Após consolidar produção do café de qualidade, desafio é inclui-lo no dia a dia

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Comissão comemora Dia Nacional do Café, com debate sobre propostas de melhorias na cadeia produtiva do produto. 

Convidados destacaram avanço dos cafés especiais na reunião – Foto: Willian Dias

O café produzido em Minas é hoje referência não só de quantidade, mas também de qualidade no mundo. Com tudo isso, um dos grandes desafios a enfrentar é o de fazer com que os cafés especiais, de maior qualidade, façam parte do dia a dia do maior número de pessoas. Essas constatações partiram de reunião da Comissão Extraordinária de Turismo e Gastronomia nesta quinta-feira (25/5/23). A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) prestou sua homenagem ao Dia Nacional do Café, comemorado em 24 de maio.

Segundo Willem Araújo, coordenador técnico em Belo Horizonte da Emater-MG, o café mineiro vem provando sua qualidade a cada ano que passa. Para se ter uma ideia, em 2022, de 1600 amostras apresentadas em concursos da Emater do produto, 80% receberam 86 pontos numa escala que vai até 100 pontos.

Apesar do avanço na qualidade e na quantidade – previsão para 2023 é de mais de 27 milhões de sacas – falta fazer com que o café especial seja também valorizado pela maior parte das pessoas nas regiões produtoras. Nesse aspecto, Ana Carolina Gomes, analista de agronegócios da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas (Faemg), lembrou de um detalhe importante: na Semana Internacional do Café, realizada anualmente em Belo Horizonte, muitas vezes, a bebida, servida nos bares e restaurantes, não é aquela de qualidade divulgada no evento.

Por tudo isso, é fundamental investir em divulgação do café especial de forma que toda a cadeia produtiva local passa a utilizar esse produto de qualidade superior, conforme apregoou Flávia Josélia, gestora do Circuito Turístico das Águas. “Temos que trabalhar a informação para que as pessoas de uma maneira geral passem a valorizar o produto de qualidade que têm à disposição”, aconselhou.

Cafeterias

O técnico Willem Araújo completou que o café hoje é um fator de agregação, especialmente em cafeterias, que após a pandemia, ganharam mais importância. “Há um movimento para sair de casa, bater papo e até trabalhar dentro de cafeterias”, apontou. Outro modelo de cafeteria surgiu em áreas rurais, onde pequenas lojas trabalham a vivência da produção do café. Ele citou o exemplo da Fazenda Santa Rita, em Espera Feliz, que cobra diárias de R$ 800 e está com ocupação lotada até 2025.

Já a analista Ana Carolina Gomes valorizou a importância de difundir os métodos de preparo dos cafés especiais como forma de ampliar seu consumo. Ela destacou ações da Faemg de formação para toda a cadeia do café como assistência aos produtores, organização de startups voltadas para inovação no setor, entre outros. Na área de cursos, citou os de produção artesanal de derivados do café e apoio na criação de rotas do café. Já contam com circuitos desse tipo, Santa Rita do Sapucaí (Sul), Alto Jequitibá (Mata), entre outros municípios.

Flávia Josélia expôs ainda a informação de que o café especial é responsável por 80% da produção de Dom Viçoso (Sul), que conta com cafeteria que promove uma experiência sensorial. O município já foi três vezes campeão estadual de café especial. Ela completou que o Circuito das Águas está tentando criar a Rota do Café Especial, mas que ainda é preciso ouvir mais o produtor e apoiá-lo em suas dificuldades para aderir à proposta.

“Café além da xícara”

Já Marcos Santos, presidente da Cafeteria Will Coffee, valorizou sua experiência diferenciada de cafeteria, montada em 2012 dentro do seu quarto na periferia de Contagem (Região Metropolitana de Belo Horizonte). “Isso virou uma notícia, com várias matérias internacionais. Adotei o conceito de barismo e mostrei que o café estava além da xícara”, disse.

