RENDA CORROÍDA

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Inflação faz poder de compra despencar e esvazia carrinho do supermercado

Dólar alto é o principal vilão da atual inflação no Brasil
Por CINTHYA OLIVEIRA
07/04/21 – 07h30

Luciana Moura teve que cortar carne vermelha e consumir produtos mais baratos no supermercado para poder pagar as contas – Foto: Fred Magno

A inflação tem sido cruel até mesmo para famílias que não tiveram de lidar com o desemprego. É o caso do protético Robson Magalhães, que é autônomo e precisa rodar por diversos endereços para atender aos dentistas parceiros. “Ano passado, por mês, eu gastava R$ 400 com gasolina. Agora, mesmo saindo menos de casa, já estou gastando R$ 600 (50% a mais)”, conta.

A mulher dele, a professora Anita de Paula Sá, relata que as compras de supermercado foram adaptadas porque o dinheiro encolheu. “Antes fazíamos compra de mês, deixávamos a dispensa cheia, mas agora fazemos compras semanais com dinheiro contado. A internet não tivemos como cortar, porque dou aula virtualmente, mas trocamos por um plano mais barato”, explica.

Sem muita margem para cortes nos gastos, a classe média tem feito o possível para economizar especialmente no supermercado. O jeito é priorizar alimentos essenciais – como o arroz, que chegou a subir 69% – e deixar para trás o que pode ser considerado supérfluo. Quanto mais baixa é a renda familiar, mais a elevação de 14% nos alimentos provoca impacto no orçamento.

A professora Luciana Moura precisou investir em aulas particulares para dar conta de pagar todos os boletos. Como não é possível cortar gastos mais altos, como internet e plano de saúde, ela fez as adaptações na lista de compras de alimentos. “Cortamos a carne vermelha, passamos a escolher os produtos mais baratos no supermercado. Se dá vontade de comer uma pizza, você pensa duas vezes se aquele dinheiro não vai fazer falta na hora de pagar uma conta”, relata.

E a coisa fica mais complicada quando acontece um gasto de emergência. “Meu filho precisou fazer uma cirurgia de hérnia no mês passado. E tivemos que comprar os remédios, que estão muito caros, além de ter gastos com deslocamentos para o hospital. Você acaba usando o cartão de crédito, dividindo e fazendo adaptações no orçamento”, completa Luciana.

Servidor público do Estado, Felipe Brait se considera um privilegiado neste momento de crise sem precedentes por ter estabilidade no trabalho. Mas sem reajuste salarial, ele viu sua renda encolher dia a dia e precisou mudar os hábitos de consumo para não fechar o orçamento no vermelho.

Para economizar, passou até a valer a pena andar mais quarteirões até um supermercado, visando pagar menos em artigos que ele antes adquiria na padaria mais próxima. “Economizo o que posso nos pequenos detalhes. A compra de supermercado do mês que antes dava R$ 500, agora não dá menos de R$ 700. Eu tenho uma filha pequena e já não acho mais promoções de leite, fralda e coisas de bebê como antes, o gasto também subiu com isso”, relata.

DÓLAR ALTO É O GRANDE VILÃO DA ATUAL INFLAÇÃO

O dólar alto é o grande vilão nesse atual contexto de inflação, de acordo com o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG Frederico Gonzaga. A moeda americana a R$ 5,60 impacta todos setores da economia brasileira, seja por causa dos produtos importados (como trigo) ou dos valores tabelados internacionalmente (como combustíveis).

E isso está diretamente relacionado ao descontrole da epidemia de Covid no país. “O Brasil tem assistido a uma fuga de capitais porque há um temor no investidor estrangeiro. Sem controle da Covid, a crise econômica se arrasta por mais tempo”, explica Gonzaga. “O investidor foge para onde há estabilidade, tirando recursos do Brasil e apostando nos Estados Unidos, por exemplo”, diz.

Para ele, uma solução viável para estimular o crescimento do país e atrair investimentos seria se inspirar no plano de Joe Biden, que vai injetar US$ 2 trilhões na economia americana. Algo como a política do New Deal, implementada por Franklin Roosevelt nos anos 1930.

“É o chamado ‘spend and tax’, onde primeiro se gasta e depois, com o aumento do Produto Interno Bruto (PIB), se tem uma maior receita”, explica o professor. “Isso talvez aumente a dívida pública, mas não existe outra alternativa. Do contrário, não vamos conseguir sair dessa grave crise”

Transcrito do jornal O Tempo

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