Colunistas | Professor Adhemar | Por que Comigo

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A famosa frase “Por que eu? Por que comigo? “tem de ser substituída por outra menos orgulhosa: “Por que não eu?” Por que não comigo”?” A semelhança humana entre todas as pessoas nos assinala que, por mais importantes que nos sintamos, estamos sujeitos a subir montanhas e descer vales. O que importa é atravessar os purgatórios de cabeça erguida, com dignidade e com humildade. Houve um mestre indiano, muito amado, de nome Hakuin, que foi acusado de ter engravidado uma moça da comunidade onde morava . O pai da moça e a comunidade do lugarejo foram até à casa do mestre, ofenderam-no e o execraram publicamente. Em meio às hostilidades, a reação do mestre ao saber da acusação foi apenas dizer: “Ah é?” Durante oito meses, o mestre sofreu toda sorte de desprezo e abandono pelo povo. Quando a moça estava prestes a dar à luz a criança, seu pai adoeceu gravemente, e ela, arrependida, não querendo que seu pai morresse enganado, resolveu falar-lhe a verdade. Contou que tinha engravidado do namorado e não do mestre. A notícia se espalhou. A população se dirigiu à casa de Hakuin e, chorando, lhe pediu perdão. Contaram-lhe a injustiça, pois ficaram sabendo quem era o verdadeiro pai da criança. O mestre escutou tudo enquanto trabalhava e apenas virou o rosto para eles e disse: “Ah é?” E continuou seus afazeres. Como dizia Santo Agostinho, “ não fico maior no elogio e nem menor no vitupério”.

Nosso valor como pessoa humana permanece intacto, independentemente dos altos e baixos da nossa caminhada pela vida. Todo sofrimento humano, por outro lado, é sala de aula, é espaço de aprendizado. É lembrete da nossa relatividade. É uma sacudida para nos acordar para a relatividade do poder, do dinheiro, do prestígio, da imagem e nos arremessar de volta ao afeto, à família, ao corpo, ao simples, ao essencial da vida. Quando nos sentimos injustiçados por calúnias ou difamação, muito de nosso sofrimento está ligado à nossa imagem perante as outras pessoas. Todas as pessoas, principalmente as públicas, correm o risco e a tentação de se identificar com suas categorias sociais, ou seja, o que os outros pensam delas. Quando essa imagem é ameaçada, elas se sentem fracassadas, embora o seu corpo, seu eu e suas atividades vitais continuem os mesmos. Devemos cuidar da nossa imagem, mas não podemos nos definir pelo que os outros definem. A dor é inevitável, o tormento é opcional.

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