Entrevistamos o Diretor da Fundação Allan Kardec, o Sr. Mario Arias Martinez, para conhecer melhor a reformulação que a instituição está passando. Vamos conhecer o novo projeto.
Terceiro Setor – Como vai acontecer este processo?
Mario – Estamos aqui, neste momento de reformulação total da Fundação. A nossa equipe está a frente da nova diretoria há 06 meses. Estimamos, mais ou menos, uns cinco anos para colocar em prática esta mudança, mas, dependemos das questões governamentais caminharem para que a gente ande com o projeto. O que você vê funcionando aqui hoje, daqui há cinco anos será totalmente diferente.
Terceiro Setor – Quais serão estas mudanças?
Mario – É um processo de grande impacto, não só para a Fundação, mas para a cidade. Vamos mudar completamente a forma de assistência ao transtorno mental. Isto é uma Lei Federal, estamos nos adaptando a esta lei. Estamos juntando partes de experiências de vários lugares em um projeto só. Ao dar certo, teremos um modelo em Franca que não terá em nenhum lugar no Brasil.
Hoje a Fundação tem a clínica particular com 30 leitos de geriatria e 40 leitos de psiquiatria. Temos o Hospital psiquiátrico SUS, que é o nosso maior volume aqui com 200 leitos de psiquiatria e 30 leitos do hospital dia. Somos em 285 colaboradores, temos um faturamento de mais ou menos R$ 1.000.000,00 mensais. Temos um déficit que é suprido com a clínica particular e com as doações que recebemos. Este é o nosso contexto geral.
Nós estamos vivendo uma reforma chamada “reforma psiquiátrica”. Ela começou em 2001, com a Lei 10.216, que é a Lei mais famosa desta reforma, e institui uma nova forma de cuidar do paciente com transtorno mental. Esta lei vem casando com aquela luta antimanicomial, com ideia de reduzir os leitos nos hospitais psiquiátricos, fechar todos os hospitais psiquiátricos, propor uma nova forma de atendimento, com outros equipamentos espalhados que suprem a necessidade do hospital psiquiátrico, como a gente conhece. Esta lei culminou no que se chama RAPS (Rede de atenção psicossocial), uma rede que vem substituir os hospitais psiquiátricos. Esta rede funciona da seguinte maneira. O paciente teve um problema, um surto, ele vai para a Unidade de Atendimento (UA), no caso de Franca a Alvaro Azzuz ou uma das UPAS. Hoje já é assim. De acordo com o atendimento dispensado ou ele volta para casa ou vem para o Hospital Allan Kardec. Segundo a nova lei, como não terá hospital psiquiátrico, estas internações devem ser em hospitais gerais, como Santa Casa. O problema é que estes hospitais gerais não têm leitos e estão relutando muito em criar leitos para esta finalidade, que é um problema por ser um público muito específico, mas, é a lei. Nós vamos entrar no sistema de regulação de vagas, que, a princípio, a Santa casa de Igarapava vai credenciar 10 leitos. Então vai abrir estas vagas, diminuindo alguns leitos para nós. A tendência é, amanhã a santa casa de Franca abre mais leitos, diminui os nossos leitos aqui, a Santa casa de Patrocinio abre mais leitos, diminui aqui, enfim, até que a gente não tenha mais leitos aqui. Outro equipamento do RAPS é o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) que substitui, em parte, o atendimento hospitalar. É uma equipe multidisciplinar que recebe o paciente com trastorno crônico e faz o atendimento similar. Outro equipamento são as residencias terapeuticas para os moradores daqui, onde são acompanhados por um cuidador durante 8 horas, depois ele vai embora e as pessoas ficam ali na casa, é um processo de ressocialização destas pessoas. Residência 2- tem além do cuidador por 8 horas e um enfermeiro por 24h.
A partir de então, vislumbramos o futuro da Instituição. Começando pela clinica: 30 geriatria, 40 psiquiatria. Vamos aumentar a clínica para 30 leitos de longa permanência, que são cuidados paleativos e reabilitação. Vamos aumentar a clínica particular para sustentar o resto da estrutura. A previsão é que daqui 03 anos, seja uma fundação auto sustentável, ou seja, sem depender do governo e depender pouco da sociedade para tocar nossas atividades. É uma luta do terceiro setor; As internações SUS tendem a diminuir até chegar a zero; Residencia integrada que são os moradores remanescentes, que não conseguem se adaptar lá fora; Em negociação com a prefeitura, no prazo aproximado de 01 mês devemos assumir o CAPS III com 150 pacientes dia, 3.800 procedimentos mês. O CAPS é o coração deste projeto.
A grande mudança da nossa Fundação é o Desenvolvimento Humano. Ele visa o acolhimento e a Integração social do individuo. É um trabalho filantrópico nosso. São vários degraus. Degrau I – Terapêutico: para aquele que está começando o processo ou que tem uma deficiência mais crônica. Participa de uma terapia ocupacional, sem uma cobrança de produção ou carga horária. Este trabaljho será realizado no CAPS;
Degrau II – São oficinas especializadas, com horário de trabalho e uma produção industrial comercializadas. Toda renda gerada aqui, 60% fica para o paciente e 40% fica para a rede; Degrau III – Parceria da Fundação com empresas e o Ministério do Trabalho, onde a empresa monta uma unidade aqui dentro, dando ao paciente autonomia na atividade desenvolvida e uma carteira assinada; Degrau IV: Capacitação. Vamos montar salas de aulas técnicas, fazer convenio com o SENAI, SENAC e SEBRAE para capacitar estas pessoas para inserí-las no mercado; Degrau V – É quando a pessoa se desmama daqui. Ela vai para dentro da fábrica. Está pronta para ir para a vida lá fora.
O nosso propósito aqui é a Humanização.