Colunistas | Professor Adhemar | TEIAS de ARANHA

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Se você quiser fazer uma faxina nos porões de sua memória não obterá sucesso, não conseguirá. Então se esforce para extrair todo sentimento de culpa, autopunição, rigidez, rejeição, que foi registrado nela. É possível limpar as teias de aranha dos nossos tetos e fazer uma limpeza em nossas escrivaninhas, mas não é possível remover a sujeira contida em nossa memória. Só é possível reescrevê-la. Os arquivos da memória contêm o tecido de nossas experiências conscientes e inconscientes. Tais arquivos jamais podem ser destruídos, a não ser involuntariamente, por meio de um tumor cerebral, um trauma craniano ou uma degeneração das células nervosas, como na doença de Alzheimer. Destruir esses arquivos significa destruir nossa consciência, esfacelar nossa identidade.

Se tivéssemos a liberdade de passar uma “borracha” em nossa memória, teríamos a vantagem de poder eliminar todas as misérias e todos os traumas contidos nela. Nos computadores, temos essa liberdade; em segundos, apagamos o trabalho feito durante anos. Entretanto, essa liberdade poderia gerar o maior desastre intelectual. Correríamos o risco de cometer um suicídio, contra a nossa capacidade de pensar, pois, num momento de angústia, poderíamos desejar esquecer o nosso passado e começar tudo de novo. Isso produziria a morte da identidade. Não saberíamos mais quem somos, como estamos e onde estamos. Tornar- nos-íamos animais irracionais, pois não teríamos mais a consciência da existência.

O Criador deu muitas liberdades ao homem que criou, inclusive a de negar a sua própria existência, mas não lhe deu liberdade para mexer nos arquivos e deletar sua memória, pois isso conspiraria contra a própria liberdade, porquanto sem a memória não poderíamos produzir pensamentos e tomar decisões. Portanto, Ele protegeu a memória contra os ataques do eu, contra as possíveis crises que o homem atravessa. Apagar a memória é impossível, só é possível reeditá-la.

Muitas pessoas nunca mudam suas características doentias porque são pobres na sua criatividade, não têm sonhos, nem metas, não questionam seus conceitos e paradigmas, são incapazes de indagar por que estão vivas e de procurar um sentido mais nobre para as suas vidas. São passantes existenciais, ou seja, passam pela vida sem nunca mergulhar dentro de si mesmas, sem ter consciência do espetáculo da vida. Também não se interiorizam, não aprendem a reconhecer seus erros nem a repensar sua maneira de ser e reagir diante dos eventos que a circundam. Possuem, portanto, um eu frágil, inseguro, instável, temeroso, incapaz de mudar as suas rotas psíquicas, sociais e profissionais.

Pessoas há que têm grande cultura, são consideradas intelectuais, mas parecem imutáveis em seu orgulho, agressividade, impulsividade, ansiedade. São prisioneiras e infelizes, tais como os farmacodependentes. Estes são controlados pela droga química, aqueles pela droga do preconceito e da rigidez.

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