Dirigente do Novo teria conduzido seleção de presidente

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Deputados da CPI da Cemig questionam legitimidade de empresário como interlocutor do governo.

Sócio da consultoria responsável pelo processo de seleção do presidente da Cemig, Carlos Eduardo Altona foi ouvido pela CPI nesta segunda (27) – Foto: Daniel Protzner

Em depoimento nesta segunda-feira (27/9/21) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que investiga possíveis irregularidades na gestão da Cemig, Carlos Eduardo Altona, sócio da consultoria Exec, confirmou a participação ativa do empresário Evandro Negrão de Lima, do diretório do Partido Novo, no processo de seleção do atual presidente da estatal, Reynaldo Passanezi Filho.

A ligação entre a headhunter Exec e o Novo, a legitimidade de um dirigente partidário para negociar em nome da Cemig e do governo, e a validação posterior de serviços já executados (convalidação) para suprimir mecanismos de controle pautaram os questionamentos dos parlamentares durante a reunião.

Questionado pelo relator da CPI, deputado Sávio Souza Cruz (MDB), Carlos Eduardo Altona informou que o principal contato da empresa na negociação com a Cemig era Evandro Negrão de Lima, que, apesar de não possuir qualquer vínculo com a companhia ou o Executivo estadual, era tratado como interlocutor do governo.

Foi o dirigente do Novo quem procurou a Exec para o serviço e a quem a primeira proposta da empresa, em novembro de 2019, foi dirigida. Ela foi rejeitada justamente por esse motivo, e um novo documento foi encaminhado à Cemig em janeiro, que resultou na regularização do contrato com a Exec em fevereiro de 2020, mais de 30 dias depois de Reynaldo Passanezi ter sido nomeado para o cargo.

O sócio da Exec também relatou que Evandro Negrão de Lima negociou valores e outros termos do contrato, bem como participou da definição do perfil para o cargo e de entrevistas com os candidatos que chegaram ao último estágio de avaliação. O alto comando da Cemig estaria a par da situação, ponderou o depoente.

Evandro Negrão de Lima também foi o intermediador de um contrato da Exec com o Partido Novo em Minas Gerais para a seleção de secretários de Estado, em novembro de 2018. Carlos Eduardo Altona é filiado ao partido, assim como alguns de seus sócios, entre os quais Rodrigo Forte, que foi quem conduziu, por parte da empresa, a escolha do presidente da Cemig. A Exec recebeu pelo trabalho, em um processo sem concorrência, R$ 170 mil.

A Exec também já atuou para o partido, entre 2018 e 2019, para a validação de candidatos ao seu diretório nacional e aos cargos de prefeito e vice-prefeito de capitais. Na Cemig, também participou da escolha de três diretores em fevereiro de 2020, ao custo de R$ 129 mil, sendo um deles o diretor júridico, Eduardo Soares, personagem central em um suposto esquema de contratações sem licitação na empresa.

“Chama a atenção a relação de uma empresa desse porte com uma pessoa sem procuração da Cemig. A Exec nem se deu ao trabalho de pesquisar se essa pessoa tinha autoridade para falar em nome da presidência, isso é gravíssimo”, afirmou o vice-presidente da CPI, deputado Professor Cleiton (PSB). “Dirigente partidário não negocia contrato no setor público, não faz interlocução em nome do governador. A ingerência está comprovada”, complementou a deputada Beatriz Cerqueira (PT).

Deputados cobram detalhes de contratos

Atendendo solicitação dos membros da CPI, o sócio da Exec explicou as especifidades de cada um dos dois contratos da empresa com a Cemig. No primeiro, para escolha do presidente da companhia, foi feito um detalhamento do perfil almejado, um mapeamento de mercado de nomes potenciais e entrevistas com candidatos. De uma primeira lista de 40 nomes, quatro foram selecionados para uma avaliação final, por parte da estatal.

Já no processo que envolvia a escolha de diretores, a própria Cemig apresentou 13 nomes, posteriormente analisados pela consultoria, que emitiu pareceres sobre as indicações.

