Enrico tem 5 anos e é morador de Varginha (MG). Ele foi diagnosticado com Distrofia Muscular de Duchenne que causa fraqueza muscular e, aos poucos, afeta os movimentos do corpo.
Por Lucas Soares, g1 Sul de Minas — Varginha, MG
Personalidades da música, do esporte e da televisão se uniram à campanha que tenta salvar o menino Enrico, de 5 anos, de Varginha (MG), que sofre de Distrofia Muscular de Duchenne e precisa de um remédio avaliado em R$ 15 milhões. O medicamento só existe nos Estados Unidos e não é aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), no Brasil.
Nesta semana, a Justiça negou à família da criança um pedido para que União arque com o custo do medicamento e todas as despesas médicas do menino. Depois disso, o pai da criança fez um desabafo nas redes sociais.
Para conseguir o dinheiro, a família de Varginha (MG) recorreu às redes sociais para pedir ajuda e já foi vítima até de golpe de estelionatários que tentaram se aproveitar da campanha.
Enquanto a família tenta conseguir o dinheiro para o medicamento, a luta é uma corrida contra o tempo. O menino Enrico tem hoje 5 anos e 4 meses e só poderia tomar a medicação antes de completar 6 anos.
Famosos se unem e família faz pedido até ao Neymar
Zico, Tony Ramos, Rogério Flausino, Maria Cecília e Rodolfo, Raul Plasman, Ronaldinho Gaúcho, Ana Castela, José Neto e Cristiano, Tatá Werneck, Isis Valverde… a lista é grande. Todas essas personalidades já gravaram vídeos para as redes sociais convocando o público a ajudar.
“A gente está aqui junto unindo forças, muita gente já entrou nessa campanha maravilhosa pra gente ajudar a salvar o nosso querido Enrico e que somente com a colaboração de todos nós vai vencer essa batalha”, diz no vídeo o também Sul-mineiro Rogério Flausino, líder da banda Jota Quest.
Enrico e família com Ana Castela e Ronaldinho Gaúcho: famosos se unem em campanha — Foto: Reprodução / Redes Sociais
“O mínimo que eu posso fazer além de pedir a Deus que ajude essa criança, é contar com a colaboração de todos, cada um de nós. Como a própria campanha diz, um pouquinho que seja de cada um para que esses pouquinhos se juntem em uma ajuda pra essa criança com uma doença extremamente rara”, disse o ator Tony Ramos.
Na página da campanha, a família informa que até o momento conseguiu arrecadar apenas 20% do valor necessário para conseguir o medicamento. Ainda faltam cerca de R$ 12 milhões.
Eles também tentam sensibilizar outras celebridades e pessoas que possam ter condições de ajudar, como o jogador Neymar.
Pedido negado pela Justiça
No pedido de tutela que foi negado pela Justiça Federal, a família pedia o fornecimento do medicamento Elevidys, avaliado em R$ 15 milhões, por parte da União. O medicamento consiste em uma terapia genética de única dose que foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana, em junho de 2023.
A família pediu que a União custeie, de forma definitiva, total e permanente o medicamento em um prazo de 48 horas, conforme prescrição médica, bem como todas as despesas inerentes à aplicação, entre eles honorários médicos, despesas hospitalares e deslocamento, sob pena de multa.
Na decisão que rejeitou o pedido, a juíza federal Regilena Emy Fukui Bolognesi, da 11ª Vara Cível Federal de São Paulo, afirma que o medicamento pleiteado ainda é experimental e que, por isso, não tem comprovação científica de eficácia e segurança.
Ela diz ainda que o medicamento foi aprovado pela agência FDA “em decisão fundamentada não em evidências científicas, mas, na ponderação empírica dos possíveis benefícios ao fornecer acesso mais rápido à terapia, então caracterizada como promissora”.
A juíza afirma que o FDA não deu a aprovação científica para o medicamento.
“Lendo-se a decisão do FDA e os outros estudos, causa estranheza a insistência de que esse medicamento seria uma cura para a doença. Na verdade, é um entusiasmo que não deveria ser alimentado, uma vez que não há estudos comprovando. Em tese, ele faria com que o corpo produzisse uma substância que deveria suprir outra, que quem tem a doença não produz. No entanto, o comitê do FDA chegou a dizer que essa substância sequer é produzida naturalmente pelo corpo. Decorre que ninguém sabe afirmar o que o medicamento causa no corpo”, completa.
Na decisão, a juíza também reforça entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) de que “como regra geral, o Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos não registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por decisão judicial. No caso de medicamentos experimentais, sem comprovação científica de eficácia e segurança, e ainda em fase de pesquisas e testes, não há nenhuma hipótese em que o Poder Judiciário possa obrigar o Estado a fornecê-los”.
A família informou que vai recorrer da decisão. O g1 entrou em contato com a Anvisa e atualizará esta reportagem assim que receber o retorno.
