Tragédia Yanomami foi denunciada 21 vezes e ignorada pelo governo, diz Apib

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Relatório da Hutukara Associação Yanomami, divulgado pela Apib em abril de 2022, denunciou que o território vivia o pior momento de invasão garimpeira desde que foi demarcado, há 30 anos

Mulheres e crianças Yanomamis: extração de minerais dentro da Terra Indígena não só contamina rios e pessoas, como destrói florestas e afeta o modo de vida indígena, impondo restrições à circulação dentro das suas próprias terras — Foto: Nelson Ameida/AFP

A invasão do garimpo ilegal em Terra Indígena Yanomami foi denunciada ao menos 21 vezes à justiça, com medidas feitas pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e outras organizações indígenas. Elas dizem que nos quatro anos da gestão de Jair Bolsonaro (PL) a União se negou a seguir ordens judiciais para tomar medidas urgentes sobre o garimpo ilegal na terra indígena, que fica em Roraima.

Na última sexta-feira (20), o Governo Federal decretou a criação do Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária das populações em território Yanomami. Além disso, o Ministério da Saúde declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional no território.

As medidas foram tomadas após a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e da ministra de Saúde, Nísia Trindade, a Casa de Saúde Indígena Yanomami (Casai Yanomami), localizada na cidade de Boa Vista, em Roraima. Também estavam presentes Joenia Wapichana, presidente da Fundação Nacional do Povos Indígenas (Funai), Weibe Tapeba, secretário de saúde indígena (Sesai) e lideranças locais. 

O grupo visitou as comunidades no sábado (21). Lula classificou a situação dos Yanomami como “desumana” e culpou a gestão Bolsonaro. “Se alguém me contasse que em Roraima tinham pessoas sendo tratadas dessa forma desumana, como vi o povo Yanomami aqui, eu não acreditaria. O que vi me abalou. Vim aqui para dizer que vamos tratar nossos indígenas como seres humanos”, afirmou.

Mourão chegou a dizer que dados sobre o garimpo ilegal eram “fantasiosos”

O relatório da Hutukara Associação Yanomami, divulgado pela Apib em abril de 2022, denunciou que o território vive o pior momento de invasão garimpeira desde que foi demarcado, há 30 anos. Em seguida, o então vice-presidente, general Hamilton Mourão, disse que os dados sobre o garimpo ilegal eram “fantasiosos”. Quase 100 crianças Yanomami morreram em 2022. 

A Apib ressalta que o médico e pesquisador da Fiocruz Paulo Basta realizou estudos com a população indígena em 2014 que mostraram um índice de “concentração de mercúrio no cérebro do feto é de cinco a sete vezes maior do que no cérebro do adulto”.

“A situação crítica na saúde dos indígenas, com casos graves de crianças e adultos em estado de desnutrição severa, contaminação de verminose e malária, está relacionado ao avanço do garimpo ilegal, incentivado pelo governo anterior”, afirma a Apib.

A extração de minerais dentro da Terra Indígena não só contamina rios e pessoas, como destrói florestas e afeta o modo de vida indígena, impondo restrições à circulação dentro das suas próprias terras, acrescenta a entidade. 

De acordo com a Hutukara, os indígenas deixam de “usufruir de áreas utilizadas para a caça, pesca, roça, e da comunicação terrestre e aquática com as comunidades do mesmo conjunto multicomunitário”, provocando a escassez de alimentos.

“A morosidade do governo brasileiro em responder aos inúmeros pedidos de socorro gerou o estado crítico em que as comunidades se encontram atualmente. Como denunciado pela Apib ao longo do governo Bolsonaro, a situação faz parte de um projeto político que vê no extermínio dos indígenas o caminho mais rápido para impulsionar a extração predatória dos bens naturais de áreas protegidas”, frisa a Apib..

Governo Lula toma uma série de medidas

O cenário de crise sanitária fez com que o Ministério da Saúde decretasse estado de emergência. Estuda-se a possibilidade de acelerar um edital do Programa Mais Médicos para recrutar profissionais para os Distritos Sanitários Indígenas (Dsei) para atender a população da região. E o governo federal deve transferir o Hospital de Campanha da Aeronáutica do Rio de Janeiro para o território.

Já o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, determinou abertura de inquérito policial para apurar o crime de genocídio e crimes ambientais na Terra Indígena Yanomami.

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou em uma rede social que “a inaceitável situação de penúria dos Yanomami, agora revelada, é uma tragédia muito grande para acreditarmos que foi improvisada. A apuração das responsabilidades é urgente”.

Extraído do Jornal O TEMPO

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