Os adeptos do movimento ecológico ou “verde” vêm-nos exortando há várias décadas a adotar um regime de vida simples no dizer de Vamberto Morais. Para salvar o planeta, suas florestas, atmosfera e rios, precisamos não apenas reduzir a poluição do ar e das águas, mas diminuir radicalmente nosso consumo: um consumo que nunca foi tão grande nos países mais ricos do Norte- de alimentos, de energia elétrica, de gasolina- em suma, de todos os recursos da Terra. Como disse um dos oradores do Partido Verde na Grã-Bretanha, “temos que deixar de viver nas costas dos pobres do mundo inteiro e assim reduzir muito nosso padrão de vida”.
O ideal da vida simples é muito mais antigo do que o movimento ecológico, e tem uma história longa e fascinante: e está ligado, evidentemente, a uma crítica penetrante da sociedade, em especial da corrupção pela riqueza e da ganância.
É claro, antes de mais nada, que só se pode falar em vida simples quando ela já se complicou muito. O ideal só podia ter surgido quando as comunidades humanas já tinham experimentado os excessos e males do consumismo com o crescimento de cidades, alguns milênios antes de Cristo. Na verdade, como a vida urbana se tornou às vezes identificada com vícios, moleza e corrupção, sua regeneração podia ser olhada como uma volta a um estágio mais primitivo- uma “idade de bronze”. Atualmente, como é a industrialização (por mais “progresso” que tenha trazido) que se considera como a origem principal da poluição e destruição de recursos naturais, é natural que se valorizem os aspectos positivos da antiga sociedade agrícola, ou mesmo de um estágio mais primitivo, quando os homens subsistiam à base da caça e simples coleta de frutas e verduras.
Por exemplo, os profetas hebreus, condenando a opressão e luxo da sociedade israelita em que viviam, recordavam” os velhos tempos no deserto”, quando a vida era mais pura, embora austera e sem conforto, e a comunidade era “a noiva de Iavé”. De modo semelhante, alguns filósofos gregos louvavam a pureza e simplicidade de certos povos primitivos, assim como os filósofos europeus do século XVlll criaram a ideia do “nobre selvagem”.
E já que falamos em filósofos, conta-se que Sócrates costumava ir ao mercado de Atenas, não para comprar, mas para ver o número de artigos que podiam dispensar. Já nessa época, os mais esclarecidos estavam cônscios dos excessos de uma sociedade de consumo.
Por fim, “A virtude não vem da riqueza. Pelo contrário, é só pela virtude que a riqueza e os demais bens externos beneficiam o homem, e isto se aplica tanto à vida pública quanto à privada” (Platão).