Carlos Augusto Rodrigues de Melo e Osvaldo Bachião Filho ainda avaliam desafios e conquistas deste ano e afirmam que cooperado está participativo
Os efeitos climáticos e as questões logísticas para os embarques do café continuam sendo os principais desafios que a Cooxupé e seus cooperados enfrentaram neste ano. Entretanto, uma coisa é certa: o cooperativismo faz a diferença para encontrar soluções e superar obstáculos. Isso em uma via de mão única em busca da igualdade e do desenvolvimento das pessoas cooperativistas. Nesse sentido, a diretoria executiva da Cooxupé apontou, em entrevista, conquistas e desafios deste ano. Além, claro, das expectativas para 2025.
Em primeiro lugar, o cooperativismo vive um novo momento. Os olhos do mundo se voltam para esse movimento, reconhecendo sua importância e os impactos positivos que provoca na sociedade. Prova disso, de antemão, é que a ONU – Organização das Nações Unidas estabeleceu 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas.
Diretoria executiva da Cooxupé
Se, por um lado, os obstáculos desafiam os produtores, por outro as conquistas se sobressaem. Permitindo à diretoria executiva da Cooxupé avaliar 2024 como um ano positivo, em que o cooperado se mostrou participativo. E, principalmente, dono do seu negócio e com poder de decisão em relação ao momento de venda do seu café.
Acima de tudo, o Protocolo Gerações vem se consolidando na realidade da cooperativa e dos produtores. Ganhando, também, visibilidade nacional e internacional. Isso porque foi reconhecido por importantes órgãos. Como, por exemplo, o Ministério da Agricultura e Pecuária – MAPA e a Plataforma Global do Café. Inclusive, os órgãos consideram o Gerações pelas boas práticas agrícolas aplicadas na produção cafeeira.
Ainda no contexto das conquistas, a cooperativa pretende alavancar sua entrada no mercado de grãos em 2025. Confira, a seguir, entrevista com o presidente Carlos Augusto Rodrigues de Melo e o vice-presidente Osvaldo Bachião Filho.
Como vocês avaliam o comportamento do cooperado em 2024?
Carlos: Nossos cooperados tiveram grande crescimento na cultura da venda do café. Além de estarem muito dedicados às ações que a cooperativa promove. Tal mudança, vem ocorrendo de uns anos para cá. Porém, em 2024 o produtor foi fantástico: aproveitou o momento em que os fertilizantes estavam com preços mais baixos. Também fez muito Barter (fixação futura) para esse ano e, praticamente, já entregou tudo. Então, ele está capitalizado e sabendo mandar no seu negócio. Antes, quem mandava era o comprador. Hoje, é o produtor.
Osvaldo: De maneira geral, ocooperado tem sido exemplar e, cada vez mais, preocupado com as pautas sustentáveis. Há, nesse sentido, uma mobilização da sociedade em que a Cooxupé está presente, antenada em como evidenciar as boas práticas. Já é um movimento relevante e precisamos continuar.
Em 2024, aconteceram muitas atividades voltadas para as cooperadas. Como vocês avaliam essa participação feminina?
Carlos: Onde está a presença feminina, as coisas mudam. Estou muito satisfeito, pois em todos os ambientes em que estamos, a participação das mulheres tem aumentado. E estamos percebendo que muitas decisões têm sido compartilhadas.
Osvaldo: É ótimo o que está acontecendo. Afinal, as cooperadas e esposas estão cada vez mais preocupadas e antenadas diante dos desafios e das oportunidades.
Avaliação de 2024
Por falar em desafios e conquistas, quais foram os principais de 2024?
Carlos: Além da questão climática, existem outros. Como, por exemplo, as adequações à legislação em todos os sentidos. Temos trabalhado muito na questão das relações trabalhistas, encontrar o processo de sustentabilidade e divulgar em massa dentro do universo da Cooxupé. Para que sejam atendidas as demandas do consumidor interno e externo.
Por outro lado, não tivemos desafios de ordem financeira dos cooperados por conta do preço do café nos patamares que está. Tivemos uma grande conquista esse ano: o início da consolidação do Protocolo Gerações. Hoje, estamos contemplados em nível mundial, pois esse programa já é mencionado internacionalmente e começando a colher frutos. Portanto, o ‘Gerações’ está dentro desse contexto: um misto de desafios e conquistas.
