Presos transformam madeira de apreensão e de demolição em brinquedos e móveis

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Os itens são fabricados por 17 presos do regime fechado do Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem

 

A produção diversificada impressiona ao perceber quantos objetos podem surgir a partir de um pedaço de madeira

Parceria entre a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) tem transformado o destino de madeiras apreendidas e descartadas. Mais de mil brinquedos já foram produzidos por meio do Projeto Fábrica da Alegria.

Toras de madeira apreendidas e descartadas que corriam o risco de virar cinza estão se transformando em móveis e brinquedos fabricados por 17 presos do regime fechado do Complexo Penitenciário Nelson Hungria (CPNH), localizado em Contagem.

Os detentos estão trabalhando desde maio deste ano em uma oficina de marcenaria montada na unidade prisional, que atende aos projetos Mobiliando Sorrisos e Fábrica da Alegria, ambos da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap). O trabalho já fez o sorriso de centenas de crianças que receberam as produções exclusivas para doação.

A madeira de demolição ou ilegal vem de apreensões realizadas pela Semad. E pelas mãos dos presos os materiais se transformam em cadeiras, mesas e diversos brinquedos que vão desde bercinhos a grandes carretas. A criatividade é algo que não falta no ateliê. Até o momento foram produzidos mais de mil brinquedos e oito móveis, com meia tonelada de madeira em toras.

A iniciativa do projeto Fábrica da Alegria começou em Juiz de Fora, na Penitenciária José Edson Cavalieiri, e chegou esse ano no CPNH. Todo o material usado na produção é reciclável e doado. Além das madeiras são utilizados resto de construções, paletes quebrados, tintas, verniz e demais itens. A continuação do projeto foi aprovada pelo juiz da Vara de Execuções de Contagem, que irá disponibilizar, por meio do Conselho de Segurança da Comunidade, verba para o custeio da oficina.

Isso deixa ainda mais feliz o diretor de Atendimento e Ressocialização da Nelson Hungria, Paulo Alexandre Duarte, que assumiu o posto com a ambição de aumentar o número de presos trabalhando. A unidade é uma das maiores do Estado e também a que contém mais parcerias de trabalho.

“Estamos conseguindo muitas parcerias e mantendo as que já existem. Esse projeto tem com grande valor social, pois com ele conseguimos ajudar as instituições filantrópicas, transformando materiais apreendidos e recicláveis em brinquedos pedagógicos. Além disso, trabalhamos efetivamente o eixo da ressocialização, possibilitando ao preso oportunidade de trabalho digno e profissionalizante para que ele possa retornar ao convívio social com experiência profissional e vontade de mudar a sua trajetória de vida”, disse Paulo.

 

Pela atividade laboral os detentos recebem ¾ do salário mínimo e remição de pena – Fotos: Dirceu Aurélio/Seap

A produção diversificada impressiona ao perceber quantos objetos podem surgir a partir de um pedaço de madeira. Bonecos, palhaços, casinhas, carrinhos, motos, carretas, aviõezinhos, cavalinhos, cadeiras, trenzinhos, totó, bercinhos, entre outros.

O destino dessas pequenas alegrias são instituições de caridade como creches, escolas e, recentemente, o Hospital da Baleia, que conta com uma brinquedoteca que será abastecida por esses brinquedos e levarão sorrisos para crianças em tratamento de câncer e lábio leporino.

No último Dia das Crianças mais de 300 brinquedos foram distribuídos para os filhos de presos da unidade durante uma festa preparada para os pequenos que passaram o domingo em visita na unidade prisional.

A maioria dos presos que trabalha na oficina não sabiam nada de marcenaria, conta o diretor de ressocialização. O ensinamento e aprendizado são compartilhados. O preso que aprende a arte da marcenaria ensina aos demais e o ciclo vai se formando. Até o momento oito móveis grandes foram produzidos: três mesas, um aparador, dois bancos comuns, um banco de jardim e um jogo de mesa com quatro cadeiras.

Dentre os detentos que trabalham na oficina, Eduardo Augusto de Almeida, 38 anos, se destaca. Ele é quem desenvolve os brinquedos mais criativos. Usa da arte, que sempre esteve presente em sua vida, para criar. Começou a desenhar quando criança e antes de ser preso trabalhava como artesão, mas com madeira mais bruta.

“Eu vejo isso aqui como uma oportunidade. Ocupa meu tempo, ajuda a minha família, reduz a minha pena, além de manter vivo o meu ofício. Sou muito detalhista, gosto de fazer um trabalho bem feito. Quando eu sair, quero continuar trabalhando com isso, ter um ateliê e me manter assim, ” conta Eduardo.

Para a subsecretária de Humanização do Atendimento, Louise Bernardes Leite, boas ideias devem ser multiplicadas e replicadas em outras unidades prisionais do Estado. “Essa madeira proveniente de desmatamento irregular deixa de ficar deteriorando no tempo. O material que chega para a Seap é encaminhado para a unidade prisional, onde são feitos os móveis que doamos para as instituições filantrópicas. Isso é excelente. Ao mesmo tempo que estamos profissionalizando os presos e dando um novo destino para o material apreendido, estamos ajudando as instituições de caridade”.

Pela atividade laboral os detentos recebem ¾ do salário mínimo e remição de pena; a cada três dias trabalhados, um é remido da pena. Eles foram selecionados pela Comissão Técnica de Classificação (CTC) que avalia requisitos como segurança, comportamento, situação processual e interesse.

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