“No princípio Deus criou o céu e a terra. E a terra era árida e deserta, e as trevas pairavam sobre o abismo. E Deus disse: “Seja a Luz”. E a luz se fez”. Não diferem muito os termos com que o cientista moderno exporia o fundamento da criação: quando o globo cessou de arder e a fusão das rochas primitivas, granito e quartzo se consolidaram numa primitiva crosta, a terra permaneceu muito tempo “árido e deserto” e as “trevas pairavam sobre o abismo”. Era tal, com efeito, o calor da atmosfera, que impedia a formação de água suscetível de cair sob forma da chuva; e os gases envolviam o globo, obstando a penetração da menor centelha de luz. Ainda não fora pronunciada a frase: “Seja a luz”.
Pelo ano 1.200.000.000 antes do nosso cômputo do tempo ocorreram provavelmente os fenômenos revolucionários denominados “revolução laurenciana”; foi então, de fato, que se constituiu a “crosta continental”, caracterizada na Europa pela Escandinávia e, na América, pelo alto Canadá, Laurenciano. Era o tempo a que a Bíblia se refere nestes termos: “E cindiram as águas de cima do firmamento, das águas debaixo do firmamento; e apareceu à vista a terra enxuta”.
Mas ninguém pode ver a formação do continente, porque ainda não havia luz para enxergar nem olhos que o vissem. A temperatura, a julgar pela fusão das rochas primitivas, devia ser muito superior ao de ponto de ebulição da água. A pouco e pouco, declinou; formaram-se as primeiras combinações com oxigênio: ácido silícico, isto é, as nossas pedras, no solo; no ar, ácido carbônico e água. Esta se precipitou das nuvens em verdadeiro dilúvio e juntou-se nas depressões do terreno; encheram-se assim as bacias dos mares. Provavelmente brotou, e ainda hoje mana água quente no fundo dos oceanos de fendas da crosta terrestre, – águas termais, mães dos mares. As torrentes do céu lavaram as crostas solúveis das jovens montanhas e o que se juntou nas baixadas como um mar primitivo foi talvez um lodaçal quente, denso e fumegante como sangue. Isso também ninguém viu. Escura, quente, úmida como um útero, a terra assemelhava-se a um regaço preparado para o acontecimento místico da concepção. Como ocorreu, não sabemos com exatidão. O período em que a Terra se tornou mãe denomina-se alonquiano, denominação oriunda duma extinta raça de índios da América do Norte. Os primeiros seres vivos foram presumivelmente os vírus que, comparados às criaturas atuais, são apenas semiviventes. Outro dia viajaremos no tempo…