Apesar do balanço favorável, ao completar 365 dias desde que foi iniciada, a campanha enfrenta desmobilização entre os mineiros
Por SIMON NASCIMENTO – 18/01/22 – 03h00
“A gravidade dos casos diminuiu. Os mais graves hoje são aqueles que não acreditaram na vacina ou não tomaram a segunda dose. Estamos vendo o resultado”. O relato é da técnica de enfermagem do Hospital Eduardo de Menezes Maria Bom Sucesso Pereira, de 58 anos, que há exato um ano atrás foi a primeira a receber uma dose da vacina contra a Covid-19 em Minas Gerais.
De 18 de janeiro de 2021 para cá, o Estado contabiliza mais de 36 milhões de doses aplicadas e uma redução de 94% na média móvel de mortes pela doença. O índice saiu de 116, há um ano atrás, para 6,6 nesta segunda-feira. Outro fator positivo e que reforça a eficácia dos imunizantes é a diminuição das hospitalizações entre os vacinados. Em Belo Horizonte, segundo a prefeitura, 81% das pessoas internadas não se vacinaram ou receberam apenas uma dose de imunizantes.
Apesar do balanço favorável, ao completar 365 dias desde que foi iniciada, a campanha enfrenta desmobilização entre os mineiros, refletindo em um aumento na transmissão do vírus, com a disseminação da variante ômicron, e da demanda por atendimentos em enfermarias. Em Minas, a previsão é de que até o final de janeiro seja alcançado um recorde de casos positivos de Covid-19 desde o início da pandemia, conforme a Secretaria de Estado de Saúde.
“Imagina vivenciar a ômicron sem vacinação com essa capacidade indiscutível de transmissão? Se não fosse a vacinação estaríamos em um pesadelo dobrado”, analisa o chefe de triagem de doenças infecciosas da Universidade de Pernambuco, Filipe Prohaska.
Alívio
A estudante Bárbara Luiza Marques, de 18 anos, vivenciou na pele a eficácia da imunização completa. Ela se contaminou antes e depois de se vacinar contra a Covid-19. A primeira infecção foi em fevereiro de 2021, e a segunda na última semana. “Da primeira vez eu tive todos os sintomas, muita dor no corpo, dor de cabeça, perdi olfato e paladar por mais de um mês, muita febre”, conta. O fator psicológico também foi um sintoma relatado por ela. “Foi horrível, aterrorizante. Fiquei com muito medo porque a gente não sabia direito como era a doença”, relembrou.
Na segunda contaminação, já imunizada com as duas doses, os sintomas foram passageiros e semelhantes ao de um resfriado leve. “Até achei que poderia ser uma crise de rinite”, compara. Cenário parecido foi vivenciado pelo professor de inglês Augusto Henrique Neiva, de 29 anos. O primeiro diagnóstico positivo para Covid-19 veio em maio de 2020, mas com sintomas leves.
“Fiquei muito preocupado, não sabia as consequências e sequelas da doença ainda. Apesar de estar bem fisicamente só tendo febre e tosse, minha mãe era do grupo de risco e tive muito medo de que ela se contaminasse”, assinalou Augusto que vivenciou um período curto de sequela, após o fim da infecção, de cansaço anormal. “Sentia que estava cansado mais rápido do que antes”. Já no segundo teste positivo, que veio ao final de dezembro deste ano, o resultado veio acompanhado de tranquilidade pelo fato da mãe já ter sido imunizada com as três doses.
Vacinação desacelera
Apesar da adesão maciça da população, com mais de 86% do público alvo vacinado com as duas doses, a campanha de vacinação contra a Covid-19 desacelerou em Minas Gerais. Desde outubro de 2021, a média móvel de novas aplicações caiu no Estado. A maior baixa ocorreu a partir de dezembro. De acordo com o vacinômetro da pasta em 1 de dezembro a média de pessoas vacinadas diariamente era de 156 mil, caindo para 25 mil ao final da primeira quinzena de janeiro de 2021.
A explicação, de acordo com o relatado pelo secretário Fábio Baccheretti em coletiva no dia 6 de janeiro, está no atraso para o recebimento da dose de reforço. À época ele informou que cerca de 3 milhões de mineiros já poderiam ter recebido a terceira aplicação, mas não foram aos postos. Mas, em nota, a assessoria de comunicação da Secretaria de Estado de Saúde informou que a desaceleração pode ser explicada pelo planejamento da campanha pelo Ministério da Saúde, que disponibilizou doses da vacina para o atendimento de pessoas acima de 12 anos de idade, doses de reforço e adicionais em 2021.
“A partir do dia 14/1/2022, iniciou-se a distribuição de doses da vacina para o atendimento das crianças de 5 a 11 anos de idade”, justificou a pasta. Para o infectologista Filipe Prohaska, a tendência é de que, mesmo com atraso, a população busque a ampliação da proteção. “É muito difícil negociar com um vírus. Mas certamente essa onda da Covid vai enfraquecer, principalmente quando houver avanço na vacinação de grupos de crianças e da terceira dose”, acrescenta o médico do grupo oncoclínicas.
Mini-entrevista – Maria Bom Sucesso Pereira, técnica de enfermagem e primeira vacinada em MG.
Qual o cenário visto hoje nos hospitais após o avanço da vacinação?
Os casos que a gente está tendo são relacionados a essa nova variante, mas estão sendo mais amenos, não com a gravidade de antes. Os casos mais graves hoje são aqueles que não acreditaram na vacina ou não tomaram a segunda dose. Estamos vendo o resultado, a vacina é eficaz. Se não vacinar, não vamos ficar livre dessa doença.
Como você enxerga a negação à vacina praticada por muitas pessoas ainda, mesmo após resultados tão positivos?
A vacina não é para proteger só a mim. Estando imunizada eu vou proteger também a minha família e quem eu amo. As pessoas estão sendo egoístas, porque muitos acabam ficando assintomáticos e levando a doença para casa contaminando a família toda.
Qual o sentimento hoje, um ano após receber a primeira dose?
Muita gratidão. Desde que me vacinei trabalhei mais tranquila, sabendo que não teria a doença grave. Foi um alívio imenso e uma felicidade muito grande ser a primeira vacinada. Aquela luz no fim do túnel que a gente tanto falava apareceu. E se preciso for eu tomo até 10 doses.
Extraído do Jornal O TEMPO