O recado deixado pelos criminosos denuncia maus-tratos contra os detentos “em especial no presídio” da cidade do Centro-Oeste mineiro
“Começamos por BH e vamos queimando de cidade em cidade até chegar em Formiga. E, quando chegarmos lá, vamos acabar com a cidade”. Assim, com uma grave ameaça, criminosos que atearam fogo em um ônibus na madrugada desta terça-feira (17), em Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte, reivindicaram melhores condições para os detentos da Penitenciária de Formiga, cidade de cerca de 67 mil habitantes na região Centro-Oeste de Minas Gerais. Pelo menos 20 cidades estão no percurso entre BH e Formiga e, portanto, compõem a lista das áreas na mira dos criminosos.
A reportagem de O TEMPO teve acesso nesta manhã ao “recado” deixado pelos dois homens que abordaram o coletivo, por volta de 5h30, na rua Perimetral, no bairro Vista Alegre, próximo ao ponto final do ônibus da linha 1750 (Águia Dourada / Estação Diamante).
No texto, os suspeitos reclamam de maus-tratos nas unidade prisionais do Estado, mas citam, “em especial”, a unidade de Formiga, dizendo que os detentos e suas famílias estão sendo maltratados.
“Nossas familias tão (sic) sendo maltratadas, e nós presos estamos sofrendo uma covardia e vivendo de um jeito desumano, único jeito de chamar a atençar de orgãos maiores foi essa, pois somos trancados aqui em Formiga e esquecem que somos gente”, dizia o bilhete.
A reportagem procurou a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e questionou sobre a situação atual da unidade prisional, número de detentos e capacidade da unidade, além de cobrar um posicionamento sobre as ameaças. Até a publicação desta matéria a pasta ainda não havia se posicionado.
A distância entre o local onde o veículo foi incendiado e a unidade prisional é de pouco mais de 200 km, com pelo menos 3h30 de viagem por carro. Nos principais percursos para Formiga estão pelo menos 20 cidades mineiras. Alguns exemplos são Juatuba, Igarapé, Pará de Minas, Divinópolis, Cláudio, Itaguara, entre outras. A Polícia Militar (PM) foi procurada, mas ainda não informou se reforçará o policiamento nas cidades sob a ameaça.
Em agosto de 2022, a reportagem de O TEMPO denunciou que a ouvidoria recebia 13 denúncia contra unidades prisionais de Minas por dia. O caso veio à tona após um grupo especializado de agentes penais ser denunciado por espancar e forçar presos a beberem urina em uma unidade do Estado.
Veículos queimados
Um ônibus e uma pick-up foram completamente destruídos durante a ação, depois que dois homens abordaram o coletivo e atearam fogo no veículo em uma rua de Ibirité. As chamas foram controladas pelo Corpo de Bombeiros e, felizmente, ninguém ficou ferido na ação criminosa.
As informações iniciais indicam que a dupla parou o veículo, entregou o bilhete, acendeu as chamas e fugiu em um carro branco. Enquanto o coletivo era consumido, houve um vazamento de óleo, que acabou escorrendo e atingiu uma Fiat Toro que estava estacionada em outra rua, a alguns metros do primeiro incêndio.
Extraído do Jornal O TEMPO