Um defeito grande dos escritores é confiar em uma coisa que conhecemos como “timing de criatividade”. A minha criatividade, como bom exemplo, segue seu timing, logo após o almoço, aproximadamente a uma e meia da tarde ela dá seus primeiros indícios. Passam-se sete minutos e ela sossega totalmente para voltar lá pelas quatro, esse timing é supostamente infalível na cabeça de todos os cronistas (modéstia parte acho o termo “cronista” um exagero prepotente, mas, indiscutivelmente elegante) e todos os meses praticamente temos o conteúdo de um pocketbook, em três meses temos uma coletânea. Todo dia temos a plena convicção de que é só esperar as ideias despencarem do cérebro para o papel como maçãs despencando de uma árvore, isso dá algum sentimento vago de segurança que talvez ajude essas criaturas inseguras que chamamos de escritores, mas é aí que vem o “x” da questão. Deram quatro horas e eu ainda não pensei em nada, meu deus que desespero. Penso na política que é uma fonte unânime e “santa” de assuntos para piadas, sarcasmos, militarismo revolucionário e crônicas, mas dela não me vem nada de especial, mesmo com o prefeito sendo filmado subornando gente e a polícia federal investigando casos e nomeando operações. Minha cabeça transita entre os esportes, a vida cotidiana, a gastronomia e tudo o que pudesse despertar aquele humor sutil de cada dia. Estou começando a desistir dessa carreira antes mesmo dela começar. É estressante e insegura. Ufa… já são vinte para as cinco, não dá mais tempo cérebro, vai essa mesmo.