Dr. Mauro Barcelos, prefeito de Patrocínio Paulista, explica para população o problema com a Santa Casa, nesta entrevista

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Patrocínio Paulista:– Na tarde do dia 16 de janeiro, estivemos no Gabinete do prefeito de Patrocínio Paulista, o Sr. Dr. Mauro Barcelos, para uma conversa sobre os acontecimentos com a Santa Casa da cidade e os projetos de sua gestão para 2018.

JFP – Qual é o seu posicionamento em relação aos acontecimentos com a Santa Casa de Patrocínio Paulista?
Dr. Mauro – A Santa Casa tem mais de 100 anos de fundação. Quando o meu pai se formou, ele veio para a cidade em 1950. Trabalhou na Santa Casa da época, que era em um determinado local. Pós sua chegada ele, juntamente com a população, os fazendeiros, começaram arrecadar recursos para fazer esta Santa Casa que temos agora. A Santa Casa tem uma fazenda também. A pessoa que fez a doação da mesma teve um câncer de próstata e o meu pai acompanhou. Como ele não tinha filhos, na época, disse ao meu pai que faria a doação para a Santa Casa para poder ajudar. Então, ela tem uns patrimônios em decorrência deste fato. Este senhor foi muito importante, tem até uma estátua dele lá na Santa Casa. Hoje a fazenda está alugada para uma usina de álcool.

A Santa Casa sempre foi uma Associação Filantrópica e todo o tempo trabalhou em prol da população mais carente. As Santas Casas têm origem de Portugal e, com a descoberta do Brasil, o governo resolveu implantar este modelo no país, pois tinham muitas pessoas necessitadas, pois, a finalidade dela é promover e dar mais assistência as pessoas mais carentes na época. Hoje nós temos, mais ou menos, umas 1.700 Santas Casas no Brasil, todas filantrópicas, realizando um trabalho importante para o SUS, onde são obrigados, por Lei hoje, fazer mais de 60% de atendimento para esta entidade. É um trabalho de saúde muito grande, que atende a cidade e a região.

Nunca tivemos problemas. Às vezes, um impasse político, alguns prefeitos que quiseram radicalizar, mas nunca um problema como este que estamos passando. Neste momento houve uma estrapolação. Sempre foi uma parceria entre Prefeitura e Santa Casa. Com 08 anos de governo que tive aqui de prefeitura, fiz um convênio com ela, onde eu repassava um recurso, aprovado pela Câmara Municipal, que proporcionava a assistência no pronto atendimento de emergência e urgência, retaguarda médica. E, além disso, fazíamos um contrato para as especialidades nas unidades básicas de saúde. E sempre funcionou muito bem, tanto que quando deixei a prefeitura, várias prefeituras quiseram saber como fazer este convênio entre Santa Casa e Prefeitura.

Aqui em Patrocínio, neste primeiro ano de 2017 correu tudo bem, e agora quando fomos renovar o contrato, não se sabe o “por que”, a diretoria administrativa da Santa Casa não aceitou o convênio. Hoje, nenhuma Santa Casa consegue sobreviver sem o convenio de Prefeitura, porque os recursos do SUS são muito pequenos. Sem a parceria com a Prefeitura, a Santa Casa vai ter muita dificuldade em trabalhar. Mas eles não quiseram. Até julho de 2017 estavam fazendo um trabalho importante, pagando os médicos de forma correta. A partir de julho começaram a fazer um pagamento que os médicos começaram a ficar insatisfeitos, por procedimentos médicos. Então, perdemos alguns médicos. No final de outubro, perdemos 01 cirurgião vascular, 02 pediatras, 01 oftalmologista. Cada especialidade recebia valor global de acordo com o contrato. A Santa Casa começou a pagar por procedimento, se o medico atendeu 40 consultas recebiam apenas por elas, sendo que no contrato o recebimento era global, independente do número de procedimentos realizados.

A parceria promove um auxílio para o plantão do pronto atendimento e a Santa Casa não aceitou. Achou a proposta ridícula. Antes um pouco do que nada e eles preferiram ficar com nada. Com isto, não renovaram o contrato, não fizeram a retaguarda. Portanto, se você precisar de uma cirurgia de alguma especialidade, terá alguma dificuldade. Tivemos várias reuniões, a diretoria da Santa Casa pediu demissão, só ficou o provedor. Toda a diretoria, tanto o Conselho Fiscal, como o Conselho Administrativo; o Conselho de Saúde é contra a Santa Casa, os vereadores são contra e o prefeito ficou contra. Nós tentamos fazer uma reeleição mudando a diretoria. A antiga diretoria queria uma nova eleição e o provedor queria recompor o conselho.

