Bicho-mineiro nas lavouras cafeeiras do Sul de Minas Gerais

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Praga possui grande potencial de dano econômico na cafeicultura, acarretando em desfolhas e perdas de produção

O bicho-mineiro é um conhecido antigo e exclusivo dos produtores de café de todo o planeta. Diz-se exclusivo, aliás, porque estamos falando de uma praga monófaga, que ataca somente plantas de café. Ou seja, não existe infestação em outros tipos de plantas cultivadas, e isso é um grande problema.

Em primeiro lugar, esse comportamento típico do inseto faz do bicho-mineiro um grande vilão nas regiões cafeicultoras. Pois não existem outras plantas para serem atacadas e, dessa forma, o alvo central dos efeitos prejudiciais é somente o café. Classificando-o como a principal praga da cafeicultura.

Antes de mais nada, as informações são da equipe de Desenvolvimento Técnico do núcleo da Cooxupé em Conceição Aparecida (MG).

Bicho-mineiro

Morfologicamente, o bicho-mineiro é um inseto pequeno, a ponto de que um adulto dessa praga mede somente 2 milímetros de comprimento. Enquanto a lagarta, que é a fase do inseto prejudicial ao café, mede apenas 3,5 milímetros.

Apesar de ter essas dimensões reduzidas, a praga possui um potencial de dano econômico muito elevado. Podendo acarretar, assim, desfolhas que chegam a 75% e consequentes perdas de produção, que podem atingir 87%. Isso de acordo com a Embrapa.

Desenvolvimento

A razão dessas perdas é explicável. Antes de ser introduzida no Brasil e em outras regiões para cultivo a céu aberto, a planta de café só existia em locais sombreados (sub-bosque), nas regiões do continente africano. Nesse ambiente de sombra, portanto, sem o objetivo de produção em grande escala, a planta sempre se comportou como um organismo “preguiçoso” na produção de energia. Afinal, sua necessidade era somente a sobrevivência e a produção de poucos frutos para a perpetuação da espécie.

Entretanto, à medida que o cafeeiro foi sendo melhorado geneticamente e deslocado para o cultivo em locais a pleno sol, o potencial produtivo aumentou, o volume de café produzido se ampliou expressivamente e a planta de café passou a ter uma demanda energética bastante elevada para a nutrição dos tecidos vegetais e granação dos frutos.

Dessa forma, com a maior demanda de energia, veio também a maior dependência da preservação das folhas. Pois, como é sabido, a fotossíntese acontece nas folhas e é a partir dela que a planta obtém energia para seu crescimento e reprodução.

De antemão, as folhas de café possuem um potencial fotossintético ineficiente devido às condições de origem do cafeeiro. Daí, surge a necessidade de reter o maior volume possível de folhas na planta. A fim de que seja produzida energia em quantidades suficientes para direcionar aos frutos. Bem como promover alto desempenho na produção de café.

Essa energia, inclusive, serve também para o crescimento de novos ramos, que garantirão a produção do ano seguinte. E é nesse contexto que o bicho-mineiro tem se apresentado como um problema iminente para a cafeicultura do sul de Minas Gerais.

Trabalhos científicos

De acordo com trabalhos científicos da Universidade Federal de Lavras, cada folha de café é responsável por “sustentar”, em média, 4 frutos. Isso significa que, se houver desfolha significativa, uma grande quantidade de frutos será perdida. Seja por falta de granação ou mesmo por queda precoce.

Nesse sentido, a desfolha causada por bicho-minero ocorre quando a lagarta, ao sair do ovo, inicia sua alimentação no mesófilo foliar (o meio da folha do café). Nesse momento, a planta, ao perceber que esse ataque está acontecendo, entende que precisa eliminar aquela folha doente. Assim sendo, produz um hormônio chamado etileno, que servirá para derrubar a folha atacada.

Acima de tudo, esse mecanismo de desfolha é o responsável pela grande perda de produtividade relatada. E o bicho-mineiro tem sido um dos protagonistas desse problema na região sul-mineira devido à instabilidade climática.

Mais sobre a praga

O bicho-mineiro pertence a uma classe de insetos que tem sua proliferação favorecida por condições de clima mais seco. Além de umidade relativa baixa e temperaturas elevadas. Primordialmente, regiões e estações quentes do ano, com temperaturas registradas acima dos 27ºC, e com longos períodos de estiagem, são as mais propícias à proliferação da praga.

