Caminhos turísticos com temáticas religiosas ressaltam o patrimônio histórico e as riquezas naturais do estado
O turismo da fé em Minas Gerais é uma potência que
abrange a Semana Santa e vai além. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Cultura e
Turismo de Minas Gerais (Secult-MG), 36% dos turistas que visitam o
estado têm como principal motivação conhecer locais e festas de riqueza
histórico-cultural, incluindo bens e eventos religiosos, gerando uma
movimentação econômica de cerca de R$ 5 bilhões por ano.
Minas Gerais, que tem roteiros de promoção turística do café, do queijo e da
cachaça, também conta com rotas da fé.
Elas contribuem para alavancar os números do turismo neste segmento, divulgam o
estado para todo o país e evidenciam a religiosidade e as diversas
manifestações presentes na formação das identidades do povo mineiro.
Expressões ligadas à fé ganham ainda mais destaque na Semana Santa, período que
irá atrair cerca de 400 mil turistas ao estado.
Lançada recentemente, a segunda edição do programa turístico Minas Santa
impulsiona a movimentação turística em cerca de 600 municípios participantes do
projeto. Procissões, encenações da Paixão de Cristo, missas solenes e feitura
de tapetes devocionais fazem parte da programação.
Rotas da fé
Fé, espiritualidade, riquezas naturais, aventura, patrimônio histórico e os
sabores da nossa cozinha.
Em Minas Gerais, os viajantes encontram tudo isso em rotas estruturadas
especialmente para o turismo da fé, que atrai pessoas de todas as regiões do
Brasil e até do mundo e movimenta a economia da criatividade.
Há diversas opções no estado e os percursos podem ser feitos de carro, a pé, de
bike ou a cavalo.
Atualmente são 11 rotas da fé cadastradas no
estado: Rota da Peregrinação, CRER – Caminho Religioso da Estrada Real, Caminho da Luz, Caminho da Fé, Caminho de Nhá Chica, Caminhos de Padre
Victor, Caminhos de Padre Libério, Santuário da Mãe Rainha, Rota Nos Passos de
Dom Viçoso, Caminho das Capelas e Caminhos
Franciscanos.
Sobre o Caminho da Fé, vale ressaltar que a rota de mais de 2 mil quilômetros
quilômetros, inspirada no milenar Caminho de Santiago de Compostela, é a mais
visitada do país, com fluxo médio anual de 23 mil viajantes e geração econômica
de R$ 24 milhões por ano.
O percurso abrange cidades de São Paulo e as mineiras Andradas, Arceburgo,
Crisólia, Tocos do Moji, Inconfidentes, Borda da Mata, Botelhos, Caldas,
Campestre, Ouro Fino, Estiva, Guaxupé, Itamogi, Consolação, Paraisópolis,
Luminosa, Monte Santo de Minas, Monte Sião, Santa Rita de Caldas, São Sebastião
do Paraíso e São Tomás de Aquino.
Segundo Camila Bassi, gestora executiva da Associação dos Amigos do Caminho da
Fé (AACF), responsável pela administração da rota, o Caminho da Fé é relevante
para o turismo em Minas Gerais e para o desenvolvimento das cidades que estão
em seu percurso.
“O Caminho da Fé é um produto de turismo religioso com 21 anos de existência e
que mudou a realidade desse eixo por onde ele passa. Ele gera desenvolvimento
econômico e o volume de pessoas que praticam essa atividade cresce a cada ano.
O Caminho da Fé mudou a realidade deste território no sentido da valorização da
cultura, do meio ambiente e das comunidades”, afirma.
Em Minas Gerais, as rotas nascem a partir da iniciativa de gestores,
empresários e pessoas ligadas ao turismo e ao empreendedorismo que enxergam uma
oportunidade de desenvolvimento turístico e de criação de novos produtos. É
fundamental que os caminhos estejam sinalizados, limpos, organizados e possuam
materiais de suporte ao turista.
As rotas da fé também podem ser estimuladas pelas ações das Instâncias de
Governança Regional (IGRs).
O Governo de Minas Gerais, por meio da
Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, atua no sentido de unir esforços dos
diversos órgãos e entidades, bem como de organizações do setor privado, em prol
do desenvolvimento da atividade e da infraestrutura turística e do
fortalecimento da cadeia produtiva do setor em diversas frentes, promovendo e
divulgando os produtos turísticos do estado.
“O turismo da fé é uma grande potência em Minas Gerais e a Semana Santa é,
nesse sentido, um forte atrativo. Esse segmento gera uma grande movimentação
turística no estado, sendo fonte de geração de emprego, renda e coesão
comunitária. Em 2023, o Minas Santa, juntamente com a Semana da Inconfidência,
geraram um fluxo turístico em Minas crescer 720% acima da média nacional em
abril”, pontua o secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais,
Leônidas de Oliveira.
O Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, na Serra da Piedade, em Caeté,
também é emblemático para o turismo da fé em Minas e recebe cerca de 500 mil
visitantes por ano.
Tombado nos âmbitos municipal, estadual e federal, o Conjunto Cultural,
Arquitetônico, Paisagístico e Natural da Serra da Piedade é o ponto de partida
do Crer – Caminho Religioso da Estrada Real, maior rota deste segmento no país.
O percurso abrange 32 municípios mineiros e seis paulistas, ligando Caeté à
Aparecida (SP), cidade que abriga o Santuário Nacional de Nossa Senhora
Aparecida.
Criado em junho de 2019, o Caminho Nhá Chica abrange 15 municípios da região
Sul de Minas Gerais, com início na Capela Nhá Chica, em Romas, zona rural de
Inconfidentes. O percurso totaliza aproximadamente 270 quilômetros até a cidade
de Baependi.
Maior cenário bíblico do Brasil
Quando se fala em turismo da fé em Minas Gerais, Alpinópolis é um importante
destino. Na cidade do Sul de Minas, em um terreno de 90 mil metros quadrados,
foi erguido o Monte das Oliveiras, maior cenário bíblico a céu aberto do Brasil
e um dos maiores do mundo nesse formato.
A construção é uma espécie de réplica de Jerusalém, com monumentos
arquitetônicos e representações geográficas da Terra Santa e das passagens
bíblicas.
Fundado em maio de 1983 pelo historiador e fiel católico Iglair Lopes, o Monte
das Oliveiras é gerido pela Associação Filantrópica Apóstolos de Cristo, cujo
presidente é Marcelo Domingos Ferreira.
Durante a Semana Santa, são realizadas apresentações teatrais que encenam a
vida, morte e ressureição de Jesus Cristo, dentre outras passagens bíblicas.
Segundo Ferreira, a expectativa é que o Monte das Oliveiras supere, em 2024, o
número de 100 mil turistas registrados no ano passado.
A atração pode ser visitada de segunda a segunda, das 8h às 17h. A agenda para
retiros espirituais, que acontecem aos fins de semana, está praticamente
fechada até dezembro.
“O Monte das Oliveiras é importante para o turismo da fé em Minas Gerais por
ser uma obra única. No Brasil, não existe em nenhum estado o que temos aqui em
Alpinópolis. O Monte das Oliveiras desperta a fé, retrata a história e convida
à reflexão. As pessoas saem renovadas, é uma experiência transformadora. É um
espaço ecumênico, recebemos pessoas de várias religiões”, relata Marcelo
Domingos Ferreira.
Semana Santa: fé e tradição
Além de ser uma das 32 cidades mineiras que integram o CRER – Caminho Religioso
da Estrada Real, Ouro Preto é um dos principais destinos turísticos do país,
recebendo visitantes de todo o mundo durante os 365 dias do ano, muito por
conta do patrimônio histórico cultural e religioso e do estilo barroco.
Especificamente na Semana Santa, a cidade localizada a 100 quilômetros de Belo
Horizonte guarda diversas tradições e se enfeita para as celebrações.
Historiadora, rainha conga e professora especializada em cultura mineira,
Deolinda Alice dos Santos participa da feitura dos tapetes devocionais em Ouro
Preto, onde nasceu e mora, desde a infância.
Como acontece em todos os anos, os tapetes começarão a ser feitos no Sábado de
Aleluia, por volta das 21h, e os trabalhos seguem madrugada adentro. Na
procissão do domingo de Páscoa – ou Domingo da Ressurreição, que sairá da
Igreja Matriz Nossa Senhora do Pilar em direção ao Santuário Nossa Senhora da
Conceição de Antônio Dias, as históricas ruas ouropretanas se colorem com os
tapetes de serragem, tradição de mais de 300 anos na cidade.
Para Deolinda, o costume tem importantes
significados não só religiosos, mas também do ponto de vista social. “É um
processo histórico e cultural. Representa a união das famílias, o respeito aos
mais velhos, a união dos jovens e o entrelaçamento que ajuda as pessoas a
cumprir a missão na terra e a vencer as batalhas”, sublinha a historiadora.
Os ritos no período da Semana Santa também contemplam as manifestações
religiosas das afromineiridades.
Em São Francisco, no Norte do estado, a Feitura do Cordão de São Francisco, no
terreiro do Quilombo Pena Branca, na Sexta-Feira Santa, é tradição seguida pela
família de Makota Janete há pelo menos 50 anos.
“Também temos nossa Semana Santa, só que voltada para a umbanda. Apesar da
Semana Santa ser de cunho cristão, existe o sincretismo e nós temos muita
devoção por todas as santas. Cultuamos o sagrado todos os dias das nossas
vidas”, destaca Janete.
Foto: Gil Leonardi / Imprensa MG