A Prefeitura Municipal de Monte Santo de Minas, por meio da
Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Turismo, Esporte e Desenvolvimento,
e do Departamento de Cultura, Turismo, Indústria e Comércio, lançam o projeto
“Histórias da Nossa Gente”. Essa ação tem como objetivo retratar a memória das
famílias do Município e do Distrito e também apresentar novas histórias da
população aos munícipes.
Esse projeto foi dividido em diversas frentes. Uma delas é a homenagem da
Prefeitura Municipal aos munícipes com 100 anos de idade ou mais. Uma das
formas desta homenagem é o registro historiográfico de suas lembranças de vida.
Para realizar esta atividade, foi utilizada a história oral como forma de pesquisa
e registro.
Esta metodologia é realizada através de entrevistas gravadas com pessoas que
possam testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de
vida ou outros aspectos da história contemporânea. Tal metodologia começou a
ser utilizada nos anos 1950, após a invenção do gravador, nos Estados Unidos,
na Europa e no México, e desde então difundiu-se bastante. Ganhou também cada
vez mais adeptos, ampliando-se o intercâmbio entre os que a praticam:
historiadores, antropólogos, cientistas políticos, sociólogos, pedagogos,
teóricos da literatura, psicólogos e outros.
Para a realização dessa proposta, foi elaborado um questionário pelo Professor
Pedro Roberto da Silveira e enviado aos entrevistados que residem no município,
distrito ou área rural. Também foi orientado os entes familiares que gravassem
a entrevista com algum dispositivo tecnológico (como o celular) para a produção
de áudios. Após a finalização da conversa, o material produzido deveria ser
entregue no formato digital para o Departamento de Cultura, Turismo, Indústria
e Comércio.
Essa pesquisa foi preparada com a participação dos entes familiares, evitando
assim, o contato ou aproximação com o entrevistado. Vale lembrar que estamos
vivendo uma época de pandemia da COVID – 19 e, estamos atendendo as normas
estabelecidas pela Secretaria Municipal de Saúde, mantendo o distanciamento e
evitando aglomeração.
Nosso segundo entrevistado é o Sr. Graciano de Oliveira – “Fiúca”. Nessa entrevista, sua filha, Sra. Teodora Maria de Oliveira Vitório, e sua Neta Sra. Silvia, entregaram o questionário respondido de forma textual, o que torna esse testemunho um documento histórico, que será guardado no acervo do Museu Municipal Dr. Joaquim Ernesto Coelho. Assim, também poderá servir como fonte para pesquisa sobre as personalidades e o cotidiano dos nossos munícipes.
Segue abaixo o registro da entrevista do Senhor Graciano de Oliveira – “Fiúca”
GRACIANO DE OLIVEIRA – “FIÚCA” – 103 anos
Nome Completo: Graciano de Oliveira – “Fiúca”
Data de nascimento: 04 de dezembro de 1916
Natural de: Milagre
Filiação: Pai: Pierre de Oliveira
Mãe: Josina Teodoro da Costa
Profissão: Sapateiro
1. Sobre nascimento: data, local, como foi o parto (casa ou hospital)? Teve irmãos? E como era a residência durante a infância?
Nasceu em Milagre, numa roça que não tinha nome. Nasceu em
casa, de parto normal. Era o caçula de 3 irmãos: José de Oliveira, Eugenia de
Oliveira e Teodoro de Oliveira. Com 8 meses ficou órfão de mãe, falecendo ela
de febre.
Sua casa era normal: metade de pau a pique e restante de tijolos. Após a morte
da mãe foi criado por sua avó materna, justamente com seus irmãos.
2. Vida familiar (citar pai e mãe, tios, primos e como era a relação entre eles)?
Como ficou sem Mãe, seu Pai continuou com a sogra e os filhos. Era muito querido pelos primos e tios e por isso o apelido de “fiúca” muito querido por todos. Teve várias mães de leite (13) a todas chamava de “mãe” e tomava benção. Relação familiar muito boa, querido por todos.
3. Vida escolar, qual e como foi à experiência nessa fase? Como funcionava a escola? Horários e compromissos, qual disciplina que gostava mais?
Teve uma infância até os 6 anos com a família materna. Depois foi para Altinópolis, morar com os avós paterno e cursar escola. Estudou no grupo “Joaquim Alberto da Costa Jr.” cursou até a 4º série. Frequentava a escola de manhã, foi ótimo aluno, quase sempre em 1º lugar. Adorava os professores, bom relacionamento com os colegas sempre que ia à Altinópolis encontrava com os colegas e amigos. Das matérias gostava de todas, preferia o Português. Sempre pontual em seus horários e compromissos.
