Quando minha mãe fazia uma geleia, uma cuca, um doce de leite da hora, mandava sempre um “pratinho” para uma das vizinhas. Hora era uma, ora era outra. Dizia: vai num pé e volta noutro, nada de ficar brincando com a “molecada”. Então eu ia. E para retribuir, quando essas vizinhas faziam algo diferente, também mandavam um tanto para nós. Havia também, as Visitas no meio da tarde ou à noite, sem aviso, era só chegar. Todos eram bem-vindos ao convívio de todos. Sempre havia na despensa ou nos armários, doces, compotas, licores, biscoitinhos, bolachinhas, sequilhos, e o insubstituível pão caseiro assado no forno de brasa, para servir a essas visitas inesperadas. Era assim nas cidades interioranas, todos unidos para viver uma vida que hoje, algumas pessoas, nem sonham que existiu. A vida comunitária de verdade. Aquela vida onde as receitas deliciosas eram passadas nos cadernos de linha, à lápis, por mãos quase sempre muito calejadas pelas lidas diárias. Lidas essas que não impediam ninguém de ser amigos, fazer visitas, levar o último licor da fruta da época feito nas imensas cozinhas, que no interior eram mais sala de visita que cozinha, e onde tinha sempre algo em cima do fogão ou no forno, esperando para ser consumido. Gente trabalhadora, esforçada, honesta, onde o fio de bigode valia mais que uma promissória. As casas simples eram feitas por eles mesmos, as camas, colchões, cadeiras e mesas também. Os fornos e fogões eram de barro ou tijolos. Esses, vindos da olaria do amigo que fazia para uso próprio, e distribuía aos conhecidos que não sabiam fazer. E recebia desses amigos aquilo que ele não sabia fazer. Como está longe esse tempo! Aliás, não está muito longe, está aqui no meu coração saudoso, guardado com carinho, e o vejo lá escondidinho nas gavetas de minha saudade. Tempos idos, tempos inesquecíveis, mas esquecidos.