Sétima edição do evento, com o tema da reconstrução do Brasil e do bem viver, deve levar 100 mil pessoas a Brasília nos dias 15 e 16 de agosto.
Um cortejo de mulheres de várias organizações e sindicatos abriu e também sintetizou a audiência da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher que discutiu a Marcha das Margaridas 2023. Diversidade, união, força coletiva, luta e esperança foram palavras repetidas na reunião. A sétima edição da marcha pretende levar a Brasília nos dias 15 e 16 de agosto cerca de 100 mil pessoas.
A audiência foi realizada nesta terça-feira (11/7/23), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a requerimento da deputada Leninha (PT). A marcha, iniciada em 2000, sobretudo com mulheres do campo, acontece a cada quatro anos e presta homenagem à trabalhadora rural e líder sindical paraibana Margarida Maria Alves, assassinada em 1983.
Neste ano, as margaridas marcham “pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver”. “É um tema importante para nós que somos guardiãs desse projeto de bem viver no mundo, que buscamos paz, trabalho e segurança”, destacou Leninha, lembrando toda a diversidade de mulheres que estarão em marcha. Ela ainda enfatizou o sentido de esperança do movimento neste ano.
“Estamos celebrando a retomada do Brasil. É uma vitória da nossa luta e resistência depois de quatro anos de ataques às nossas vidas e aos nossos territórios”, afirmou, também, a deputada federal Ana Pimentel (PT/MG). Para ela, é preciso radicalizar a ética feminista e manter as mulheres mobilizadas e organizadas.
A deputada Ana Paula Siqueira (Rede), presidenta da Comissão das Mulheres, citou conquistas importantes do governo Lula, como a maior presença de mulheres nos ministérios e a retomada de conselhos, entre os quais o de segurança alimentar. “Estamos reconstruindo a democracia participativa, a soberania popular. Mas não faremos a reconstrução do país sem a democracia de gênero”, avaliou.
Também na visão da deputada federal Dandara (PT/MG), foi a luta coletiva das mulheres que garantiu conquistas como linhas de crédito e uma pasta dentro do Ministério das Mulheres voltada para o campo e para a água. “A marcha será o maior ato de rua, popular, de ocupação de Brasília neste primeiro ano de retomada da democracia”, previu.
Apesar dos avanços, desafios persistem
Mesmo destacando conquistas recentes, várias participantes enfatizaram os desafios ainda impostos às mulheres, que exigem luta constante. A 7ª edição da Marcha das Margaridas tem um pauta de reivindicações, já entregues ao presidente Lula, com 13 eixos que incluem desde a vida livre de violências até a autonomia econômica e a inclusão digital.
A pauta mineira segue a mesma estrutura, mas tem especificidades, como a demanda pela recomposição e reestruturação do Conselho Estadual da Mulheres e pela garantia de recursos para a realização das conferências de mulheres em todo o Estado. Participantes criticaram o governo mineiro pelo que consideram a falta de uma política estadual consistente na área.
“Desde 2021 o conselho não se reúne. Foi destituído. Precisamos trazer a marcha para o Estado e os municípios porque é aqui que a política acontece”, justificou Alaíde Moraes, coordenadora estadual de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais (Fetaemg). Ela citou, ainda, a dificuldade que as mulheres do campo encontram para denunciar as violências que sofrem.
“O Estado lidera o ranking de violência e vai na contramão de todo o arcabouço pensado para a política das mulheres, que é transversal”, detalhou Ana Paula Siqueira. Já o deputado Doutor Jean Freire (PT) conclamou os homens a participarem da luta das mulheres.
Preconceito e discriminação também foram pontos levantados pelas participantes. “O direito das crianças à educação do campo ficou esquecido nos últimos anos. Sem isso é difícil a mulher garantir sua independência e inserção no mercado de trabalho”, acrescentou a deputada Macaé Evaristo (PT).
Violência política
As deputadas Andréia de Jesus e Beatriz Cerqueira, ambas do PT, citaram a violência política, que impede o pleno exercício das mulheres nos cargos públicos. Trabalho escravo no campo e assassinato de jovens negros também foram pontuados.
“A marcha marca esse lugar de luta exaustiva das mulheres.” Dep. Andréia de Jesus
A secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), Maria José Morais da Costa, destacou a diversidade de mulheres na marcha. São camponesas, quilombolas, indígenas, cirandeiras, quebradeiras de coco, pescadoras, marisqueiras, ribeirinhas e extrativistas de todo o Brasil. “Precisamos nos mostrar e estar nos espaços de representação”, pontuou Maria José.
Já o pioneirismo das mulheres foi assinalado por Bernadete Esperança Monteiro, da coordenação nacional da Marcha Mundial das Mulheres. A Marcha das Margaridas de 2015, segundo ela, foi o primeiro movimento massivo a denunciar o “golpe contra Dilma Roussef”. “Fomos protagonistas do ‘Fora Bolsonaro’ e as primeiras a organizar ações de solidariedade na pandemia”, acrescentou.