Sávio Souza Cruz perguntou se não causou estranheza o escolhido para a presidência, Reynaldo Passanezi Filho, ter processado o pagamento da empresa que o indicou, ao que o depoente respondeu que não. Indagado pelo presidente da CPI, deputado Cássio Soares (PSD), se havia alguma garantia quando o serviço foi iniciado, já que não havia contrato assinado, o empresário afirmou ser essa uma prática comum em situações que envolvem urgência e sigilo.

Professor Cleiton questionou a comprovação da cobrança de valores de mercado pela Exec, tendo em vista que, contrariando a Lei das Estatais, ela teria apresentado apenas uma carta-proposta com diferentes valores cobrados por outras empresas.

Na mesma linha, Beatriz Cerqueira lembrou que, em seu depoimento, o sócio da Exec explicou que o valor inicialmente pedido pela seleção do presidente estava relacionado a uma porcentagem do salário pago para o cargo mais um bônus de oito salários, o que daria R$ 425 mil. A deputada quis saber por que, então, foi aceito o valor fixo de R$ 170 mil.

Carlos Eduardo Altona disse que, informada de que outras consultorias haviam sido consultadas pela estatal de energia, a Exec decidiu reduzir seus honorários, pelo interesse de trabalhar para uma empresa como a Cemig. 

Nesse ponto, Sávio Souza Cruz criticou a conduta do Partido Novo, classificado como liberal, de fornecer informações sobre propostas de outros concorrentes, o que indicaria o interesse pela escolha da Exec. Para Professor Cleiton, a inexigibilidade de licitação e a convalidação do contrato foram instrumentos para dar um aspecto de legalidade ao processo. Também para Beatriz Cerqueira, a população pagou por uma indicação política do Novo e do governador Romeu Zema.

Prática usual – Por outro lado, os deputado Roberto Andrade (Avante) e Zé Guilherme (PP) defenderam os procedimentos adotados pela Cemig. O primeiro destacou que o sigilo é realmente necessário na seleção do presidente de uma empresa como a Cemig, que possui ações listadas em bolsa, o que justificaria a posterior convalidação.

Ele também elogiou a inciativa pioneira do Governo de Minas de contratar consultorias para recrutar secretários e executivos e ressaltou a expertise da Exec nesse serviço. Sobre a suspeita de que tudo não passaria de fachada para a escolha de nomes pré-definidos, ele argumentou que a empresa não se daria ao papel de simular interesse em 40 nomes e criar expectativas em profissionais do mercado de trabalhar na Cemig.

Para Zé Guilherme, é normal os partidos que compõem as coligações vencedoras fazerem indicações, cabendo ao governo aceitá-las ou não.

Altona será ouvido novamente pela CPI

Ao final da reunião, a CPI aprovou requerimento para que Carlos Eduardo Altona forneça à comissão, no prazo de 48 horas, todas as informações que ele se comprometeu a apurar internamente após questionamentos feitos pelos deputados na reunião. Também foi aprovado requerimento para que ele retorne à comissão, na condição de testemunha, para prestar informações sobre os fatos que não foi capaz de esclarecer.

Outro requerimento aprovado é para que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informe se os sócios da Exec fizeram doações a partidos políticos ou candidatos nas duas últimas eleições. 

A Cemig também deverá encaminhar documentos relacionados à pesquisa prévia para contratação da empresa responsável pela seleção do atual presidente da companhia, com nomes das empresas consultadas e valores estipulados para a execução do serviço, e esclarecer por que o contrato com a Exec datado de maio de 2021 só foi assinado por Rodrigo Forte em agosto.

Quebra de sigilo – Ainda foi aprovado requerimento para a quebra dos sigilos bancário, telefônico e telemático do diretor de Regulação e Jurídico da Cemig, Eduardo Soares. A CPI constatou que ele emitiu pareceres para a contratação direta de empresas e escritórios de advocacia. Um desses contratos é com o escritório Lefosse, do qual ele foi sócio antes de assumir o cargo de diretor na Cemig, no valor de R$ 890 mil. Esse conflito de interesses pode configurar crime contra a administração pública.

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