Colunistas | Professor Adhemar | INTELIGÊNCIA da MATA

59
0
COMPARTILHAR

No começo de dezembro de 2017, fomos passear na Costa do Sauipe-BA e por incrível que pareça, lá encontro o meu amigo e compadre Quelemém. Nossa amizade vem desde 1952. Após passarmos uma manhã inteira recordando nossos bons tempos, o compadre disse que ia me contar um caso novo. Pois bem fiquei à espera e lá vem o compadre com sua habitual conversa agradável e porque não dizer acompanhada de filosofia: “Sou um pescador fanático. E, há mais de 15 anos, passo cerca de duas semanas por ano na Amazônia. Apesar de contar com certo conforto, às vezes acampo em regiões isoladas e tenho como “guias” índios locais ou seus descendentes. A verdade é que me sinto muito burro em comparação à inteligência naturalista que eles demonstram ter.

Na mata fechada, acham trilhas “invisíveis”; sentem a presença de animais, pelo olfato ou audição; acham plantas comestíveis e medicinais por todo lado; com arpões primitivos, pescam em minutos o que eu não consigo pescar com equipamentos sofisticados, em horas; pressentem tempestades; constroem abrigos em pouco tempo; encontram atalhos. É impressionante como meus anos de estudo formal não servem para quase nada nesse ambiente. É provável que apenas um adulto (treinado para viver na civilização) em um milhão sobreviva um por mais de um ano nessas condições ambientais extremas, de isolamento e perigos.

Já fui mais de 30 vezes para a floresta amazônica e, mesmo assim, acho que não seria um desses sobreviventes. Esses guias passam meses vivendo da floresta. Quem é o “inteligente” nesse ambiente? Naturalmente, essas pessoas tendem a mostrar um fraco desempenho em atividades cognitivas- como uma simples leitura- para as quais não foram treinados na infância. Isso não tem nada a ver com falta de inteligência, mas com a falta de estímulo adequado.

Tenho a impressão de que quando estou na selva com eles, sou visto como um incompetente, alguém que não consegue perceber os sinais mais elementares que a natureza transmite. É por causa dessa incompetência para sobreviver nesse ambiente que eles são tão cuidadosos com os turistas. Acompanham de perto cada passo, como se fôssemos crianças de três anos atravessando a rua. Se, desde bebê, eu tivesse sido criado como eles o foram, teria desenvolvido essa “inteligência da mata”. Com certeza, porém, não teria as habilidades que tenho hoje. Para eles, vale o mesmo princípio.

A inteligência desses povos isolados não é maior nem menor do que a nossa. É diferente e seu desenvolvimento dependerá de suas pré- disposições genéticas tanto do aprendizado e treinamento que tiverem nos primeiros anos de vida.” Trocamos muitas outras ideias. Eu e o compadre temos muito em comum: gostamos de pesquisar, filosofar, amar o próximo e acima de tudo a Deus.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Campo obrigatório