muita técnica. Fizemos uma pesquisa de satisfação e foi muito fácil receber o resultado. Mas que fique bem claro, não é a promotora que está errada e nem a Santa Casa. A Lei é assim, não tem exceções. A Santa Casa está chateada, a promotora também.
JFP – A Santa Casa pode ter algum problema?
Ruben – Acredito que não. Toda a documentação solicitada foi entregue à promotora prontamente e a Nathalia já comunicou que a partir do dia 01 de setembro a Dra. karen não atuaria mais em Itirapuã.
JFP – Por que esta medida foi tomada antes de instaurar o inquérito?
Nathalia – Porque é Lei. Em inúmeras situações vamos nos deparar com o errado, porque a Santa Casa é composta de humanos. E falhamos por dolo ou desconhecimento. Neste caso foi o desconhecimento. É triste. Não existe alternativa. Acredito que ela esteja triste mesmo, mas é lindo uma profissional ser aclamada assim pela população e merecido. Mas não tem alternativa.
Para manter a coerência e ética que primamos em nosso jornal, fomos conversar com a Dra. Karen e saber como está sendo vivenciar estes momentos.
JFP – A princípio gostaríamos de conhecer você como profissional.
Dra. Karen – Eu me formei pela Faculdade Federal de Juiz de Fora, fiz pós-graduação em medicina na faculdade da qual me orgulho muito. Então, graduei em 2015, meu avô tinha acabado de falecer e minha avó estava sozinha na cidade de Itirapuã, com 92 anos. Cheguei a trabalhar com Medicina do Trabalho em Ubá, e comecei a questionar se era para isto que eu tinha estudado tanto, daí resolvi vir para a região. Itirapuã estava sem médico, a saúde aqui estava caótica. Decidi vir morar com a minha avó e ver o que eu ia fazer. Fiz um contrato com a Santa Casa de Patrocínio Paulista. A mesma me perguntou se eu queria ficar na estratégia de saúde da família de Itirapuã. Na hora eu aceitei, por motivos óbvios. E comecei fazer a estratégia de saúde. Comecei a fazer a medicina que eu acreditava. Eu comecei a humanizar a medicina. Eu trouxe para cá todos os conceitos que sempre acreditei. Sou uma entusiasta do SUS. Na minha concepção, saúde não é a ausência de doença. Saúde é um estado Biopsicossocial. Então, fui fazendo aquilo que eu acreditava na medicina, no que tinha formado. Trouxe o princípio da equidade, que é tratar o paciente diferente. O paciente acamado que não consegue ir na minha estratégia, eu, de fato, vou até ele. Comecei a tratar o indivíduo na sua integralidade. Então, comecei a incomodar.
JFP – Começou a incomodar quem?
Dra. Karen – A oposição política. Quando isto aconteceu, eles passaram a me vigiar, faziam comentários em rede social. Mas sempre relevei. Até que um jornal fez uma matéria com a vereadora Sandra, onde falava que os médicos não cumpriam a carga horária. O mesmo jornal noticiou falando da fachada de uma clínica na casa da minha avó. A minha empresa é Eireli e você pode colocar onde você mora, pois o imposto vai para o mesmo endereço, e eu morava com a minha avó. Depois saiu a matéria que eu estava sendo investigada pelo Ministério Público e Câmara dos vereadores, por nepotismo, que aqui não tinha especialidade médica, que a Santa Casa criou um convênio para dar um jeitinho de me contratar. A principio ignorei. Só que foi crescendo, crescendo e encaminhado ao Ministério Público uma investigação. Fui na promotoria e lá começou tudo.
JFP – Você foi afastada por qual justificativa?
Dra. Karen – Por suposto Nepotismo.
JFP – Como assim “suposto”?
Dra. Karen – Não existe Nepotismo. Tem que se estabelecer se há parentesco entre as partes, no caso do Prefeito Rui Gonçalves comigo. Quem estabelece é o Código Civil. Explicando: Eu sou filha do irmão da Lourdinha, que é casada com o Rui. Sou sobrinha da Lourdinha, por consanguinidade. Eles estão investigando parentesco por afinidade. No Código Civil, artigo 1595 determina que cada cônjuge ou companheiro, é aliado aos parentes do outro pelo vínculo de afinidade. Parágrafo 1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes (aos pais da Lourdinha), aos descendentes (se a Lourdinha tivesse um filho antes de conhecer o Rui, este seria filho por afinidade do Rui), e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.
JFP – Quando você foi contratada não entendeu que era Nepotismo?
Dra Karen – Eu nem pensei nisso, eu jamais imaginei isso. Tanto que fui estudar agora e fiz contatos com outros advogados. Não é da minha área. Pelo código Civil, não existe. E outra coisa, Nepotismo para mim é favorecimento de parentesco em detrimento a cargos políticos ou qualificados. Eu me considero qualificada. O convênio é anterior a gestão do Rui. Estou aqui há 03 anos. Porque só agora eles resolveram me denunciar? Eu não tenho vínculo nenhum com a Prefeitura, só recebo o salário pelo meu CNPJ da Santa Casa de Patrocínio Paulista.
Enfim, fiquei muito triste… Mas aí veio a parte bonita. A manifestação da população. Quando eu vi aquela manifestação espontânea, eu percebi que o trabalho que fiz foi bem feito, um ato de protagonismo civil. Pessoas de lado X e Y. A manifestação foi pela profissional.
JFP – Você vai se defender juridicamente? Quer continuar no seu cargo?
Dra. Karen – Eu vou fazer tudo o que for necessário para me defender. Depois desta manifestação eu resolvi lutar. Deus mandou a resposta através do povo. Eu sou uma profissional gabaritada. Fiz Graduação na Faculdade Federal de Juiz de Fora; Pós-graduação em urgência e emergência no Einstein; Pós-graduada em setorial médica pelo Hospital Sírio Libanês; Cursando pós-graduação em Saúde da Família; Mestrado em Desenvolvimento Regional e passei em um concurso, então sou Professora de Medicina.
A população da cidade de Itirapuã se mobilizou em defesa da Dra Karen. Organizou uma carreata que foi realizada no domingo, dia 26 de agosto. Foi um apelo da população para que a médica permaneça no cargo. A nossa equipe esteve presente e ouvimos alguns depoimentos, entre eles o da moradora da cidade Cidinha que declarou: “A Dra. Karen é uma excelente médica. É uma amiga. Aqui não tem nada de política, inclusive eu sou de um partido e ela é de outro, e ela não mistura as coisas. Eu perdi minha mãe faz oito meses, a atenção e o apoio que a Dra. Karen me dá, nem a minha família me deu até hoje. Então, ela se preocupa como estou. O meu pai ficou doente e ela sempre corria atrás para saber como ele estava. Eu cheguei no Posto andando depressa e ela achou que algo estava acontecendo e saiu correndo atrás de mim preocupada. Então, ela é uma pessoa muito humana. Eu acho que eles, as autoridades, tinham que ver, se ela ficou até agora, porque tirar? Quem vai sofrer somos nós a população, que depende dela. Ela é uma pessoa ótima, muito simples, humilde. Pode ser branco, preto, amarelo, sujo, qualquer um, ela não tem nojo de por a mão no paciente e nem de abraçar. Os vereadores dizem que não querem que a médica saia, mas por que não estão aqui conosco agora?”.
Os outros depoimentos se resumem em declarações do empenho e dedicação que a médica dispõe para toda a população, que busca nos postos de saúde um atendimento para a cura de seus males físicos através da atuação implantada pela Dra. Karen.
Por Denise de Oliveira Guilherme