Jovem artista de Itamogi expõe pinturas criadas com café

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Aline Betito realizou sua exposição em uma cafeteria de Itamogi no dia 2 de março –  Foto: Del Negro/Fotografia

Aline Betito apresenta obras de arte inspiradas na conexão da mulher com a terra, o Divino e consigo mesma

Por: Ralph Diniz

O café, fruto que escreveu a história de um País, transformou a vida de um povo e, hoje, guia o futuro das novas gerações, é capaz se tornar arte nas mãos de uma jovem pintora de Itamogi. Aline Betito extrai a essência do grão sagrado do solo mineiro, soma a tudo ao que ebule dentro de sua alma e coloca no papel aquilo que, antes, estava plantado apenas dentro de seu coração.

No dia 2 de março, a artista expôs em uma cafeteria de sua cidade natal pinturas produzidas com tinta à base de café. As artes apresentadas ao público são uma homenagem à semana da mulher e têm como grande objetivo enaltecer a conexão feminina com a terra, o Divino e consigo mesma.

O evento, que marcou a estreia de Aline em exposições artísticas, recebeu muitos visitantes de Itamogi, São Sebastião do Paraíso e outros municípios da região – amantes da arte e, é claro, do café.  “A primeira exposição é uma experiência incrível. Quando comecei a pintar, eu nunca imaginei que, um dia, eu faria algo assim. Eu nunca mentalizei uma exposição, mas o meu coração vibra na arte, a minha mente está voltada para isso, então, querendo ou não, eu criei essa realidade. É um caminho que eu estou trilhando para seguir o meu objetivo. Temos que correr atrás dos nossos sonhos com a intuição, com o coração, com a presença do Criador e tudo flui. É um caminho pleno, próspero, com bem-estar. Tudo vai acontecendo para contribuir para o que a gente quer”, diz a artista.

Quem vê os quadros pintados com café por Aline Betito não imagina que ela desenvolveu a técnica há pouco mais de um ano, depois da indicação de uma amiga do Rio de Janeiro. “Eu pesquisei no YouTube para ver se encontrava algum artista que fazia essa tinta, mas encontrei coisas muito rasas. Eles usavam café solúvel, e eu queria uma coisa mais ‘raiz’. Aí eu fui para a prática”, lembra a artista, que foi até a lavoura da família, colheu o café, secou, torrou, e moeu o grão. Na sequência, o café é passado normalmente. Depois, a bebida volta ao fogo, onde é apurada até se transformar em tinta. E está pronta a matéria-prima. 

Mas trabalho de Aline com a tinta não termina por aí. Uma das principais características de sua arte é o jogo de tonalidades díspares dentro da mesma pintura. Isso é possível graças à torra do grão e à diluição do líquido, criando uma verdadeira aquarela de café. “A torra mais clara fica muito ‘melosa’. O açúcar fica mais concentrado, então tem que fazer uma torra um pouco mais escura para dar o ponto certo”, conta a artista, que ainda se lembra da primeira vez que conseguiu transformar o café em pintura. “Foi uma experiência intensa, porque é a minha raiz, a minha essência. Quando eu estou pintando, o cheiro do café já me satisfaz. É um prazer. E ver uma criação minha com café complementou minha vida, casou as experiências da infância com o que eu gosto de fazer hoje, adulta”.

A ORIGEM DE TUDO

Entre os quadros de Aline, há vários que retratam a realidade da vida do cafeicultor, do plantio à colheita, da abanação à xícara. E isso não se dá apenas porque a matéria-prima do seu trabalho é o café, mas sim porque ela faz parte desse meio. Filha de pequenos produtores, ela nasceu, cresceu e ainda vive na região da Gabiroba, na zona rural de Itamogi. “Pintar o mundo do café é voltar às origens. É uma peça que se encaixa na minha vida”.

A história de Aline com a pintura começou ainda na infância, graças ao presente inusitado de um padre. O sacerdote jamais poderia imaginar que plantara no coração da menina uma semente que renderia grandes frutos duas décadas mais tarde. “Eu tinha quatro para cinco anos. Me lembro que fomos à missa e, no final, ele chamou as crianças, as fez sentar à beira do altar e deu um lápis de grafite para cada uma de nós”, lembra a artista.

E foi com o lápis dado pelo padre que Aline deu os seus primeiros traços. A primeira “tela” foi a parede do quarto dos pais que, em vez de darem uma bronca na menina, permitiram que ela continuasse se expressando pelos cômodos da residência. Sorte da arte.

E por falar em infância, a de Aline foi pontuada por momentos de pura alegria e simplicidade, brincando com objetos simples como rodinhas e miniaturas de panelinhas feitas de barro, simbolizando a riqueza de imaginação que possuía desde pequena. Ela relembra com carinho as visitas à casa de sua avó, um refúgio onde galinhas circulavam livremente e o café era tomado na tradicional canequinha de ágata, uma peça rara nos lares contemporâneos.

A artista também se recorda com carinho dos períodos de colheita de café em outra propriedade, quando a família precisava arrumar as coisas e se mudar temporariamente para acompanhar a safra. “A gente arrumava as coisas, colocava os móveis em cima do trator e seguia para uma casinha que o meu pai construiu. Era tudo muito simples. Não tinha energia elétrica. Nós esquentávamos água na lata para tomar banho e a luz era de uma luminária que meu pai fazia com óleo diesel. O lampião só acendia quando tinha visita”, conta com leveza, demonstrando não apenas o espírito de resiliência de sua família, mas também a capacidade de encontrar felicidade nas circunstâncias mais desafiadoras.

E por falar em origens, a jovem traz consigo marcas de uma vida humilde e de muita luta, como a da maioria das famílias que vivem no campo. Até pouco tempo atrás, ela ainda trabalhava com os pais na roça, no cultivo do café. As mesmas mãos que são responsáveis por criar delicados traços no papel, também eram capazes de cuidar da terra, plantar e colher o fruto que traz o sustento da família e, ainda por cima, dá vida à sua arte. Porém, um problema de saúde a afastou das atividades no campo. “Foi muito difícil, mas me fez crescer muito. Apesar das dores, me sinto mais forte”, relata.

Atualmente, Aline Betito se dedica exclusivamente à arte e, quando não está criando, se debruça nos estudos para aprimorar suas técnicas de pintura, principalmente no que diz respeito aos ao realismo. Questionada sobre o futuro, ela não pensa duas vezes ao afirmar: “Vamos conquistando outros espaços. Essa é a meta. Quero estudar, sempre evoluir”, conclui.

A jornada de Aline Betito, desde os primeiros rabiscos nas paredes da casa dos pais até as refinadas obras que hoje compõem seu portfólio, reflete uma trajetória de crescimento, descoberta e, acima de tudo, um amor profundo pela arte e pela vida. Ela não apenas pinta; mas narra histórias, captura emoções e preserva memórias, utilizando suas telas como janelas para um mundo onde a simplicidade é a mais pura forma de beleza.

INSTAGRAN:
https://www.instagram.com/lineartbetito?igsh=c2h3bGp0N3dtajA5

Extraído do Jornal do Sudoeste

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