Desabafo do pai
Após a negativa da Justiça, o pai do garoto, Eric Cavalcantti, que também é médico, fez um desabafo nas redes sociais pedindo por ajuda para salvar a vida do filho.
“Estamos lutando pela vida do nosso filho Enrico, com a nossa campanha ‘Salve o Enrico’, e hoje é um dia triste, porque é o dia que nós recebemos a negativa da Justiça, em um processo que estava acontecendo por esses meses. A gente perdeu a liminar, a gente vai recorrer e continuar lutando pelo nosso filho”, disse o pai do menino.
Pai desabafa após Justiça negar pedido de medicamento de R$ 15 milhões para criança em MG
O pai de Enrico completou o desabafo pedindo que juízes, desembargadores, e o governo tenham sensibilidade e ajudem a salvar a vida da criança.
“O que a gente quer é que ele tenha as mesmas oportunidade dos outros pacientes. O que eu peço é isso, salvem o meu filho, me ajudem. O Enrico só tem 5 anos, ele é uma criança linda, ele merece ter todo futuro que eu tive. Todos, continuem nos ajudando, eu preciso muito salvar meu filho, eu preciso muito de vocês hoje!”
O que é a Distrofia Muscular de Duchenne?
A Distrofia de Duchenne é uma doença genética e rara que atinge em torno de 1 a cada 3 mil nascidos vivos e ocorre predominantemente em meninos. A doença não tem cura. No Brasil, os médicos recomendam um protocolo de terapia paliativo, com o uso de medicamentos como corticoides e esteroides.
Segundo o neuropediatra Lucas Gabriel Ribeiro, ocorre a falta de uma produção de uma proteína chamada distrofina, que é como se ela fosse um amortecedor dos músculos.
“A falta de distrofina faz com que esses músculos comecem a sofrer desgaste, por não ter esse acolchoamento. E com o tempo essa musculatura vai sendo destruída. E ela é substituída por fibrose ou células adiposas. Em torno de 20 a 30 anos, essa pessoa pode evoluir para o óbito”, explica.
E como o medicamento ajuda?
Para que o Enrico continue bem e tenha um desenvolvimento saudável, a família está em busca de um tratamento novo, um remédio que já foi aprovado nos Estados Unidos. Ele custa R$ 17 milhões e uma única dose pode impedir a progressão da doença.
“A medicina está se modernizando aos poucos e esse tratamento vem evoluindo muito. É um tratamento inovador, é uma medicação que é usada com dose única, que tem bons efeitos ao longo de 5 anos. Os níveis de distrofina do meu filho podem melhorar em torno de 95%. Então é a medicação mais promissora do momento”, explica Eric Cavalcantti, pai do Enrico e médico.
“Atualmente é uma dose única, ele foi aprovado na idade de 4 a 5 anos, mas a gente espera que aumente essa idade, estão tendo estudos para isso. E atualmente, como a Anvisa não alterou a medicação até o momento, a gente necessita levá-lo para os Estados Unidos. O meu desejo é que seja realizada a medicação no Brasil mesmo”, completa.
O remédio ainda é experimental e está na terceira fase de pesquisa nos Estados Unidos, mas já foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), instituição semelhante à Anvisa no Brasil.
Esse medicamento consiste em retirar o RNA de um vírus e, no lugar, colocar um material genético diferente, que produz a proteína distrofina – aquela que o corpo do Enrico não produz e, por isso, causa a doença.
“Adenovirus é um vírus, um vírus qualquer que hoje está aí no ar. Eles pegam esse vírus, fica um vírus inativo, então não vai causar doença na pessoa que vai fazer essa terapia. Vai retirar o material genético dele e substituir pelo material genético que faz a distrofina e ele vai ocupar o lugar lá no éxon desse gene e com isso recuperar a função”, explica o neuropediatra Lucas Gabriel Ribeiro.
Campanha ‘Salve o Enrico’
Como o custo é caro, a família decidiu criar uma campanha nas redes sociais para arrecadar o dinheiro. O objetivo, claro, é alcançar algo que não tem preço: uma vida boa e longa para o Enrico.
“Como pai, a gente quer o melhor para o filho. Acho que todos os pais do Brasil, a gente faz tudo pelo nosso filho. Se precisar ir para qualquer país do mundo, eu vou. Se precisar abdicar da profissão, eu vou abdicar. O foco total é o meu filho, mas eu não quero que seja só o meu filho. Quero que seja todos os pacientes, todas as crianças do país também”, afirma o pai, Eric Cavalcantti.
“Não tem preço. A gente faz de tudo para ver ele bem. E para qualquer pai, qualquer mãe, a gente quer isso: que a criança continue com qualidade de vida, continue bem”, completa Marina Geraldelli, mãe do Enrico.
Extraído do g1 Sul de Minas EPTV