Produtores de café da Região Vulcânica querem reconhecimento

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Cafeicultores do Sul defendem produto de características únicas e pedem ações visando à sua exportação e financiamento.

O fortalecimento dos produtores foi um dos pontos abordados na reunião – Foto: Guilherme Bergamini

Expandir o café vulcânico mineiro para todo o País e para o mundo. É isso o que buscam os produtores de café do Sul de Minas, especialmente das cidades de Andradas, Bandeira do Sul, Botelhos, Cabo Verde, Caldas, Campestre, Ibitiúra de Minas e Poços de Caldas, que compõem a chamada Região Vulcânica do café. 

Os desafios no apoio a esses produtores foram debatidos em audiência da Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada nesta quinta-feira (4/8/22) na Casa. 

A Região Vulcânica também inclui quatro municípios do Nordeste de São Paulo: Águas da Prata, Caconde, Divinolândia e São Sebastião da Grama. 

O café produzido nesta região se diferencia dos demais em virtude de fatores geográficos, climáticos, históricos e culturais que dão ao produto uma característica única. 

A união do solo vulcânico, definido pela caldeira de um vulcão extinto há 80 milhões de anos, com o clima característico e a altitude da região, entre 700 e 1.300 metros, dão ao café um sabor singular.

“Com tendência forte para frutas amarelas, florais, com corpo e doçura de médio pra alto, algo raro para regiões de montanha. E finalização prolongada”, explicou o professor Leandro Carlos Paiva, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais – Campus Machado.

Segundo o especialista, muitos exportadores já compravam e vendiam os cafés da região como vulcânicos antes mesmo de haver um conhecimento baseado em análises do solo, feitas oficialmente em 2017.

Cafés vulcânicos são raros, tendo em vista que são poucas as regiões com essas características no mundo, localizando-se em países como Havaí, Índia e no Continente Africano. 

“Já se sabe, há cerca de dez anos, da diferenciação na produção desses cafés. Sabemos que a qualidade existe. Mas é preciso ir além da notoriedade. É fundamental fortalecer os produtores e as associações, expandir para o mundo conhecer esse café”, afirmou Leandro Paiva.

“Sabemos que a qualidade existe. Mas é preciso ir além da notoriedade”, disse Leandro Paiva ao defender apoio aos produtores – Foto: Guilherme Bergamini

Qualidade do café brasileiro

A cafeicultora Fernanda Kelen também frisou que no exterior ainda é feita uma divulgação errada sobre a qualidade do café no Brasil. Segundo ela, o País seria visto como produtor de café em massa, estando a qualidade em segundo plano. 

“Sempre soubemos que nosso café tem mais qualidade, que estamos numa região privilegiada. Percebíamos isso no nosso dia a dia, antes mesmo de qualquer análise. Então é fundamental corrigir essa comunicação e percepção errada sobre o café brasileiro, que prejudica a todos os produtores do País”, explicou. 

O gerente de Certificação do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Rogério Carvalho Fernandes disse não enxergar dificuldades para que o Certifica Minas, programa do governo estadual, passe também a englobar a indicação de procedência para os agricultores da região, para destacar a produção dos cafeicultores vulcânicos.

Agricultores enfrentam dificuldades para acessar crédito

O extensionista agropecuário da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Aparecido Venâncio Martins, destacou alguns desafios do trabalho da entidade na região, enfatizando que 69% da produção da região vulcânica de Poços de Caldas é feita por agricultores familiares. 

Segundo ele, muitos agricultores não conseguem acesso ao crédito para a atividade e recursos do Plano Safra estariam desde o ano passado sem ser entregues.

“Isso gera muitas dificuldades, especialmente de manter esses agricultores no campo e gerar renda para eles. Precisamos aumentar o nível de matéria orgânica no solo, implementar tecnologias de captação de água de chuva, identificar e orientar o uso de práticas conservacionistas adequadas às especificidades da região e implementar práticas que incentivem a competitividade. Mas a falta do crédito cria desafios para eles e para nós nesse sentido”.

Já o analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/MG) da microrregião Poços de Caldas, Ivan Figueiredo, esclareceu que o trabalho desta instituição tem focado principalmente na criação de um ambiente mais propício ao surgimento de pequenos negócios e que sobrevivam e cresçam. E isso tem sido feito por meio do desenvolvimento de parcerias.

“Produtores participaram da Semana Internacional do Café, tiveram uma consultoria especializada para definir a marca, que expressa o espírito da região vulcânica, e o nosso trabalho tem focado também na transformação da maneira de produzir, consumir e valorizar o café, vendendo o produto como um alimento artesanal, para ser saboreado. E a receptividade do mercado diz que esse é o caminho certo”. 

O diretor executivo da Associação dos Produtores do Café da Região Vulcânica, Ulisses Ferreira de Oliveira, enfatizou algumas conquistas dos produtores nos últimos anos. Entre elas a abertura de negócios para cafés no mercado interno; o lançamento recente do Café Três Corações de uma linha de cafés da região vulcânica; e os registros junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para proteção da marca coletiva. 

Autor do requerimento para a realização da reunião, o deputado Cássio Soares (PSD) frisou que 50% do café brasileiro vem de Minas e, desse montante, 50% vem do Sul de Minas. 

“A realidade do nosso país atualmente, do ponto de vista financeiro, está muito ruim. Os produtores estão sofrendo com a falta de crédito, não conseguem financiamento, e a alta nos juros traz grandes prejuízos para todos. Lamento essa dificuldade e espero que juntos encontremos formas de superar. A ALMG quer colaborar com o crescimento da produção de café”, afirmou.  

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