Superintendente comercial da Cooxupé, Luiz Fernando dos Reis traz um panorama sobre as movimentações ocorridas neste ano no setor
Por Redação
O Hub do Café apresenta aos cooperados da Cooxupé uma análise de como o mercado de café se comportou ao longo de 2023. E, ainda, quais são as perspectivas para 2024. Em entrevista à Folha Rural de fim de ano, pois, o superintendente comercial da cooperativa, Luiz Fernando dos Reis, pontua muitos desafios e a importância do cooperativismo na vida do produtor. Isso diante de cenários de volatilidade do preço do café, clima adverso e exigências dos países consumidores do café brasileiro.
Acompanhe a seguir os detalhes sobre o mercado de café:
1. Como o mercado de café se comportou ao longo de 2023?
Luiz Fernando: Foi um ano de muita volatilidade nas cotações. Antes de mais nada, o café na bolsa de Nova Iorque chegou à máxima de USC 207,45 cents/libra e mínima de USC 142,05 cents/libra. Enquanto uma bica tipo 6, bebida dura, oscilou entre R$1.200,00 e R$770,00.
Além disso, tivemos e ainda temos um mercado muito desafiador, com uma nova estrutura de negócios a qual fomos nos adaptando. Desde o final do ano passado, houve uma grande mudança na demanda, com maior utilização do estoque disponível no destino. Assim, todas as empresas comerciais e indústrias diminuíram significativamente seus estoques em decorrência de custo financeiro alto e mercado sem “cash and carry”.
Dessa forma, iniciamos a safra 2023 com uma perspectiva um pouco melhor quanto a volume, em comparação as duas últimas duas que tivemos (anos 21 e 22), confirmada agora no seu encerramento. Entretanto, com preços ajustados para baixo e, com isso, cafeicultores perdendo margens.
Já no segundo semestre, tivemos um mercado mais ativo quanto a negócios, com produtores e compradores (indústria) participando um pouco mais das oportunidades, cada um em seu momento.
2. Quais os principais impactos em relação à queda de preço ocorrida ao longo de 2023?
Analiso dois principais impactos quanto à queda nos preços, falando especificamente do café arábica.
Primeiro: Perda de renda dos produtores, que passaram a administrar o risco em relação à margem melhor vista no ano passado.
Segundo: olhando pelo lado positivo, abre-se uma oportunidade do produtor de arábica começar a ver uma reavaliação dos blends internacionais. Que mudaram muito nos últimos anos devido ao alto custo do arábica, com a indústria adicionando maior porcentagem de robusta.
No entanto, é muito importante ressaltar que o cafeicultor brasileiro recebe entre 85 a 90% do valor exportado por saca de café arábica, o que permite mais renda, investimentos e melhor qualidade de vida. Enquanto em outros países produtores os cafeicultores recebem muito menos. Este cenário torna o Brasil mais competitivo.
3. Como os cooperados da Cooxupé reagiram ao cenário de queda de preço?
Primeiramente, a cooperativa defende o interesse de seus cooperados, e é certo que não queremos vê-los perdendo margem. Porém, os altos preços vistos recentemente foram impactados fortemente em decorrência de fatores climáticos, que provocaram baixíssimas safras de arábica.
O que estamos trabalhando com nossos associados, pois, é para que retomem a produtividade e olhem sempre as margens. Assim, aproveitando as boas oportunidades de mercado, não se endividando, fazendo investimentos necessários. Mas, além disso, sempre com o “pé no chão”, olhando constantemente para frente. É melhor ter uma produtividade média boa que no final é isso que vai pagar a conta.
4. Como podem ser avaliadas as exportações de café da cooperativa ao longo de 2023?
No caso da Cooxupé, passamos por um primeiro semestre muito fraco em decorrência do forte volume exportado no ano anterior. E, também, devido à baixa safra colhida no ano passado.
Primordialmente, não havia café disponível até a entrada da safra. A partir daí, então, o fluxo comercial melhorou. Mas, nos últimos meses, estamos enfrentando muitos problemas logísticos e falta de contêineres que também estão impactando os embarques.
5. Como a Cooxupé está enxergando o mercado asiático?
Estamos avaliando possibilidades de maior participação no mercado asiático, especialmente na China. De antemão, já temos um importante volume de negócios com cafés destinados aos chineses. E, como se trata de um mercado muito promissor, não podemos deixar de olhar com atenção.
Diante disso, criamos um projeto que visa buscar mais oportunidades comerciais para a Cooxupé. Seja ampliando participação em mercados onde há essa possibilidade, assim como a abertura de novos mercados.
6. Em relação aos países que já são compradores do café da Cooxupé, quais são as avaliações?
Mesmo com o desenvolvimento de novos mercados, ainda há grande concentração dos principais compradores de café do Brasil. No caso da cooperativa, portanto, metade do café arábica produzido por nossos cooperados ainda tem como principal destino o bloco europeu.