Osvaldo: O clima é o maior desafio nos últimos cinco anos, pois transformou radicalmente nossos níveis de produtividade e despertou atenção em relação aos nossos manejos. Além de pensarmos na cafeicultura regenerativa, o que tem sido feito para amenizarmos tais efeitos. Já a conquista é o mercado: o mundo está consumindo mais café! Inclusive, isso refletiu fortemente nos preços, está mexendo com a nossa sociedade e nossas famílias cooperadas. Quando pregamos que queríamos entregar renda e qualidade de vida a essas famílias, isso está acontecendo de maneira formidável nesse momento, sem deixar de lado o desafio.
2025, o Ano das Cooperativas
Em 2025, a ONU estabeleceu o Ano Internacional das Cooperativas. Como a Cooxupé avalia esse movimento e sua importância?
Carlos: Tenho sentido que, nos últimos anos, especificamente em 2024, o cooperativismo está em êxtase. Isso com as cooperativas bem geridas, fazendo com que a sociedade busque cada vez mais o modelo cooperativista, que se sobressai por conta da igualdade entre as pessoas. Apesar de ter o seu lado social muito forte, o cooperativismo também traz às pessoas a oportunidade de se desenvolverem. Sobretudo, é muito claro para mim que o cooperativismo vive um momento de nova configuração mundial e de evidência.
Osvaldo: O movimento cooperativista nasce de um idealismo. Entretanto, é uma grande alavanca de mudança não apenas dos cooperados, mas da sociedade de onde a Cooxupé está presente. Essa capacidade de fazer com que os pequenos produtores tenham poder comercial parecido com os médios e grandes é uma forma de inclusão. Aliás, que faz com que a sociedade se mobilize ao redor das cooperativas e associações. Uma boa cooperativa, com gestão que olha para o futuro, faz com que uma comunidade seja transformada pelo poder do trabalho.
Safra e exportações
Como foi a safra 2024? O que é esperado para 2025?
Carlos: A questão climática e seus impactos são recorrentes desde 2021. Se pegarmos de 2021 para 2024, assim como 2025, o caminho é o mesmo sentido até aqui. Primeiramente, os produtores não reduziram os tratos culturais. Pelo contrário, ampliaram e não estão conseguindo trazer o resultado desejado. Portanto, essa situação está sendo compensada no momento por questões comerciais, preço, mas isso é grave. Requer outras ações, começando no campo de pesquisa, questão genética.
Acima de tudo, é preciso desenvolver novas cultivares que convivam com o clima mais quente. A produtividade reduziu em 10 sacas por hectare de 21 a 24. Neste ano, por exemplo, esperávamos uma safra parecida com a de 23. E foi, mas veio menor. Sobre 2025, ainda é cedo para falar, mas deve ser muito parecida com a de 24, para menor.
Qual avaliação sobre as exportações?
Carlos: A logística foi e continua sendo um grande desafio para a Cooxupé, uma vez que tem sido impactada pelas questões marítimas. Englobando, assim, encarecimento, fretes, falta de navios e de contêineres, além das dificuldades portuárias em Santos. Dessa forma, é possível que das metas da Cooxupé para esse ano, duas sejam revistas: a entrega e os embarques de café.
Primeiramente, essa situação melhorou um pouco no final do ano. Porém, devido à dificuldade que tivemos ao longo de 2024 nos portos, não devemos atingir a meta provável. O café foi comprado, aliás nunca se comprou tanto café na Cooxupé como este ano. E também vendemos muito. Contudo, o embarque é comprometido por questões de logística, o que deve perdurar em 2025.
Recebimento de café e investimentos
Como a Cooxupé avalia o recebimento de café neste ano?
Carlos: Não atingir a meta de originação em 2024 não me surpreende pelo fato que o café rendeu menos. Claro que procuramos sempre buscar uma participação maior do cooperado, por meio de inovação, serviços e tecnologias. Desde já, o decréscimo que tivemos da meta vem da quebra da safra como um todo. Esse é um ponto. A princípio, 2025 vem também com a dificuldade de produção.
Porém, é válido destacar a questão do preço, que está em condição muito favorável dada a sua relação custo/benefício. Esses patamares de preços são em decorrência da falta de café no mundo. Vejo com bons olhos a questão do mercado, contudo com a dificuldade de produção por conta do clima.
O que está previsto para 2025 em investimentos?
Carlos: Primordialmente, há um projeto de reforma na sede da Cooxupé para acolher melhor nossos cooperados e parceiros. Já na área dos núcleos, a ideia é abrir outras filiais menores para estarmos cada vez mais próximos de nossas famílias produtoras. Além disso, também investiremos no setor de grãos que a Cooxupé está entrando. E pretendemos alavancar nossa participação neste mercado, pois temos potencial.
