Essencialmente, o cooperativismo tem a face humana e o ser
humano se percebe na identidade cooperativa ao colocar em prática a sua
essência.
É intrínseco ao ser humano exercer a prática da cooperação e isso se manifesta
em quase todos os momentos da nossa vida, nas pequenas e corriqueiras
atividades familiares, em nosso trabalho, nas alianças estratégicas das grandes
corporações e até mesmo nas nações, ao se unirem em blocos continentais e
econômicos.
Podemos creditar a nossa sobrevivência, nos primórdios da humanidade, à
capacidade de unir esforços para vencer as adversidades impostas pelo ambiente
hostil, cercado de ameaças e com escassos recursos.
A cooperação, inerente à essência do ser humano, tendo como objetivo o alcance
de propósitos comuns, passa a se tornar um processo organizado com o surgimento
do cooperativismo.
O modelo cooperativista, que traz na sua essência princípios e valores,
estabelece uma correlação com a identidade humana que tem, na prática de
valores e princípios morais e éticos, o alicerce que sustenta a estrutura da
nossa sociedade.
Dessa forma, com linhas orientadoras simples, sintetizadas nos sete princípios,
o cooperativismo se consolidou e está presente no mundo há quase dois séculos.
A palavra princípio tem origem do latim principĭum, que significa
“origem”, “causa próxima”, ou “início”.
Os princípios cooperativistas estabelecem um conjunto de diretrizes que
orientam o funcionamento das
cooperativas, tal como as pessoas se orientam por valores e princípios
fundamentais em sua conduta social.
A aplicação do modelo cooperativista nasce da carência das pessoas em suprir
alguma necessidade
que individualmente seria inviável e que, cooperando informalmente, seria
inexequível. Dessa maneira, o cooperativismo se distingue com a forma
organizada de promover a cooperação entre as pessoas e tem a cooperativa como a
entidade, personalidade jurídica, que, seguindo os preceitos estabelecidos
pelos princípios conceituais do cooperativismo, coloca em prática o exercício
da cooperação, atendendo e suprindo as necessidades das pessoas que
voluntariamente se unem.
Essa união estabelece um pacto de cooperação cujo objetivo maior é o interesse
coletivo em detrimento do interesse individual, resultando na redução dos
custos, no ganho do poder de barganha e, consequentemente, no aumento da
competitividade.
Ao analisarmos que o exercício da cooperação, no ambiente da cooperativa, está
alicerçado em relações pessoais de confiança e solidariedade, que promovem a
coesão associativa, percebemos mais uma correlação entre a essência do
cooperativismo e a essência do ser humano.
Evidente que aqui não estamos abordando a dicotomia entre o
que motiva o comportamento cooperativo e o comportamento competitivo, próprios
do ser humano, que se estabelecem nas relações negociais e sociais dos
associados e suas cooperativas, mas sim os aspectos intrínsecos à essência do
cooperativismo e do ser humano em uma abordagem conceitual que os identifica e
aproxima.
Ao revisitarmos alguns pensadores e teóricos que deram
origemà filosofia cooperativista, como Owen, Fourier,Buchez, Blanc, King,
percebemos um conteúdo humanitário, tendo como base a preocupação com o
bem-estar social, valorizando o que hoje poderíamos denominar de relação
ganha-ganha, protagonizada pelo cooperativismo.
Enfim, podemos divagar sobre a essência que permeia as bases cooperativistas e suas intrínsecas relações com os sentimentos e a essência do ser humano e chegar a múltiplos entendimentos. No entanto podemos afirmar que o cooperativismo tem se mostrado, principalmente nos dias atuais, como o modelo de negócios que mais reflete a face humana.
Fonte: Cristina Freitas cristina@libris.com.br
Foto: Gazeta da Semana