A colheita de café dos cooperados da Cooxupé “caminha bem”, dentro dos cuidados necessários para evitar contaminações por Covid-19, enquanto o forte ritmo de vendas antecipadas a bons preços, impulsionados pelo câmbio, dá tranquilidade à produtores, disse o presidente da maior cooperativa de cafeicultores do Brasil, Carlos Augusto Melo, nesta quarta-feira.
Segundo ele, os cuidados com o coronavírus não deixam de trazer alguns transtornos de ordem de mobilidade e logística, mas de forma geral não há problemas.
A colheita de café dos cooperados da Cooxupé havia alcançado 22,88% da área até 19 de junho, ante 43,5% no mesmo período de 2019 e 22,93% na mesma época de 2018, de acordo com boletim da Cooxupé nesta quarta-feira.
Os dados, embora mostrem um atraso ante 2019, quando a safra de arábica foi de baixa produtividade, pela bianualidade da cultura, indicam que o ritmo da colheita está em linha em relação ao último ano de alta (2018), como é a temporada 2020, de grande produção.
A produção de café do Brasil em 2020 deverá atingir 57,3 milhões de sacas de 60 kg, alta de 14,7% na comparação com o ano anterior, quando a variedade do arábica teve seu ano de baixa produtividade, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada no início do mês.
Durante videoconferência promovida pelo Itaú BBA, Melo afirmou que a cooperativa está alerta com eventuais atrasos na colheita por impacto de medidas contra o coronavírus.
Ele explicou que alguns médios e grandes produtores da cooperativa, que atua em São Paulo e Minas Gerais, precisam de mão de obra de outras regiões do país, que pode não estar disponível no momento necessário da colheita, devido à pandemia. Atrasos poderiam impactar a qualidade da produção.
Mas ele ponderou que, dentro do quadro da cooperativa, 86% são produtores pequenos, que não necessitam de mão de obra externa, pois realizam o trabalho com a própria família.
Vendas
Segundo Melo, um patamar jamais visto de vendas antecipadas, com cerca de 60% da safra dos produtores da Cooxupé já fixada a preços médios de 530 reais/saca, tem dado tranquilidade para o produtor realizar sua colheita neste momento de pandemia.
“Isso é bom, dá tranquilidade para o produtor em momento de safra maior”, afirmou, apontando que muitos produtores conseguiram comercializar o produto a mais de 600 reais, enquanto outros venderam em torno de 400 reais.
Ao final de maio, Melo havia indicado, em entrevista à Reuters, patamares semelhantes de vendas antecipadas.
Naquela oportunidade, Melo havia estimado que os embarques da Cooxupé, também a maior exportadora do Brasil, deverão atingir 5,9 milhões de sacas de 60 kg em 2020, sendo 5 milhões de sacas destinadas para exportação.
Também participando da videoconferência, o presidente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, Francisco Sérgio de Assis, disse que os produtores da região já comercializaram antecipadamente entre 40% e 45% do café desta safra.
Consumo
Melo, da Cooxupé, disse que a perda de poder aquisitivo da sociedade o deixa preocupado, considerando o impacto da pandemia no consumo.
Embora tenha falado não ter visto nada de anormal, admitiu que o consumo de cafés especiais deve sofrer mais, considerando o menor movimento em bares, restaurantes e hotéis.
“É cedo para dizer, mas podemos ter uma mudança de hábitos de se tomar café”, comentou.
“Café especial inspira um pouco mais de cuidado…”, completou, ressalvando que o café é um produto já incorporado no dia a dia das pessoas.
Fonte: Reuters – Por Roberto Samora
Foto – Canal Rural