Torrefação e SMC
Diante de muitas conquistas, como avalia o desempenho da Torrefação?
Carlos: Nossa Torrefação é o orgulho do nosso cooperado. Ele quer chegar ao supermercado e ver a marca dele, pois se sente orgulhoso e isso também passa pelos nossos conselhos e diretores. Ademais, nossa indústria se consolida de maneira brilhante com novos desafios. Como, em 2025, buscar o mercado em São Paulo. Hoje, estamos preparados para atender a essa região com volume e atendimento suficientes.
E sobre a SMC Specialty Coffees?
Carlos: A SMC não é volume, é agregação de valor ao cooperado. Em outras palavras, estamos satisfeitos com os resultados obtidos e a visibilidade mundial. Dentro da SMC, destacando o Especialíssimo, há um crescimento dos participantes. Não estamos melhorando apenas 50 produtores, mas sim, os mais de 20 mil. Todavia, o mais importante é levarmos essa filosofia de buscas de cafés especiais a todo público da Cooxupé.
Cafés especiais e negócios próprios
Como a diretoria executiva da Cooxupé avalia o Programa Especialíssimo em 2024?
Osvaldo: Tudo o que traz rentabilidade ao cooperado faz com que ele se mobilize rapidamente. Dessa forma, o Especialíssimo tem sido muito relevante porque conseguimos agregar valor ao café que ele produz. Sendo que, muitas vezes, o produtor não sabia que produzia esse tipo de café. Fico empolgado com os resultados, mas acho que ainda é só o começo e vamos muito longe. Definitivamente, envolver nosso cooperado nesse nicho do café especial tem feito nosso relacionamento com o produtor ser especial também.
Como está o desempenho da Vect.Ag e da Corretora de Seguros da Cooxupé?
Carlos: No intuito da Cooxupé buscar sempre aproximação com o cooperado, trouxemos nos últimos anos a Vect.Ag, focada em crédito. Assim como o aproveitamento com taxas mais baratas e menos burocracia ao produtor. Já a nossa corretora nasceu para trazer mais segurança ao produtor, especialmente por conta do clima. São duas inovações que vêm se consolidando.
Sustentabilidade e atendimento ao cooperado
Como a Cooxupé avalia o Protocolo Gerações?
Carlos: O cooperativismo é feito do processo de igualdade e que se segmenta a partir daquele que faz diferente para melhor. Assim, isso vem ao encontro do Gerações. Antes de mais nada, nossa maior alegria é que, em 2024, nosso protocolo foi um grande destaque da cooperativa. Sabemos que ainda precisamos ganhar escala. Todavia, os resultados têm sido positivos. Alguns produtores já foram premiados pelo Protocolo e pretendemos ampliar esse cenário.
A busca por inovações já refletiu nos serviços da equipe da Assistência Técnica. Como isso está acontecendo?
Osvaldo: O que a gente sempre quis é estar presente na cozinha do nosso cooperado, cada vez mais com relevância. Assim, colocamos tecnologia na mão do Departamento Técnico e aumentamos bastante o número de profissionais no campo com ferramentas. Como, por exemplo, a caminhonete equipada com internet. Dessa forma, oferecemos solução rápida e definitiva para aquela conversa na propriedade das famílias produtoras.
Agradecimentos
Qual a mensagem da diretoria executiva da Cooxupé para todas as famílias cooperadas?
Carlos: Otimismo sempre. Sobretudo, agradeço pelo ano que passamos juntos, enfrentando os desafios. E, mesmo assim, obtendo resultado positivo. Peço a Deus que nos beneficie com o clima. A vontade Dele acatamos, trabalhamos e buscamos o objetivo. Por outro lado, agradeço minha equipe de colaboradores, tão importante na construção do sucesso da cooperativa. Ainda assim, agradeço aos cooperados por responderem positivamente; e aos nossos parceiros de vários segmentos. Por fim, desejo saúde e felicidade a todos.
Osvaldo: Agradeço nossas famílias cooperadas. Em suma, é momento de estarmos junto dos familiares, lembrarmos do nascimento de Jesus Cristo, que é a razão disso tudo. Muita saúde e alegria! E, ainda, que entendamos esse movimento do consumo mundial do café e que nos mobilizemos para elevarmos nossas produções e produtividade. Afinal, isso entregará cada vez mais renda e qualidade de vida para nossas comunidades e nossas famílias.
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Fonte: Hub do Café
Cooperativismo Crescimento e Sustentabilidade