Número de mulheres motoristas de aplicativo dobra em dois anos

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Maior temor delas, que ganham a vida dirigindo, é a insegurança em relação à violência

Por BRUNO MENEZES – 28/12/21 – 03h00

Esther é motorista de aplicativo há quatro anos, faz corridas à noite e pela madrugada, e já foi vítima de sequestro-relâmpago
Foto: Videopress Produtora

O número de mulheres que trabalha como motorista de aplicativo na região metropolitana de Belo Horizonte mais que dobrou nos últimos dois anos. Dados da Frente Nacional de Apoio ao Motorista Autônomo (Fanma) revelam que em 2019, eram cerca de 4.000 ao volante, e em 2021, são 9.000 condutoras exercendo atividade remunerada. A flexibilidade no trabalho é um dos pontos positivos destacados por elas que escolheram seguir na profissão, mas a insegurança nas corridas é um fator que ainda gera preocupação às profissionais.

O presidente da Fanma, Paulo Xavier, explica que a frente tem acompanhado o fenômeno. “Nos últimos anos o número de motoristas, de um modo geral, cresceu. Com isso, o número de mulheres também aumentou. A gente ainda não sabe o motivo claro do aumento, mas o desemprego e a falta de oportunidade em outras áreas podem ter contribuído para isso. Essa rede de contatos de mulher indicando para mulher também potencializa”, explica.

A motorista por aplicativo Esther de Figueiredo Arantes, 36, atua na área há quatro anos e costuma realizar corridas principalmente à noite e pela madrugada. Ela diz que a flexibilidade no horário de trabalho a atraiu. “Eu sou bacharel em direito. Trabalhei na área e depois fui pra área de vendas, que não é o meu foco. Depois fui ser motorista de aplicativo porque é bem mais tranquilo. Você pode escolher o seu horário, mas é importante ter foco”, explica. 

A também motorista Samara Stephanie Lois, 34, atua apenas na Uber, há dois anos, na categoria Black – que paga um valor mais alto pelas corridas. Ela diz que, mesmo com o aumento do combustível, nessa categoria ainda vale a pena rodar. “Antes eu trabalhava como recepcionista de hotel. Eu só faço o Uber Black. Para mim, compensa. Tem a flexibilidade de horário. Eu trabalho das 17h até as 3h”, conta.

Insegurança

O crescente número de casos noticiados de violência contra motoristas por aplicativo provoca medo nas motoristas. Esther conta que já foi vítima de um sequestro-relâmpago, no bairro Cidade Nova, na região Nordeste de BH. Desde então ela evita aceitar corridas para a região. 

“Eu não vou para lá. É um bloqueio que eu tenho, as pernas começam a tremer. Quando aparece para mim região Nordeste de BH, ou eu não aceito aquela corrida, ou pergunto para qual bairro está indo. Eu não me sinto segura rodando em certas regiões”, explica.

Apesar de nunca ter sido vítima de violência, Samara explica que sempre toma precauções: “Graças a Deus nunca me aconteceu nada. Passageiro que anda no cartão eu acredito que é mais seguro também do que rodar no dinheiro. Então a gente tem essa preferência”. 

Rede de proteção e reuniões com a PM ampara condutores

Em outubro deste ano, a motorista por aplicativo Margarete Nascimento, 49, foi morta, e o corpo dela, encontrado em uma ribanceira na serra do Rola-Moça, na região metropolitana. Ela tinha uma filha e cinco netos. Casos como esse são cada vez mais recorrentes.

No início de 2021, a Polícia Militar (PM) criou ações para tentar coibir crimes contra esses profissionais, como, por exemplo, fazer reuniões com a categoria para dar orientações de segurança, além de blitze de fiscalização. 

O presidente da Fanma, Paulo Xavier, afirma que se reuniu com o comando a PM para que essas ações sejam novamente intensificadas nos próximos meses. “A gente traçou alguns pontos para serem trabalhados no período de fim de ano e férias. A gente percebe que o maior índice de crimes contra motoristas por aplicativos é nesses períodos”, explicou. 

Xavier revela que na reunião ficou acertada a volta das ações da Polícia Militar a partir de dezembro. Além disso, um seminário para dar orientações aos motoristas deverá ser realizado na segunda quinzena de janeiro. 

Redes sociais

A Fanma também criou um grupo de WhatsApp com os motoristas da região metropolitana. “Os próprios motoristas vão avisando uns aos outros. Em qualquer corrida que o motorista se sinta inseguro, ele consegue avisar nesse grupo e pode compartilhar a localização em tempo real”, informou. 

Motoristas de aplicativo da Grande BH interessados em participar do grupo podem fazer contato com a Fanma pelo telefone (31) 99999-3516.

Apps investem em segurança

UBER

A empresa informou que, para tentar dar mais segurança às motoristas, no Uber elas podem escolher visualizar e aceitar corridas apenas de passageiras mulheres. Segundo a empresa, mais de 12 milhões de viagens desse tipo já foram realizadas em 13 países, sendo 11 deles na América Latina.

99Pop

Investiu em tecnologias inovadoras, que utilizam inteligência artificial para passageiras mulheres em situação de risco enquanto buscam motoristas. A empresa informou que 5% dos motoristas e 60% dos passageiros cadastrados na plataforma – que está em expansão – são mulheres.

Dicas de Segurança

Orientações para evitar que motoristas por aplicativo sejam vítimas de assaltos e outros crimes violentos

-Não ficar parado em ruas desertas.
– Não ficar mexendo no celular com o carro parado, para que o motorista não fique com a cabeça abaixada e sem atenção ao redor.
-Não deixar portas e vidro destravados.
-Evitar ao máximo as corridas em dinheiro.
-Não transportar o passageiro no banco da frente e colocar acrílico divisor para aumentar a segurança.
– Compartilhar a localização em tempo real com outros motoristas.
– Nunca reagir ao assalto.

Fonte: Frente Nacional de Apoio ao Motorista Autônomo (Fanma)

Extraído do Jornal O TEMPO

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