“Avós e netinhos”

21
0
COMPARTILHAR

Paiva Netto

Há muitos anos li abalizada reflexão sobre o sentido de família, de autoria da Ph.D. em neurociências Suzana Herculano-Houzel. Ela aapresentou em um artigo publicado na Folha de S.Paulo, em 29 de abril de 2014 (terça-feira). Intitulado “Avós e netinhos”, gostaria de compartilhar com vocês neste mês de julho, quando comemoramos o Dia dos Avós (no dia 26). No texto, ela escreveu sobre as vantagens evolutivas do envelhecimento saudável, em especial na interação entre as gerações. Citou pesquisa do neurocientista Stephen Suomi, do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano dos EUA. O que ele e seu orientador Harry Harlow (1905-1981), descobriram? Ao estudar filhotes de macacos reso criados sem mãe e sem carinho, perceberam que eles cresciam com uma série de distúrbios sociais e de ansiedade. No entanto, quando conviviam com macacas e macacos idosos, cuidadores experientes e carinhosos, isso resgatava o desenvolvimento dos bebês. Esse processo, sob a condição de ser um gesto espontâneo dos primatas, isto é, com o direito de ir e vir, também recuperava a saúde física e mental dos mais idosos, fazendo alguns deles assumirem o papel de pais.

Diante dessas evidências, a cientista brasileira concluiu com apurada sensibilidade:

Avós voluntariamente carinhosos, portanto, ajudam não só a educar a nova geração como ainda a fazer vingar netinhos saudáveis e bem integrados socialmente — e, de quebra, os avós se mantêm revigorados por serem úteis aos netos. Eu bem sei. Perdi minha avó no começo deste ano. Cresci ouvindo-a dizer, sempre hiperbólica, que estava à beira da morte —mas ela manteve a saúde de um touro enquanto teve netos e bisnetos por perto para cuidar. Consolo-me, então, pensando não nos anos que perdemos, mas nos 40 anos em que tive o privilégio de crescer com uma avó que me ensinou música, tricô, costura, empadão e leite queimado; que me divertia não engolindo sapo algum e dirigindo feito uma louca até os 80 anos e tantos anos — e que sempre teve colo para mim e, depois, para meus filhos”.

Belo testemunho, dra. Suzana. Sabemos que sua avó, onde quer que esteja nesse imenso espaço sideral — pois cremos que os mortos não morrem —, deve ter se comovido com sua homenagem.

Como já afirmei em tantas ocasiões: Amor faz rima perfeita com mãe. E posso acrescentar: com avós também. É a base da Família; logo, o sustento do mundo.

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Campo obrigatório