*Por Caio Moretti
Os impactos da crise no país, causada pela pandemia de
covid-19, estão nítidos depois de mais de um ano e, por motivos óbvios, as
pastas de Saúde e Economia estiveram nos holofotes desde o seu início. De um
lado, a crise sanitária causada pelo enfrentamento de uma doença ainda
desconhecida e altamente contagiosa e, de outro, a reação da economia, com a
implementação de restrições de circulação, que limitam o acesso a bens de
consumo, além da administração de uma taxa de desemprego histórica.
A educação, que não teve tanto foco como as outras pastas, também foi
diretamente impactada por essa crise. De acordo com estudo da Unicef (Fundo de
Emergência Internacional das Nações Unidas pela Infância), divulgado no último
mês de janeiro, 1,38 milhões de alunos brasileiros entre 6 e 17 anos
abandonaram suas instituições de ensino no decorrer da pandemia.
O ensino a distância, o qual já crescia em diversos setores, se tornou uma
alternativa para não prejudicar o calendário escolar e, ao mesmo tempo,
garantir a segurança dos alunos, professores e profissionais da educação em
geral. No entanto, apesar de ter sido uma medida evidentemente necessária, é
imprescindível discutir o impacto do ensino remoto.
O aumento do acesso à internet dos estudantes brasileiros – de 86,6% em 2018
para 88,1% em 2019, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostras de
Domicílios (Pnad) – não é suficiente para afirmar que a educação está mais
acessível. Democratizar o ensino a distância é prover, digitalmente, uma
variedade de experiências e soluções que vão muito além da disponibilização do
conteúdo digital.
A saúde mental dos estudantes é um tema, por exemplo, que não pode ser
desconsiderado. Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) analisou autorrelatos de estudantes entre 13 e
20 anos, do 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio de 21 escolas
públicas das periferias de São Paulo e Guarulhos. O estudo, que pode ser
considerado um indicativo importante para avaliar a educação pública remota no
Brasil, revelou que 10,5% dos alunos apresentaram sintomas depressivos graves e
47,5% com sintomas ansiosos graves. A pesquisa evidenciou também que as
prevalências dos sintomas aumentaram significativamente durante a pandemia.
Com tantas variáveis a serem consideradas e resolvidas para que haja um ensino
de qualidade a distância, a solução para a democratização do acesso a um ensino
de qualidade, digital e acessível é usar tecnologia de forma inteligente.
Ambiente de estudo inadequado, barulho, interrupções e internet de baixa
qualidade são as maiores reclamações de quem precisa atravessar o ano letivo e,
de olho nessas oportunidades de problema para resolver, as edtechs – empresas
de educação com base tecnológica – estão surgindo para acompanhar as mudanças
da sociedade.
De acordo com o mapeamento da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) de
2020, o número de edtechs cresceu 26,1% em apenas um ano. Algumas oferecem
soluções auxiliando alunos com dificuldades, outras disponibilizam ferramentas
com inteligência artificial para tornar os estudos mais assertivos, oferecem
conteúdos de fácil assimilação para complementar o ensino regular e até ajudam
alunos que sonham ingressar em uma universidade.
Mesmo com tantas opções presentes no ecossistema das edtechs, o ensino a
distância é desafiador e há muito caminho a percorrer. A educação infantil, por
exemplo, necessita muito mais do que absorção de conteúdo – é preciso
interação, contato, afeto e empatia para a formação intelectual do indivíduo.
No entanto, é equivocado pensar que, quando pudermos voltar a circular por aí
normalmente, as empresas inovadoras que estão lutando para revolucionar o setor
educacional serão descartadas. Não há mais a possibilidade do divórcio no
casamento entre educação e tecnologia.
*Caio Moretti é administrador, empreendedor e CEO do Qconcursos, maior edtech
do Brasil, com mais de 18 milhões de estudantes cadastrados.
Fonte: Mariana Mimoso mariana@piarcomunicacao.com.br