Para se ter uma idéia, na época, ele mandou embora um jurídico que recebia R$2.800,00 e contratou outro por R$ 9.000,00; mandou embora a gerente administrativa que ganhava R$ 4.000,00 e contratou outra por R$ 6.500,00; foi contratada uma consultoria, tudo sem constar em ata, começou a pagar uma pessoa para fazer captação de recursos de verbas Estaduais e Federais remunerando esta pessoa. Quem faz esta captação, geralmente, é o prefeito. Os governos vão falar e passar os recursos junto aos prefeitos, pois têm seus interesses políticos. E para isso, contam com a representatividade do prefeito das cidades e não de uma pessoa que ninguém conhece.

JFP – Esta nova diretoria, o senhor acredita que se recomponha logo?
Dr. Mauro – Entramos com uma ação cautelar para tentar promover outra eleição. Está no Fórum e estamos aguardando um parecer do Juiz.

JFP – O provedor vai continuar no cargo?
Dr. Mauro – O mais importante disso tudo é que, além do judicial, este aumento de custo da gestão da Santa Casa, não é sustentável sem a parceria da prefeitura. A parte administrativa está acima do mercado. Provavelmente, ela ficará inadimplente, talvez neste mês agora eles não consigam pagar os médicos do plantão, nas condições que ela vem atuando. É difícil você falar alguma coisa sobre este processo. Por que um provedor, que não tem remuneração, não faz uma parceria, prejudica a população que está contra, todo o conselho municipal contra, conselho fiscal contra e saiu, vereadores contra e a pessoa não pede demissão. É uma coisa muito séria que tem que ser investigada posteriormente.

JFP _ Mudando um pouco de assunto, gostaríamos que fizesse uma avaliação da gestão do ano de 2017 e os planos para 2018?
Dr. Mauro – Foi um ano difícil para todas as prefeituras do Brasil, pois nunca passamos uma recessão tão grave como esta que estamos enfrentando. Desemprego com mais de 12%, a arrecadação dos municípios diminuindo, as transferências voluntárias do governo Federal e Estadual baixando, mas conseguimos conter muitos gastos. Nossas despesas baixaram muito. Pegamos uma prefeitura, que tinha no inicio de governo, uma folha de pagamento com 53% de gastos, estava dentro do limite prudencial da lei de receita federal, e não podíamos gastar mais nada. Fizemos um trabalho sério e conseguimos chegar a 47%. Tivemos um superávit bom, já este ano, de mais de R$ 1.300.000,00. Esperamos agora com o novo orçamento, com trabalho de IPTU, creio que vamos fazer um trabalho mais justo, em beneficio da população.

Pegamos uma cidade complicada, como comentei o senador Ayrton Sandoval. A cidade ficou sem gestão nos últimos 04 anos. A prefeitura é como a casa que você mora, não precisa pintar todo ano, mas tem que ter uma manutenção em algumas áreas. Foram 04 anos sem uma pavimentação em nenhum bairro, o nosso asfalto está muito precário; o mais importante, para mim é a saúde. A saúde de Patrocínio era uma vitrine, muita gente vinha fazer cirurgias na cidade e agora estamos com este impasse com a Santa Casa. Mas, nós vamos resolver esta parte da saúde, com certeza, e começar a investir.

Para 2018 conseguimos várias verbas para a saúde, vamos comprar viaturas, ambulâncias, renovar aos poucos a frota da prefeitura. Vamos inaugurar uma creche, pedimos uma escola estadual para o governo do estado, vamos fazer uma pista de skate, quadra de esportes em bairros, temos vários projetos para executar neste ano. Eu creio que um trabalho rigoroso com um governo sério, gastando aquilo que é real, trabalhando de forma correta, cobrando dos meus assistentes o uso do dinheiro correto, com uma boa gestão, a cidade tem muito a crescer nestes próximos anos.

JFP O que o senhor pode deixar de mensagem para tranqüilizar a população quanto ao problema da Santa Casa
Dr. Mauro – Nós vamos resolver isto. Está no setor judicial e, por isso, tem todo um procedimento a ser cumprido. Creio que vai prevalecer o diálogo. Em último caso, nós vamos fazer a intervenção da Santa Casa, porque a população não pode ser sacrificada e perder este patrimônio que ela teve durante este período todo, por causa de uma pessoa e com algumas pessoas que, provavelmente, estão por detrás querendo o mal da população. Eu como prefeito, toda a minha administração e a Câmara Municipal, não pode ser conivente com este problema sério de saúde que nunca teve na cidade. Éramos um exemplo de saúde e hoje está parado ultrassom, endoscopia, videolaparoscopia, tomografia, que era para ter sido inaugurada e não foi, por problemas que queremos saber o que houve e punir, posteriormente, com processo civil e na área penal, para que estas pessoas nunca mais possam participar da área da saúde.

Quero agradecer a presença de vocês, um prazer conhecê-los. Hoje consegui recebê-los aqui, depois de um ano corrido e de muito trabalho. Muito obrigado.

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