4. Juventude, festas, eventos e namoro – como foi vivida essa fase?
Voltou para Monte Santo, na revolução de 1932. Foi morar com a avó materna Teodora Maria Cardoso que o criou. Daí ficou aqui, cuidando dela até ela falecer. Muito novo, começou a trabalhar: no “Clube Monte Santo” (Clube Velho). Depois foi trabalhar com o Sr. Giovani Tortorelli, aonde aprendeu o ofício de sapateiro. Não era muito de eventos. Não ligava para namorar lembra-se ter namorado a Enedma mulher de Benedito Arruda, depois minha mãe (Teodora diz). Trabalhando no Clube local de jogo, ele ouvia as conversas. Conheceu quase todos da cidade “coronéis” e ficou sabendo de tudo o que se passava. Por isso conta os “causos” até hoje.
5. Casamento, como foi a cerimonia, citar os convidados… e curiosidades desta data.
Não se lembra da data. O que mais o marcou foi seu pai Pierre de Oliveira que foi no casamento. Casou-se com Arminda de Souza, filha de João Miguel de Souza e Tarcila Jesus de Souza. Não teve festa, quase teve morte (curioso) por causa do táxi, no fim quem pagou foi seu pai. Convidados: Odoni Viani, Maria dos Anjos (não lembra) os da minha mãe.
6. Filhos citar os filhos (quantos e como estão hoje)?
– Teodora Maria de Oliveira Victório – casada e viúva de
Hamilton de Oliveira Victório, professora e aposentada, 3 filhos: Sérgio,
Sílvia e Sandra todos vem trabalhando e 3 netos: Laura, Ana Vitória e Tufi.
– Maria Helena de Oliveira – Solteira aposentada ex-funcionária do Instituto da
Criança (hospital clinicas) São Paulo. – Pedro Américo de Oliveira – advogado
falecido, Nerci Alcântara – doméstica falecida, filhos: Gustavo, Fernanda e
Felipe, netos: Pedro, Rafael, Júlia e Gabriel. – José Américo de Oliveira –
aposentado, trabalhava na parte financeira em uma agência de turismo. Casado
com Neusa Maria Rodrigues de Oliveira professora aposentada e trabalha
atualmente no “Centro Educacional Alcides de Paula Braga”, filha: Rita de
Cássia Rodrigues de Oliveira Paulino, netos: gêmeos Felipe e Tiago. – Antônio
Edward de Oliveira – advogado aposentado, Sandra Reis – dona de casa, filhos:
Iberê, Otávio e Lysias. Netas: Maria Clara e Valentina.
– Lúcia Maria de Oliveira- aposentada do INSS e trabalha atualmente com os
médicos dos “INCOR”HR.
7. Saúde: como foi sua alimentação?
Para viver até 103 anos, ter muita saúde, alimentar-se bem e saber viver.
8. Religiosidade: qual a igreja que frequenta?
Católica, não frequenta (quando criança, foi coroinha)
9. Recordações do município. Locais, acontecimentos, inauguração, festas…
Tinha muitas festas. Procissão saindo da Igreja São Francisco, hoje o Seminário. Festas juninas. Quem comandava as festas era o “Padre Celso Pára”, aconteceu uma catástrofe com ele e veio substituí-lo o Padre Pereira, meio nervoso mas ficou aqui uns 4 anos e começou a Matriz. Não terminou… Tinha: Cinema, Associação Comercial, Jardim Velho, Estação Mogiana. Depois que o Padre Celso morreu, começou o carnaval: Belém, Braz e Flor do Sertão era uma rivalidade total. Com o tempo foi acabando. Depois de vários anos recomeçou o Belém e Braz que permanecem até hoje.
10. Situações familiares ou de pessoas queridas que se emocionasse (fatos se quiser contar)
Situação: pobres… pobres… faziam o que dava para viver. Sempre muito querido, vários amigos de verdade: João Provincialli, Wilson Parisi para o que der e vier. Difícil de existir e etc…
11. Segredo para a vitalidade?
Não tem segredo, viveu a vida como ela era e como Deus preparou.
12. O que é viver bem? Dinheiro, fama, saúde ou família?
Trabalhar, ter amigos, companheiro com a família, saúde, persistência e muita fé em Deus para criar os 6 filhos que com a graça de Deus e seu esforço todos formados e bem de vida.
13. O que é preciso para viver feliz?
Com fé e muita persistência na vida, posso dizer: SOU
FELIZ! E realizado na vida.
Não tenho nada contra ninguém, levo a vida como Deus sempre quis.
14. Ter Fé é importante?
Muito importante ter fé. Nunca pode deixar de acreditar em Deus.
15. Qual o sentimento que a senhor tem por Monte Santo de
Minas?
Não é minha terra de nascimento, mas… Amo Monte Santo.
16. Frase de vida:
SOU FELIZ! FELIZ nos meus 103 anos.
Agradecemos a contribuição do Sr. Graciano de Oliveira – “Fiúca” pelo belo e valioso depoimento. São 103 anos de idade dedicados à nossa comunidade. A população de Monte Santo de Minas e Milagre tem a honra de comemorar esse momento histórico com seus filhos ilustres e queridos!
Fonte: Prefeitura Monte Santo de Minas