COVID-19 Coronavírus: jovens sem medo da doença impulsionam surtos e botam em risco os mais velhos

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OMS atribui surtos em nações europeias ao aumento de casos da doença entre população jovem; especialistas culpam percepção de baixa vulnerabilidade ao vírus

Rodrigo Craveiro – Correio Braziliense

Movimento diante de pub em bairro de Londres: relaxamento da quarentena ampliou o risco de contágio do Sars Cov-2 em vários países do continente(foto: AFP / JUSTIN TALLIS)

Os novos surtos da COVID-19 em países europeus estão associados a um aumento no número de infecções entre os mais jovens. O alerta partiu de Hans Kluge, diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa. “Temos recebido relatos de várias autoridades sanitárias de uma proporção mais alta de infecções entre jovens”, afirmou à Radio 4, da emissora britânica BBC. “Um número crescente de países está passando por surtos localizados e pelo ressurgimento de casos. É uma consequência da mudança do comportamento humano”, avaliou.

A OMS detectou uma maior incidência em pessoas da faixa etária entre 20 e 39 anos. Os governos da França e da Alemanha reportaram um maior número de jovens testando positivo para o Sars CoV-2, o novo coronavírus. O fenômeno coincide com o relaxamento das restrições em algumas nações e com o início da temporada de verão, que tem lotado praias francesas e britânicas. Para Kluge, o aumento de casos de COVID-19 entre os mais jovens é “barulhento o suficiente para repensar na melhor maneira de envolver os adolescentes”.
Professor de ciência política e cofundador do Observatório COVID-19 para as Américas da Universidade de Miami, Michael Touchton admitiu ao Correio que pessoas mais jovens têm se envolvido em comportamentos de alto risco. “Isso pode, facilmente, levar a COVID-19 para seus pais e avós. Algo especialmente assustador em países onde jovens tendem a viver em famílias de várias gerações, inclusive durante a época da universidade.

Tal condição se aplica à boa parte da Europa, Ásia e Américas do Sul e Central”, advertiu. De acordo com ele, os jovens vão a bares, restaurantes, festas e shows em taxas muito mais altas do que adultos. “Como resultado, estão contraindo a COVID-19 também com mais frequência, inclusive nos Estados Unidos. Isso não é surpreendente. Pessoas mais jovens são sistematicamente menos vulneráveis aos efeitos do Sars-CoV-2 e, portanto, menos cuidadosas em relação ao contato com pessoas infectadas, dispensando máscaras ou se expondo à doença”, disse.
Por sua vez, Michael Head — pesquisador em saúde global pela Faculdade de Medicina da Universidade de Southampton (Reino Unido) — explicou que há um aumento de evidências da transmissão dentro das comunidades, predominantemente entre jovens e crianças. “É algo particularmente preocupante em países com grande número de casos, e isso inclui Brasil, Índia e Estados Unidos”, comentou à reportagem. Head alegou ser fundamental interromper a cadeia de transmissão entre os mais jovens, “menos gravemente afetados pela COVID-19 do que as gerações mais velhas”.
Para o especialista britânico, uma “tempestade perfeita” de fatores facilitou a pandemia. “O vírus, em si, é fácil de ser transmitido antes que a pessoa desenvolva os sintomas. Não existem vacina nem remédios realmente eficazes. Os testes de diagnóstico são essenciais, porém, mostram-se imperteitos — eles não detectam todos os casos, principalmente nos primeiros dias de infecção”, afirmou Head, antes de cobrar uma “liderança estável” dos políticos para um combate eficiente ao Sars-CoV-2. Ele entende que o declínio, de longo prazo, para zero caso da COVID-19 sempre verá saliências nos gráficos, dentro da tendência de queda. “Cabe aos países garantir que sejam apenas ‘picos’, não uma ‘segunda onda’”, aconselhou.
Touchton concorda que, apesar de muitas nações terem implementado lockdowns estritos, não investiram em rastreamento de contatos, à medida que aliviaram o isolamento social. “Nem todos os países exigem máscaras em locais públicos. Lockdowns funcionam a curto prazo, mas são soluções insustentáveis, a longo prazo, ante à necessidade de gerar renda. À medida que os países relaxam as regras, eles devem criar um sistema robusto para identificar os infectados, rastrear contatos para isolar os que foram expostos e exigir as máscaras.”
Mortalidade
Dados do Instituto de Estatísticas da França (INSEE) apontam aumento de 28% a 71% na mortalidade na Espanha, Itália, Bélgica e França entre março e abril — fenômeno atribuído à pandemia. Entre terça-feira e ontem, os espanhóis contabilizaram 1.153 casos de covid-19, o maior número desde 1º de maio. Até o fechamento desta edição, a Espanha acumulava 282.641 casos e 30.223 mortes. A França também registrou o maior número de infecções em 24 horas em mais de um mês: 1.392 casos entre terça-feira e ontem — no total, são 221.077 casos e 30.226 mortes.
Fonte: O Estado de Minas

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