Por dentro das minorias

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A questão do preconceito racial no Brasil vem de muitos anos atrás e remonta a história da escravidão. A abolição da escravatura foi um momento crucial para a história do país, porém não foi o suficiente para resolver as questões raciais existentes no país provenientes dos valores dessa época. Além disso, outros problemas relacionados a outros tipos de minorias podem ser observados ao analisar os estudos sobre a época, que ficaram evidentes principalmente na produção midiática dos jornais radicais.

Logo após a abolição, com a conquista da liberdade, a população negra do país deu de cara com novos desafios a serem enfrentados, como o desemprego e a falta de formação escolar e profissional. A solução encontrada para resolver o problema de mão de obra no país, foi a imigração de europeus, que vieram para substituir o trabalho dos escravos e ao mesmo tempo possuíam conhecimento especializado nas diversas áreas da indústria. Portanto, deu-se preferência para a marginalização do brasileiro negro no momento em que a imigração foi colocada à frente da profissionalização e qualificação daqueles que anteriormente foram escravos.

Esse problema só foi se agravando com o passar dos anos, à medida que os capitalistas estrangeiros priorizavam os empregos para os seus conterrâneos. Com isso, podemos observar que o complexo de vira-lata, observado por Nelson Rodrigues em 1950, já podia ser observado muito antes, nos anos que seguiram a abolição da escravatura, quando analisamos o panorama do trabalho industrial que priorizava a importação da mão de obra estrangeira no lugar da formação dos próprios brasileiros.

Essa falta de identificação dos brasileiros brancos com os seus conterrâneos negros, não é o único momento em que vemos a falta de empatia com relação aos indivíduos do próprio grupo. Ao analisar o movimento dentro das próprias agremiações negras, é possível notar que havia uma discrepância de pensamentos, e a tendência à exclusão das minorias que existiam ali dentro do próprio grupo. Por exemplo: as mulheres eram tratadas como um bem material dos homens e não ocupavam posições de destaque dentro da organização dos clubes; além disso havia a diferenciação de classe, quando os homens letrados e com maior poder aquisitivo consideravam que certas pessoas dentro do grupo prejudicavam a imagem que a agremiação estava passando para o restante da sociedade.

Como consequência disso, as minorias dentro do próprio grupo formavam pequenas associações para se fortalecerem, como é o caso da Comissão Directora das Sócias, composta apenas por mulheres. Portanto, nota-se que as mulheres negras já sentiam a necessidade de se unirem e serem representadas pelas próprias mulheres, e não mais por homens. A mulher já nessa época é vista como um objeto de posse do restante da sociedade, e é submissa ao homem, mesmo que as mulheres negras fossem, na maior parte dos casos, responsáveis pelo sustento financeiro da casa. Nessa época, a mulher negra se submetia a trabalhos ultrajantes e era tratada de forma completamente injusta dentro das casas em que trabalhavam, para conseguir compor a renda familiar, que era majoritariamente obtida por ela. E, além disso, quando chegavam em suas casas, sofriam a segunda discriminação realizada pela própria comunidade negra, pelo fato de serem mulheres.

Esse quadro tem seu papel ainda nos dias de hoje, e tem sua influência clara nas mídias tradicionais, que mesmo que preguem por igualdade não demonstram isso nos seus processos diários. Os padrões sociais podem ser percebidos ao ligar a tv, quando percebemos que o mesmo perfil de pessoas está na frente das câmeras, mesmo quando o assunto tratado são as minorias. Como podemos falar de inclusão e igualdade quando a própria divulgação desses ideais é realizada apenas pela parcela social dominante? Do que adianta lutar contra o racismo, e qualquer outro tipo de opressão, se não damos o local de fala para quem vivencia isso todos os dias?

REFERÊNCIA:
MELLO, M.P.A. O lugar da mulher na imprensa negra paulistana (1915-1924). Cultura histórica & Patrimônio, volume 1, número 2, UNIFAL, 2013.

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