Borra de café reciclada vira copo na Argentina e concreto na Austrália

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Geralmente descartado, resíduo da bebida tem potencial como matéria-prima sustentável no desenvolvimento de novos materiais

Por Redação

O que você faz com a borra do café? Geralmente, esse resíduo costuma ser descartado pelas pessoas após o preparo da bebida. Entretanto, ele tem um grande potencial quando falamos de sustentabilidade e economia circular, podendo ser reutilizado para diversas finalidades. Nesse sentido, a borra de café reciclada virou copo na Argentina e aditivo para concreto na Austrália.

Individualmente, é possível reaproveitar o material para fertilizar plantas, espantar insetos ou tirar odores da geladeira e de armários. Porém, ele também pode ser usado em larga escala para fabricar novos produtos. É o que algumas startups e grupos de pesquisa têm descoberto.

Borra de café reciclada

Na Argentina, por exemplo, a Etimo Biomateriales recolhe a borra nas cafeterias de Buenos Aires. Em seguida, leva para o laboratório e transforma em copos. Que, depois, voltam para os mesmos estabelecimentos para servir café! Mais circularidade, impossível.

Com a inovadora solução, pois, dois problemas são resolvidos de uma só vez. Primeiramente, o descarte do resíduo, que deixa de ir para aterros sanitários e emitir gases de efeito estufa. Depois, a redução do uso de copos descartáveis, já que os novos são reutilizáveis, totalmente biodegradáveis e compostáveis.

De acordo com a empresa, uma cafeteria portenha descarta diariamente, em média, cinco quilos de borra e mais de 100 copos plásticos. Que, desde já, não se degradam naturalmente nem são reciclados na capital argentina.

De volta à mesa

Especializada no desenvolvimento de biomateriais a partir de resíduos gastronômicos, em suma, a Etimo costuma trabalhar em parceria com estabelecimentos que produzem resíduos orgânicos. E querem convertê-los em materiais biodegradáveis. Dessa forma, o objetivo é criar itens que depois voltem para a mesa, e com estilo.

No caso do copo, ele foi desenhado em conjunto com baristas. Para que fosse a melhor experiência possível para tomar um café.

“Não procuramos apenas gerar uma solução técnica em termos de recursos e gestão. Mas, também, tornar a experiência com o produto agradável e enriquecedora. A borra de café é bonita, tem uma cor ótima, textura legal e o aroma gera uma experiência com o material”, disse Camila Castro Grinstein, fundadora da Etimo.

Aditivo natural para o cimento

Sobretudo, outro exemplo de uso inovador do material vem da Austrália. Engenheiros da RMIT University descobriram uma maneira de melhorar o desempenho do concreto, tornando-o 30% mais resistente, usando borra de café reciclada. Nesse sentido, o estudo é o primeiro a provar que resíduos de café podem ser úteis para essa finalidade.

Para isso, portanto, a borra passa por um processo chamado pirólise. Ou seja, que envolve a decomposição em altas temperaturas na presença controlada de oxigênio, resultando em uma biomassa de origem vegetal (biochar).

“A inspiração para o nosso trabalho foi encontrar uma forma de utilizar as grandes quantidades de resíduos de café em projetos de construção, em vez de irem para aterros sanitários. Para dar ao café uma dupla chance de vida”, disse Rajeev Roychand, pós-doutorando na RMIT e um dos autores do estudo.

Ainda segundo a universidade, a Austrália gera 75 milhões de quilos de resíduos de café moído todos os anos. E a maior parte vai para aterros sanitários.

“A eliminação de resíduos orgânicos representa um desafio ambiental, pois emite grandes quantidades de gases com efeito de estufa. Incluindo metano e dióxido de carbono, que contribuem para as mudanças climáticas”, ressaltou Roychand no site da RMIT.

Preservação da areia

Além de poupar o descarte da borra de café, de acordo com líder da equipe de pesquisa, professor Jie Li, o uso da do material pode ainda substituir uma parte da areia usada para fazer o concreto. Assim, preservando esse recurso natural.

“A extração contínua de areia natural em todo o mundo, normalmente retirada de leitos e margens de rios para atender às crescentes demandas da indústria da construção, tem um grande impacto no meio ambiente”, explicou.

De acordo com os pesquisadores, a indústria do concreto tem potencial para contribuir significativamente para o aumento da reciclagem de resíduos orgânicos. E a borra de café reciclada é apenas um deles.

Pesquisa

Acima de tudo, a pesquisa está nos estágios iniciais. Entretanto, diversos conselhos que combatem o descarte de resíduos orgânicos demonstraram interesse no trabalho. Agora, o próximo passo é desenvolver estratégias práticas de implementação e fazer testes de campo.

Quem sabe, nos próximos anos, vamos viver em casas feitas com o que restou do preparo do cafezinho?

Enquanto esse dia não chega, evite jogar a borra no ralo da pia. Nesse sentido, prefira usá-la para adubar as plantas ou procure se informar sobre campanhas de coleta.

Por fim, leia a reportagem completa no site do CCCMG.

Extraído do hub do café

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