Relembrar faz bem | A força do trabalho Italiano em Monte Santo – (parte final)

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José Ferreira Carrato
Como eram poucos os imigrantes habilitados em mão de obra especializada, todos ficavam “contadini” (lavradores) e iam trabalhar nas fazendas. Por uma razão de ordem cultural – que ultrapassava a condição e o esforço físico – o colono italiano revelou-se, naquele teatro do trabalho rural escravo até então pouco produtivo, um verdadeiro portento: viu-se um “contadino” cultivar anualmente de três a três mil e quinhentos pés de café, ganhando mil réis por saco que colhia. E colhia de quatro a cinco sacos por dia. Pelo seu trabalho no café o italiano recebia, a cada trimestre, 70%. Foi um esforço extraordinário que rendeu à colônia italiana, uma geração depois, os resultados do seu “risparmio”, que fizeram de muito deles grandes fazendeiros de café, a suplantar de muito os seus empregadores de ontem. Tornaram-se, também, “reis do café”, como foi o lendário Geremia Lunardelli. Potentados poderosos, como em Ribeirão Preto, Pietro Biagi. Os tubarões da indústria, como o foi o Conde Francisco Matarazzo, um “oriundo” humilde de Basilicata.
É que não importava ao “carcamano”, para poupar “risparmiare” o seu suado mil réis cotidiano, ter de passar com a família à base de polenta com alho ou angu arreganhado, em que a “mamma” botava, às vezes, uma xicara de leite. Ela se aventurava a ir pedir à porta, nem sempre acolhedora, das sinhás-donas das fazendas. “Pega, podi leva” resmungava uma fazendeira mesquinha de Monte Santo – “esta xicara de leite co ela, mecê podi mexê um alquêri di pulenta prus seus talianinhu”.
E a valorosa “mamma” carcamana levava mesmo. Levantava-se, com o marido e os filhos, quando os galos amiudavam e as estrelas ainda cintilavam no belo céu brasileiro. Ele partia, de enxada ao ombro, para sua batalha sem fim contra os talhões de milhares de pés de café. E ela ficava. Punha ordem e limpeza na casa, tratava das crianças menores, cozinhava, lavava, passava, costurava, remendava, cerzia, tricotava, e ainda achava tempo de levar comida na roça, pegar na enxada e carpir eitos e eitos de café. Foi dura a vida do colono italiano em nossas fazendas, não muito diferente dos “braccianti” da Itália Meridional, aqueles pobres “contadini” guerrilheiros, que, ainda há pouco, acossados pela miséria, tinham-se levantado em armas, em sua justa guerra social – “II Brigantaggio” – a qual teriam pertencido muitos pais daqueles lavradores que agora amanhavam a terra brasileira. Só que estes, mais felizes, alimentavam no coração a esperança de também possuírem o seu quinhão no dia de amanhã, na pátria nova que tinham escolhido.
Pesquisa: Maria Zélia

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