Constatação vem do Fórum Café e Clima realizado pela Cooxupé em outubro; Evento foi realizado de forma online
As lavouras de café arábica das regiões de atuação da Cooxupé, assim como em outras áreas do Brasil, vem sofrendo com a severidade do clima neste ano e os danos à planta devem impactar negativamente a safra de 2021. Esta conclusão foi apresentada por especialistas durante o 2º Fórum Técnico Café e Clima promovido pela Cooxupé, em outubro, via Youtube. A análise está baseada no fato destas regiões cafeeiras terem ficado há mais de 170 dias sem a ocorrência de chuvas suficientes para manter a disponibilidade adequada de água à cultura. Aliada ao longo período sem chuvas , a ocorrência de altas temperaturas agravou ainda mais o quadro de depauperamento dos cafezais.
“Há alguns anos o clima vem atuando com grande influência na produção cafeeira. É muito importante frisarmos que o café arábica é caracterizado por ciclos, ou seja, bienalidade alta e baixa. Por isso, nossos parâmetros comparativos compreendem a safra de 2021 com a de 2019, que por natureza são colheitas menores em relação aos anos pares”, explica o presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo.
Éder Ribeiro dos Santos, Coordenador do Departamento de Geoprocessamento da Cooxupé, explica que as lavouras, desde abril, vem sendo submetidas à condições desfavoráveis de chuvas e temperaturas. No entanto, julho, agosto e principalmente setembro, apresentaram temperaturas muito acima da média histórica que, associadas ao longo período seco, provocaram intensa desfolha nas lavouras. “No final de setembro a disponibilidade de água para os cafeeiros já era extremamente crítica e, nesta condição de desfavorabilidade, ocorreram dois florescimentos – um de grande intensidade no final de setembro e início de outubro e outro de baixa-média intensidade no final de agosto e início de setembro. O pegamento da florada em condições de baixo enfolhamento, baixa disponibilidade de água e altas temperatura pode ser muito comprometido”, pontua Éder.
Segundo ele, no final de setembro de 2020, o armazenamento de água no solo estava em torno de 3 a 4% da capacidade de campo e o déficit hídrico acumulado de janeiro a setembro de 2020 estava até duas vezes maior comparado ao de 2019.
Florada
As chuvas ocorridas no final de agosto e de setembro promoveram abertura de duas floradas. A do início de setembro, de média intensidade em lavouras novas e podadas, não deve gerar grandes surpresa na safra de 2021, segundo o engenheiro agrônomo e professor doutor José Donizeti Alves (UFLA- Universidade Federal de Lavras). Já a florada aberta no início de outubro, de alta intensidade em todas as lavouras, pode ter melhor pegamento, dependendo de temperatura mais amena e de chuvas mais regulares. “As consequências para a próxima safra brasileira de café 2021/2022 já existem. As chuvas frearão as perdas desde que contribuam regularmente até o final do ano (30 dias críticos após a florada), período importante para o pegamento e estabelecimento do chumbinho. As perdas serão proporcionais ao grau de desfolha das lavouras e o cafeicultor deve estar bem atento a essa questão”, alerta o especialista.
Diante da crise hídrica nas lavouras cafeeiras, o engenheiro agrônomo e professor doutor Paulo César Sentelhas (Esalq/USP) complementou a necessidade de haver chuvas do mês de outubro para frente de pelo menos 600 milímetros. “Se isto não acontecer muito provavelmente teremos um ano classificado como anomalia. As condições meteorológicas que vêm prevalecendo na maioria das regiões produtoras de café analisadas têm impactado as lavouras para a safra2020/21, com expectativa de quebra de produtividade decorrentes do déficit hídrico elevado, da queda de folhas, do impacto na formação e desenvolvimento dos ramos e das gemas e, consequentemente, no pegamento da florada. Há previsões de chuvas no final de outubro e novembro, no entanto até o estabelecimento da estação chuvosa a deficiência hídrica deverá continuar afetando a construção da próxima produtividade”, completa.
Para o agrônomo, consultor e produtor de café Guy Carvalho, a situação climática é preocupante. “É muito grande a privação hídrica das lavouras, principalmente no Sul de Minas e no estado de São Paulo. Algumas lavouras, mesmo boas que produziram pouco este ano ou podadas recentemente, estão apresentando grande desfolha desde o final de agosto para cá. Já lavouras mais velhas estão ainda piores e devem receber a poda. É um quadro irreversível e preocupante”, define.