Desenvolvimento de cultivares é parte de pesquisa contínua que pode levar décadas; entenda o que os pesquisadores buscam em seus estudos
Por Redação
Enquanto você toma um gole do café espresso especial catuaí amarelo, da região paulista da Alta Mogiana, dezenas de pessoas trabalham para melhorar os cultivares do grão. Ou seja, para produzirem mais grãos. Em outras palavras, para que tornem mais resistentes a pragas e doenças, e tolerem melhor a falta ou o excesso de chuvas. Assim como os períodos de frio ou calor intensos. Tudo para que você continue a ter uma boa bebida na xícara. Entretanto, você sabe como nasce um novo café?
De antemão, talvez você não esteja “associando o nome à pessoa”. Porém os cultivares, grosso modo, são o tipo da planta. Por exemplo, o catuaí amarelo já citado, bourbon, mundo novo, catucaí, arara, obatã vermelho, entre outros.
De acordo com a matéria do portal Café Point, o desenvolvimento de novas cultivares é parte de uma pesquisa contínua e que pode levar décadas. A seguir, entenda como os estudiosos fazem esse trabalho.
Como nasce um novo café
Em primeiro lugar, o melhoramento de café é a reprodução em laboratório de algo que acontece na natureza. Tal qual o cruzamento e a seleção de plantas mais aptas. Porém, a diferença é que, na natureza, isso acontece visando a sobrevivência da espécie. Já em laboratório, é possível focar em um objetivo que seja conveniente para nós.
No Brasil, essas pesquisas são realizadas em instituições governamentais. Inclusive, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), pioneiro no assunto, faz melhoramentos desde a década de 1930. A princípio, o objetivo era aumentar a produtividade na lavoura. Além de desenvolver plantas resistentes à ferrugem, uma doença cruel para o cafeeiro.
Mas, em outras palavras, não pense que desenvolver café é como criar uma coleção de moda. Em que sai uma nova criação a cada estação.
“Leva cerca de 50 anos para termos uma cultivar estável para disseminar em escala”, explica Júlio César Mistro. Ele é pesquisador da área de melhoramento genético do IAC.
Segundo ele, é preciso, primeiramente, acompanhar oito gerações. O café é uma planta perene, que demora dois anos para ficar adulta. E mais quatro anos produzindo para a coleta de sementes.
“Dá para acelerar esse processo e obter menos gerações, por clonagem ou por biologia molecular. Mas é importante ter a noção real do tempo”, observa Júlio.
Foco no campo
Enquanto todos os outros processos do grão têm por objetivo o resultado na xícara, no melhoramento o foco está na lavoura. “A resistência à ferrugem, que é devastadora, ainda é muito importante”, comenta César Elias Botelho. Antes de mais nada, ele é pesquisador da área de melhoramento de cafeeiro da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).
Além disso, outros melhoramentos perseguidos referem-se ao desenvolvimento de plantas mais baixas. Pois elas facilitam a colheita, resistem a pragas (como os nematoides, vermes do solo, e o bicho minerador). E, ainda, com sistema radicular mais eficiente na captação de água.
“Além do mais, buscamos por características que diminuam a necessidade do uso de agrotóxicos”, completa César.
Cafeína
Por vezes, há, ainda, desenvolvimentos de cultivares descafeinadas ou com teor menor de cafeína no fruto. Assim como daquelas com frutos maiores, que geram sementes de peneira maior. E, embora não com a mesma importância, os estudos também buscam por características de qualidade da bebida.
Por fim, para o futuro que já acontece nos laboratórios, uma das linhas de pesquisa é a de cruzamentos com outra espécie de café: a Coffea liberica. Cujo sistema radicular é capaz de buscar água em camadas mais profundas do solo.
Cultivares de café e suas curiosidades
Typica
Foi a primeira cultivar a chegar ao país, trazida das ex-Guianas por Francisco de Melo Palheta. Na atualidade, pois, plantam em alguns estados do Nordeste, como Pernambuco.
Bourbon
Em suma, é uma mutação natural do typica e aparece no Brasil por volta de 1850. Atualmente, é padrão de café de qualidade no mundo
Sumatra
Posteriormente trazido pelo governo brasileiro no fim do século 19.
Mundo Novo
Em síntese, desenvolveram no IAC após identificação na região de Urupês (SP). Então conhecida como mundo novo e resulta de um cruzamento espontâneo dos cafés sumatra e bourbon.
Outros exemplos
Icatu
É, portanto, um híbrido de arábica com canéfora mais resistente à ferrugem.
SH3 catuaí
Desde já, é imune à ferrugem e tolerante à seca.
Tupi
Acima de tudo, é o cruzamento com híbrido de timor, que tem canéfora em sua genética. E é resistente à ferrugem.
Apoatã
Com frutos arábica, por exemplo, é enxertado em robusta para ter resistência a nematoides, que não atacam a raiz dessa cultivar.
Agora que você sabe como nasce um novo café, aproveite para degustar uma xícara da bebida.
Extraído do hub do café