Nesse sentido, outros 30% destinados para os Estados Unidos e Canadá. E, ainda, o restante para os demais países, principalmente asiáticos.
Ou seja, uma observação interessante é que, nos últimos anos, constatamos exportações de café brasileiro para outros países produtores também. Como, por exemplo, a Colômbia.
7. Quais são as principais exigências do mercado internacional para comprar o café da Cooxupé?
Sempre teremos desafios e exigências para atender às demandas do mercado internacional. Cada vez mais, os países querem ter a certeza de que estão recebendo um produto que foi produzido respeitando as boas práticas agrícolas. E, nesse sentido, como somos uma cooperativa, temos total rastreabilidade dos cafés produzidos por nossos cooperados. A princípio, é um longo trabalho, em que temos que levar todo apoio aos produtores para que atendam tais exigências.
Outro exemplo: recentemente, o parlamento europeu aprovou uma lei em que alguns produtos, entre eles o café, que forem exportados para a Europa, a partir de janeiro de 2025, tenham a comprovação que foram produzidos em áreas livres de desmatamento. Com risco de multas a ações punitivas muito pesadas. Provavelmente, essa será uma tendência também para outros mercados e temos que nos preparar.
8. A sustentabilidade, por certo, é uma grande exigência do mercado internacional. Como está a adesão dos cooperados da Cooxupé junto ao Protocolo Gerações?
É um caminho sem volta! Cada vez mais, pois, o consumidor quer saber como é produzido o café que ele está tomando. Dessa forma, nasceu a ideia de criar um protocolo próprio da Cooxupé: o Gerações. Que é um projeto inclusivo, transparente e que ofereça oportunidades a todos os cooperados de se adequarem para acessá-lo.
Portanto, nosso objetivo de adesão neste ano foi superado e nossa avaliação é muito positiva. Apresentamos o Protocolo Gerações ao mercado de café em maio deste ano e, agora, estamos conversando com nossos clientes para que façam parte desse grande projeto. Que visa gerar valor para a cadeia de café com ações hoje que garantirão um futuro melhor. Do mesmo modo, já comercializamos e embarcamos café chancelado por este protocolo para alguns clientes europeus.
9. Quais os principais efeitos positivos já sentidos frente ao mercado de café com a implantação deste protocolo próprio?
Definitivamente, o mais importante é gerar mais oportunidades para o café produzido por nossos associados. Criando, assim, um mapeamento dos atendimentos aos requisitos estabelecidos no Protocolo Gerações. Isso através de boas práticas adotadas para que gere valor e reverta a quem se esforçou para atender o que foi proposto, que é o cooperado. Em suma, acreditamos muito nisso e estamos muito otimistas com esse grande projeto.
10. Quais são as perspectivas para o ano de 2024? Quais pontos o cooperado precisa estar atento?
Primeiramente, para se produzir, precisamos de um clima favorável. Então, espero que não tenhamos problema nesse sentido. Ademais, nosso associado precisa ficar muito atento às oportunidades de negócios, olhando a margem, e não ficar olhando para trás. Por fim, cuidar dos custos e recuperar bons níveis de produtividade complementam a “fórmula do sucesso”.
11. Qual mensagem você passa aos cooperados?
Após dois anos muito difíceis com a produção de café, clima totalmente adverso e muitas dificuldades, tivemos um ano com uma safra melhor. Nesse sentido, trabalhamos com um produto que é muito bem aceito em todas as partes do mundo e com grandes oportunidades pela frente.
Sobretudo, somos sustentáveis e estamos mostrando isso ao mundo. Acreditamos muito na cafeicultura, no mercado de café e no cooperativismo. Precisamos nos fortalecer cada vez mais e o cooperativismo é, certamente, uma excelente maneira de nos organizarmos. E gerarmos cada vez mais valor para nossos cooperados.
Além disso, temos muitas coisas boas vindo pela frente. A Cooxupé está avançando em estudos quanto a sequestro de carbono no solo da cafeicultura. E podemos adiantar que, até o momento, os resultados são fantásticos.
Para finalizar, nunca podemos nos esquecermos que o foco do associado é produzir, atendendo toda a demanda do mercado internacional com qualidade, sustentabilidade através das boas práticas agrícolas.
E mantendo, ainda, níveis de produtividade com o apoio da cooperativa para que o cooperado gere renda, faça investimentos e tenha cada vez mais uma melhor qualidade de vida.
Em conclusão, aproveitamos a oportunidade e agradecemos a confiança de todas as famílias associadas. Desejamos boas festas e que 2024 venha com todos os seus desafios e oportunidades. Lembrem-se sempre: quando estamos juntos, somos mais fortes!
Extraído do hub do café
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