Colunista | edgarlook – Espaço Memória – HR | COROROTE

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Logo de manhã bem cedinho ele já aparecia. Vinha andando torto às vezes cambaleando, conversando sozinho envolto em um traje esquisito. Quase anão vestia um paletó enorme sobre sujas camisas. As calças embutidas sobre as meias eram frequentemente amarradas nas canelas se resguardando de um pavoroso ataque de formigas. Com as barbas compridas exalava um odor nada agradável, era avesso ao banho frequente. A média com pão e manteiga doada diariamente pelo Gatão o ajudava a aquecer nos dias de frio. Com uma suada vassoura de cana da índia varria a calçada do Bar do Didico antes mesmo do primeiro ônibus. Com os bolsos cheios de papeis sem significância caminhava da barbearia do Anésio Flamini até o banco do “S”. Seus grunhidos e gritos raivosos confundiam-se com as risadas e gargalhadas advindas das brincadeiras das crianças que insistiam em provocá-lo. Maltrapilho, causava medo em alguns, repulsa em outros, mais era totalmente inofensivo. De cachaça em cachaça terminava o dia após verdadeira via sacra pelos botecos do João Cinico, do Eduardo Vila e outros lá da Várzea. Vezes ou outra entrava na igreja emitindo sons ininteligíveis onde parecia rezar pedidos. Num dia qualquer o sumiço notado, mais um dia mais outro. Na manhã do sábado o sino da matriz soou anunciando o seu passamento. Morria Osvaldo Ferreira um dos personagens mais emblemáticos da nossa antiga Guaranésia. Deus o chamou talvez atendendo um de seus pedidos. “_ Alá o Cororote, olhe o Cororote, Ei Cororote, olha a cobra, olha a formiga subindo em você, olha ai, olha!!!” “_ Bambuu… daputa…daputa…”.

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