“Como diria meu Velho, começo do começo…
Não há sentidos sem lembranças da Festa.
Quero começar pelo olfato, mesmo com o risco de algum amigo engraçadinho querer dizer o porquê.
É que foi pelo olfato o primeiro reconhecimento.
Quem terá acordado, como eu, em alguma manhã de final de um maio ao fim da década de 70 com o cheiro de madeira exalado pela Praça Dr. Herculano e redondezas?
Eram as toras sendo despejadas na rua de frente à Matriz; ainda, não havia o calçadão.
Era um cheiro de identidade.
Não demorariam os cheiros de cocadas e churros das primeiras barraquinhas, o marcante cheiro do frango preparado pelo Ari na Casa Paroquial, o cheiro de pólvora dos fogos, o cheiro do quentão e das moças, o cheiro de São João, que só um arceburguense saberá dizer.
Daí vem a visão. A barraca central ficando pronta. O cartaz da Gráfica do Alaor, com o João Batista criança, os primeiros enfeites, os rostos saudosos, os sorrisos dos encontros, as luzes do parque de rua e das barraquinhas, o pé de meu pai marcando o compasso da banda.
A audição. Ah.. o primeiro toque da Alvorada, ainda na minha cama. Os primeiros foguetes incómodos, compensados pela alegria de ouvir, em prazer coletivo itinetante: “Acorda, Maria Bonita…”. As bandas da barraca, a canção de Tião Caboclo tantas vezes repetidas, o martelo do leiloeiro, o grito do bingo, as vozes amigas.
Quanto tato! Os abraços de saudade e de amores juvenis. O sebo. O couro do gado leiloado. A neblina Sul Mineira.
Paladares. O primeiro café generoso da Barraca, o chocolate quente, o churrasquinho do Joaquim, a farofa do frango, o vinho quente, tantos quitutes, os primeiros beijos de tantas vidas.
Por fim, as simbologias da tradição cristã de que mais gosto: a fogueira que anuncia a chegada da vida, os ventres em festa pelo encontro santo, o que anuncia com desprendimento, as imagens do interior da Matriz.
São palavras de quem ama a imagem gravada, que não muda apesar das imagens sobrepostas da modernidade”.
Dr. João Baptista Cilli Filho (“Dione”)