Nós somos frutos da educação tradicional a qual era centrada na repressão e no autoritarismo. Muitos de nós ainda nos recordamos das mil e uma restrições que nos eram impostas na infância: horários rígidos para as refeições, para voltar para casa, regras morais para os namoros, castigos por qualquer desobediência, não poder responder aos pais diante das discordâncias, etc. Diante de tanta severidade e de tantos comportamentos injustos por parte dos pais, a maioria da geração nascida ou educada nas décadas de 1960 e 1970 cresce com uma ideia fixa: não repetir com os filhos o que sofreram com os pais. Em outras palavras, educar os filhos de forma oposta à educação que se teve. E a partir daí, de forma pendular, os pais atuais tendem a cair em um extremo permissivo, e agora, a coisa complica.
O que fazer com o adolescente que não aceita um horário para voltar para a casa à noite, passar a madrugada na Internet, dorme até tarde, falta à escola, deixa as roupas espalhadas pela casa, excede-se no uso do celular.
Hoje os pais se sentem inseguros e vivem em um eterno dilema. Sabem que devem impor limites aos filhos, mas, ao mesmo tempo, temem o conflito com eles. A revolta deles, ou ser taxados por eles de déspotas ou autoritários. E na tentativa de resolver esse conflito interno muitos pais chegam a escolher uma forma ainda pior: protegem em grandes coisas e reprimem no secundário. Não raro. Pais que proíbem os filhos de ir a uma festa, de fumar ou de viajar com os amigos e se apressam em enchê-los de bens materiais, como carro, celular, roupas de marca. Protegem e escravizam ao mesmo tempo.
De qualquer forma, há um consenso entre os educadores que o limite, mais que nunca, é necessário. Limitar significa apenas fazer uso adequado do “não”. No mundo de hoje, para darem conta de educar os filhos para uma realidade em profunda transformação e cheia de desafios, os pais têm que alargar o conceito de amor. Amar significa juntar bondade e verdade. O “não” cria condições para que nossos filhos mobilizem seu potencial para resolver seus problemas, aumentem o seu limiar de frustrações e se tornam cada vez mais independentes e autônomos. E por que é tão difícil negar alguma coisa aos filhos? Por causa do sentimento de culpa. Pais preocupados com a imagem de parecerem perfeitos diante dos filhos desenvolvem comportamentos extremamente benevolentes, estando mais preocupados em ser amados pelos filhos do que em dar-lhes autonomia e preparação para a vida. Amar o filho é ser referência para ele no “sim”, por meio do apoio, do afeto, da ajuda e do “não”.