Quais os efeitos no El Niño na cultura do café?

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Temperaturas muito acima do normal e padrão irregular de chuvas podem ameaçar o desenvolvimento da safra 24/25 no Brasil

Por Redação

O café ficou sujeito aos impactos negativos do La Niña nas últimas três safras, e o El Niño também pode representar uma ameaça para o desenvolvimento da safra. Desde já, por ser uma cultura perene, o café é mais vulnerável a anomalias climáticas, uma vez que tais eventos podem impactar não apenas a safra atual, mas também as próximas.

Com isso em mente, é importante destacar que a safra que seria mais afetada pelo fenômeno é a safra de 2024/2025, já que a expectativa é que o fenômeno fique ativo apenas no segundo trimestre. A constatação está no novo relatório “El Niño e seus efeitos no mercado de commodities”, lançado pela hEDGEpoint Global Markets.

Cenário

“A princípio, o El Niño diminuiria a probabilidade de geadas no Brasil, com temperaturas mais quentes durante o outono e o inverno. Por outro lado, se o inverno for mais seco do que a média, além do clima mais quente, a umidade do solo e as reservas de água podem ser impactadas negativamente. Ainda assim, essa não é uma ameaça imediata, já que essas reservas estão suficientemente altas com as chuvas recentes. Seria preciso uma ocorrência extrema para mudar esse cenário”, observa Natália Gandolphi, analista de Café hEDGEpoint Global Markets.

Pós-florada

Nesse sentido, passando do período de crescimento vegetativo para o de pós-florada, a visão do El Niño muda drasticamente. Posteriormente, há temperaturas muito acima do normal durante o enchimento e maturação dos frutos podem ameaçar o desenvolvimento.

Além disso, se o fenômeno afetar também o regime de chuvas, pode levar a um período mais seco, ameaçando a visão otimista para a produção em 2024/2025.

“Historicamente, o El Niño aconteceu nos anos 03/04, 07/08, 10/11 e 16/17 durante os principais períodos de desenvolvimento (pós-florada até a maturação)”, lembra Gandolphi.

Logo depois, a analista de café acrescente. “16/17 é um outlier quando comparado aos outros ciclos, pois a produção estava se recuperando das quebras de safra 14/15 e 15/16. Esses foram os mais afetados pela seca de 2013, que aconteceu em um ano Neutro-ENSO, o segundo ano com maior anomalia positiva de temperatura para status ENSO neutro em mais de um século. Ambas as safras também foram afetadas pelo cenário neutro-positivo, que antecedeu o El Niño”, ressalta.

El Niño

Em média, sem considerar a safra 16/17, a produção de arábica caiu 5% nos anos de El Niño (em comparação com a safra anterior de bienalidade correspondente).

Bem como durante anos neutro-positivos e El Niño, a queda média é de 4%.

Já para o conilon, a produção caiu 10% a/a nos anos de El Niño e 3% nos anos neutro-positivo e El Niño.

Ainda que as últimas três safras tenham sido afetadas negativamente pelo fenômeno La Niña, o El Niño se mostra também relevante para a safra brasileira.

Produção de café – Chuva no cafezal

O fenômeno preocupa, pois, em relação à produção de café na América Central.

No geral, as temperaturas tendem a ser mais altas do que a média durante os meses de florada e desenvolvimento dos frutos. E a precipitação tende a ser abaixo da média, especialmente no trimestre de junho a agosto.

Tomando como exemplo Honduras e comparando anos semelhantes que foram neutro-positivos ou ativamente afetados pelo El Niño, os níveis de chuva em julho e agosto tendem a ser preocupantes.

Desenvolvimento

Ainda assim, usando como proxy o principal produtor da América Central, temos dois ciclos em que o desenvolvimento foi diretamente afetado por um El Niño ativo: 02/03 e 15/16.

A princípio, no primeiro, a produção caiu 11%; no último, aumentou 13%. Porém, destacamos que a região estava se recuperando da ferrugem do café, inflando as taxas de crescimento a/a de 13/14 a 16/17.

“No entanto, a região também teve seus principais estágios de desenvolvimento afetados por um status neutro-positivo. Quando há um aviso ou alerta de que o fenômeno provavelmente se tornará ativo. Na média, considerando todos os anos-safra afetados pelo El Niño ou status neutro-positivo, a produção do país caiu 3%”, explica Natália Gandolphi.

Chuvas

Em conclusão, o risco reside principalmente no fato de que a florada pode acontecer conforme o esperado. Mas, as chuvas que deveriam ocorrer durante o enchimento dos frutos acabam vindo abaixo do normal.

Sobretudo, isso pode levar a cerejas menores e, consequentemente, rendimentos mais baixos.

“Para simular o possível impacto que o El Niño pode ter no próximo ciclo, consideramos o impacto médio histórico do fenômeno, usando Honduras como proxy da América Central. Isso poderia significar um impacto de -833 mil sacas no ciclo 23/24”, finaliza a analista de café.

Extraído do hub do café

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