O bicho-mineiro consegue se desenvolver e infestar cafezais durante todo o ano. Porém, com maior intensidade a partir do mês de julho, sendo o ápice de infestações em outubro, durante a florada.

Quando essas condições climáticas favoráveis se combinam, o ciclo dessa praga é acelerado em até 80%. A princípio, isso significa que, nessas condições propícias, um ovo pode eclodir em 5 dias. Enquanto isso, a fase de lagarta pode durar somente 9 dias e o período de crisálida (pupa) perdurar apenas 5 dias. Formando, então, uma nova mariposa que efetuará a postura de até 50 ovos durante sua vida. Aumentando exponencialmente a infestação na lavoura.

Condições climáticas

Em contrapartida, se as condições climáticas forem mais amenas, com temperaturas mais baixas, boa incidência de chuva e umidade relativa elevada, o manejo do bicho-mineiro é facilitado. Todavia, este não é o cenário que temos encontrado no Sul de Minas.

Nos últimos anos, sobretudo, os registros meteorológicos para a região têm nos permitido verificar um aumento gradativo da temperatura, chuvas irregulares e secas. E, a partir daí, o bicho-mineiro tem se aproveitado para conseguir se estabelecer e tornar uma realidade alarmante na região.

Em 2024, por exemplo, os ataques estão ainda mais severos. Ocorrências com altas infestações estão sendo verificadas. Ademais, novas gerações da praga surgem diariamente, com o controle sendo dificultado. E, diante disso, precisamos adotar estratégias eficientes para conter o prejuízo que pode acarretar.

Como conter o bicho-mineiro?
Dentre as estratégias de contenção, podemos citar:

– Uso de variedades de café resistentes ao bicho-mineiro: um exemplo é a nova variedade Siriema AS1;

– Monitoramento da praga: a escolha das plantas amostradas deve ser feita ao acaso, utilizando-se caminhamento em zigue-zague ao longo do talhão. Bem como selecionando plantas de diferentes linhas.

Em média, uma boa amostragem deverá avaliar de 20 a 30 plantas. Em cada planta, portanto, recomenda-se a avaliação de 10 folhas do terço médio e superior, sendo 5 de cada lado da linha de plantio.

Mantendo a aleatoriedade na escolha, em outras palavras, seleciona-se 5 ramos laterais de cada lado da planta. Avaliando, assim, folhas do terceiro e quarto par de folhas do ramo.

Um exemplo de índice calculado é a porcentagem de infestação por bicho-mineiro (IBM%). Que, primeiramente, pode ser determinado pela relação entre ‘número de folhas com larvas vivas’ e ‘total de folhas coletadas’.

Agora, a recomendação da Embrapa é que quando em amostragens de folhas realizadas quinzenalmente for encontrado 20% ou mais de folhas minadas somente no terço superior, ou 30% ou mais nos terços médio e superior juntos, deve-se realizar o controle.

Quais são os outros cuidados?

Controle cultural: utilização de trincha na projeção da saia do café para triturar o material orgânico que pode hospedar a praga. Por outro lado, manutenção de plantas de cobertura na entrelinha do café para estimular a proliferação de inimigos naturais que combatem o bicho-mineiro;
Controle biológico: liberação de ovos de crisopídeo (um inimigo natural) na lavoura de café;
Controle químico: uso de defensivos químicos seletivos para controle da praga.
Em suma, adotando essas estratégias de manejo integrado, sempre com o auxílio do corpo técnico da Cooxupé, teremos maiores ferramentas que poderão trazer sucesso no controle da expansão do bicho-mineiro no sul de Minas Gerais. Por fim, permitindo a preservação da rentabilidade e a sustentabilidade da cafeicultura sul-mineira.

Ameaça às lavouras de café

  1. Ciclo evolutivo do bicho-mineiro
  • Ataque severo com potencial desfolha
  • Ovos do bicho-mineiro
  • Larvas do bicho-mineiro
  • Pupa (crisálida) de bicho-mineiro
  • Mariposa de bicho-mineiro
  • Ovos (esq.) e larva (dir.) de crisopídeo
  • Adulto de crisopídeo (inimigo natural)
  • Larva de crisopídeo predando pupa de bicho-mineiro
  • Vespa (inimigo natural) predando larva de bicho-mineiro
  • Lavoura sem ataque de bicho-mineiro/ Lavoura desfolhada por bicho-mineiro

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Por: Hub do Café

Bicho-mineiro: ameaça à produção de café!

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