Paulista de Osasco (SP), Marcos Santos se tornou classificador/degustador e mestre de torra. Ele apresentou os atributos que considera fundamentais no seu negócio: atenção, acolhimento, informação e história. “Sou o contador das histórias na minha cafeteria, principalmente histórias do café”, disse. Comentando o fato de que a Alemanha, que não produz café, ser o país que mais lucra com o produto, ele avaliou que aquela nação tem um carinho especial pelas cafeterias, que são bicentenárias lá.

Governo quer estrutura café como produto turístico

Sérgio de Paula, subsecretário de Turismo da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, disse que, por muito tempo, o café foi visto apenas como parte da gastronomia mineira. No entanto, hoje o governo busca estruturar o café como um produto turístico. “Queremos fazer a formatação de roteiros turísticos envolvendo o café”, adiantou. Ele falou de Coqueiral (Sul), onde existe um hotel feito num container, onde se trabalha a experiência do café: “A pessoa planta, faz a colheita, torra e o café sai dali com o rosto da pessoa. É essa experiência que queremos reproduzir pelo Estado”, declarou.

Já Douglas Cabido, diretor técnico do Sebrae Minas, divulgou que o órgão tem trabalhado fortemente na identificação geográfica dos cafés mineiros, diferenciando cada região produtora. E defendeu a integração da gastronomia e do turismo do café. Para ele, o café foi se valorizando gradualmente com o trabalho conjunto desenvolvido por toda a cadeia produtiva. “Já conseguimos agregar valor em relação ao café in natura e agora precisamos posicionar o café brasileiro como marca internacional forte”, propôs. café.

Marcelo Malta, chefe do Departamento de Pesquisa da Epamig, detalhou que a empresa pública tem 10 programas de pesquisa, entre eles, o de cafeicultura, envolvendo plantio, manejo, processamento, colheita e outras áreas.

Ele disse que a Epamig já conta com um selo para indicação da qualidade do café de cada região e que o objetivo é indicar os cultivares adequados para cada local “Temos 19 cultivares que atendem a diversas necessidades do produtor, como produtividade e resistência a pragas. E comemorou que, desde a chegada do produto no Brasil, em 1727, até hoje, a produtividade do café aumentou 350%.

Falando apenas da questão gastronômica, Edson Puiati, da Frente da Gastronomia Mineira (FGM), disse que há um tesouro escondido no café, ainda não explorado, que é a cáscara, ou seja, a casca do café maduro. “Pode-se fazer com ela chás, infusões, sobremesas.

Ele divulgou ainda que a Fecomércio está montando no Sesc Paladium, na Capital, a primeira escola de cafés e drinks para formar baristas. “Temos muito café, mas poucas pessoas que entendem do assunto”, avaliou.

Gastronomia do café

O deputado Mauro Tramonte valorizou a importância do café para a economia mineira. “Minas Gerais produz 50% do café nacional, gerando empregos e renda pra muitas famílias”, comemorou. Ele completou que a gastronomia do café vai muito além da xícara de cafezinho servindo para várias receitas, em drinks, em pratos salgados e outros.

O deputado Professor Cleiton (PV) comemorou o fato de o maior provador de café do mundo estar em Minas, em Ibiraci (Sul). Destacou que a saca de café mais cara foi vendida pelo Estado em 2022, com o preço de R$ 33 mil. Nesse sentido, defendeu a busca de maior qualidade como forma de valorizar cada vez mais o produto. Segundo ele, um cafeicultor do Sul de Minas produzia mil sacas com qualidade inferior. Mudou seu sistema de produção optando por cafés especiais e hoje produz apenas 50 sacas e com lucro muito maior.

O deputado Rodrigo Lopes (União) lembrou que produzia café com seu pai. Ele propôs mais estudos e investimentos para que o Estado consiga avançar na produção do café especial. “Observei que já avançamos muito e, graças à Emater, à Epamig e ao produtor rural, estamos chegando lá, com um produto de grande qualidade e um alimento para a gastronomia mineira”, celebrou. 

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