Itirapuã:- Encarei os olhos da menina com um resultado positivo na mão e uma orientação para fazer quimioterapia.
Nosso silêncio camuflava mil palavras…
De repente começou o corre corre: surgiram médicos e enfermeiros dos mais diferentes lugares e cada um tinha um papel fundamental. A cura era um sonho e para alcança-lo muitas metas, objetivos e milagres precisavam acontecer… contudo a esperança é um bálsamo constantemente colocado sobre cada ferida.
O que nos fere é o “meio do caminho”…
A descoberta da ferida e o fim doem menos que o trajeto entre um e outro. Se morremos ou vivemos, torna-se um alívio que compensa o medo de trilhar o caminho da doença. As muitas picadas, os inúmeros exames, testes, curativos são o que nos causam dor e ela nos prepara o fim. Não para a morte nem para a cura. Para o fim!
De vez em quando – e não deveria ser tãããããooo de vez em quando assim – a gente devia se “desamarrar, desenlaçar, desalgemar”…
A gente devia olhar mais de perto, esperar mais um pouco, rezar mais uma vez.
Não é fácil apagar a mágoa, engolir o desaforo, perdoar o pisão no pé, não chorar o leite derramado.
Mas difícil ainda é esquecer o beijo, tirar o cheiro do corpo, colocar os cabelos afagados no lugar, não olhar o celular a cada minuto ou o coração vazio a cada batida.
A vida… Presente precioso, delicado e sensível, lúdico mas rock in roll!!!
De vez em quando, a gente devia saber mais sobre o amigo que não aparece, sobre a amiga que anda meio sozinha, sobre aquela pessoa que tem feito burradas em cima de burradas ou acertos em cima de acertos!
A gente devia fazer a nossa parte, o nosso papel, honrar a que se veio!
Quando minha filha nasceu me senti feia, desanimada, abandonada…
Pouca gente teve a sensibilidade de olhar pra mim e eu já estava olhando para minha ‘cria’.
Ah! O ser humano compreensível, inacessível, carente…
Já pensou pra quem ligar, em quem abraçar, onde se aconchegar?
Então vai! Levanta voo!
Estamos no caminho, e o fim é o mais definitivo detalhe.
