Prefeitos relatam prejuízos, mas dor de familiares é maior

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CPI da Barragem de Brumadinho ouve gestores municipais, mas familiares de vítimas também cobram atenção.

Legenda da foto: Em audiência para ouvir prefeitos sobre prejuízos nos municípios, a tônica foi a dor de familiares mortos ou desaparecidos em Brumadinho – Foto: Clarissa Barçante

Em momento de emoção, os nomes de 88 vítimas não encontradas desde o rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foram lidos nesta segunda-feira (1/4/19), em audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) as causas do desastre.

“Sou uma mãe presa na lama há 68 dias”, indignou-se Andresa Rodrigues, mãe de Bruno, engenheiro da Vale há três anos e cujo nome estampava faixa levada por familiares à reunião, realizada na Câmara Municipal de Brumadinho.

Foi pelo desabafo de Andresa, professora e hoje vereadora de Mário Campos, que a audiência deu voz aos nomes de pessoas ainda não localizadas desde o rompimento ocorrido em 25 de janeiro, na Mina do Córrego do Feijão.

“Estou sentida, com dor e revolta, porque não adianta nada falar de negócios, se mais de 300 vidas foram ceifadas e com autorização do poder público”, criticou ela sobre a fala de prefeitos e gestores de vários municípios que a antecederam.

Preocupados com a situação em seus municípios, eles destacaram prejuízos sobre atividades em seus municípios desde que a lama de rejeitos da Vale chegou ao Rio Paraopeba e pediram o apoio da CPI para que ações de reparação dos danos tenham andamento efetivo.

“O agronegócio e o turismo só vão se sustentar se houver vida. Primeiro temos que humanizar e respeitar o que ocorreu”, rebateu Andresa, contando com a solidariedade da comissão e se comovendo ao falar de Bruno.

“Meu filho único foi assassinado com requinte de crueldade porque lá na mina não tinha sirene. São centenas de famílias que não dormem nem comem desde as 12 horas, 28 minutos e 25 segundos do dia 25 de janeiro”, depôs Andresa.

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Culpados – “O que nos moveu a criar essa CPI foram as mais de 300 vítimas”, endossou o vice-presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PTB), para quem a CPI deve chegar aos nomes e rostos dos que deverão ser punidos pelo desastre. “Não podemos ficar reféns de uma empresa criminosa”, frisou.

Relator da comissão, o deputado André Quintão (PT) endossou o colega e esclareceu que a CPI não profere sentenças, mas investiga e faz recomendações. A expectativa manifestada por ele é a de que a CPI possa ainda sugerir um plano estratégico de reparação dos danos.

“Precisamos romper com a ideia de que a mineração é nossa única possibilidade e aproveitar para discutir uma nova matriz econômica para o nosso Estado”, defendeu a deputada Beatriz Cerqueira (PT), que se emocionou ao mencionar os relatos de dor ouvidos na audiência.

Por sua vez, o deputado Cássio Soares (PSD) lamentou a ausência do prefeito de Brumadinho, Avimar Barcelos, à audiência e defendeu sua convocação para uma próxima reunião, na condição de testemunha.

O presidente da CPI, Gustavo Valadares (PSDB), e ainda o deputado Glaycon Franco (PV) também se solidarizaram com os familiares de vítimas.

“Os prefeitos estão na CPI porque também têm que cobrar os direitos de moradores de seus municípios, que estão na bacia do Paraopeba, atingida pelos rejeitos. Mas a solidariedade a vocês hoje é mundial”, frisou o presidente aos familiares.

“Foi um crime, não existe desculpa”, considerou, por sua vez, o deputado Bartô (Novo).

Prefeitos relatam prejuízos em atividades

O prefeito de Pará de Minas (Central), Elias Diniz, defendeu que cada município atingido tenha suas características específicas consideradas em negociações de reparação com a Vale.

Elias é um dos prefeitos da comissão formada para interceder pelos municípios junto a órgãos públicos e à empresa com o objetivo de terem asseguradas reparações de estragos e perdas sofridas ao longo do Rio Paraopeba até a represa de Três Marias.

Segundo ele, seu município, há cerca de 10 dias, firmou com a mineradora um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) pelo qual a empresa teria se comprometido a recuperar a captação de água que a cidade perdeu com a contaminação do Rio Paraopeba.

Conforme Elias, em 13 meses a Vale terá, entre outros, que implantar um reservatório de 50 milhões de litros de água em Pará de Minas, além de uma adutora e poços artesianos.

Uma tragédia sem precedentes foi como definiu o prefeito de Fortuna de Minas (Central), Patrick Campos. Ele relatou perdas na agricultura familiar em função da falta de água para irrigação, com interrupção do abastecimento de alimentos para outras quatro cidades.

Já o município de São José da Varginha (Central) está sofrendo prejuízos sobretudo no agronegócio e na extração de areia para a construção civil. Segundo o prefeito, áreas de pastagem estão sendo desativadas por falta de água.

Wiliam Costa, secretário de meio ambiente de Felixlândia (Central), considerou grave a situação em sua região, com peixes contaminados pondo em xeque a psicultura e ainda o turismo na região.

O prefeito de Papagaios, Mário Reis Filgueiras, defendeu que ações de reparação priorizem as pessoas que vivem às margens do Paraopeba e que agora não têm outra fonte de renda. “A fome não espera”, criticou.

Lobby – Ambientalistas e representantes de movimentos criticaram na audiência o fato de, segundo eles, a Vale estar à frente de todas as ações após a tragédia, tanto de cadastramento de quem será indenizado como de possíveis ações reparadoras.

“É como na Lei Maria da Penha, o criminoso não deveria poder ter contato com a vítima”, comparou Lilian Paraguai, da Articulação Somos Todos Atingidos.

Na mesma direção, Joceli Andrioli, dirigente nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), disse que “se está cedendo ao criminoso o direito de ele mesmo cadastrar e ele mesmo definir o que vai implantar, no que vemos como é o lobby da indústria da reparação”.

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