Ao iniciar preparação de fórum técnico sobre o tema, presidente da ALMG diz que pesquisa não pode ser desvalorizada.
A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em parceria com instituições públicas e privadas, iniciou nessa segunda-feira (30/9/19) a preparação do Fórum Técnico Ciência, Pesquisa, Tecnologia e Inovação, que tem o objetivo de recolher sugestões para elaboração do Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Em solenidade realizada no Salão Nobre da ALMG, o presidente da Casa, deputado Agostinho Patrus (PV), afirmou que a iniciativa tem a intenção de resgatar a importância desse setor, no momento em que ele enfrenta severos cortes orçamentários, em nível federal e estadual, o que vem provocando também a fuga de pesquisadores e talentos para outros estados e para o exterior.
“Quando um tema tão importante quanto a pesquisa, a ciência e a tecnologia começa a ser tratado como algo acessório em nosso País, isso merece que a Assembleia Legislativa, através de seus representantes, dos representantes da população mineira, traga esse tema para a Casa, porque sabemos de sua relevância”, afirmou o presidente da Assembleia.
Apelos pela preservação e recuperação dos investimentos em pesquisa foram unânimes entre os participantes do evento, tais como a reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sandra Goulart Almeida, e o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Evaldo Vilela.
A expectativa de Vilela é chegar ao final do ano com apenas cerca de R$ 100 milhões destinados à Fapemig, de um orçamento inicialmente previsto de R$ 430 milhões. Isso, segundo ele, só dá para pagar os cerca de 1,8 mil bolsistas de pós-graduação, que não terão como trabalhar adequadamente, já que não haverá recursos para a execução dos projetos propriamente ditos. E também foi interrompido, desde março, o pagamento de bolsas de iniciação científica, que garantiriam o futuro da ciência em nosso Estado.
O presidente da Fapemig disse que ele e a instituição compreendem a difícil situação financeira do Estado, mas ressalvou que é necessário ter o sentido de prioridade. “Eu estava na Inglaterra quando eles passaram pela crise de 2008 e eles cortaram gastos em tudo, mas aumentaram o investimento em ciência e tecnologia”, exemplificou Evaldo Vilela.
O mesmo recado veio da reitora da UFMG. “As instituições de ensino superior de nosso Estado são a solução, não o problema”, salientou Sandra Almeida. A UFMG, este ano, já perdeu 36% de seu orçamento, o que coloca em risco o planejamento construído e o próprio custeio. “Não se constrói um país sem universidades e sem investimento em ciência e tecnologia”, cobrou a reitora. Ela acrescentou que Minas é o Estado com maior número de instituições de ensino superior, algo que precisa usar a seu favor.
Objetivo do Plano Estadual é garantir continuidade de políticas públicas para a ciência
Autora do requerimento para realização do Fórum Técnico e presidenta da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) disse que a intenção do evento e do futuro Plano Estadual é dar à ciência e à tecnologia uma agenda de Estado, que tenha continuidade e não dependa de governos eventuais e passageiros. “No momento do obscurantismo e da barbárie, precisamos responder de forma propositiva”, declarou a deputada.
Além dos cortes orçamentários, também foi muito criticada durante a cerimônia a forma como a ciência vem sendo tratada em nível federal. “É o Poder Executivo que nos agride. Fomos citados no discurso da ONU de forma vergonhosa”, afirmou a presidenta do Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Branco (Apubh), Maria Stela Goulart. Ela acrescentou que Minas está perdendo pesquisadores não apenas para outros Estados ou países, mas para o “desalento”.
Representando o Executivo estadual na solenidade, o subsecretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, Victor Becho, disse que a pesquisa e a ciência são parte do esforço para recuperar o desenvolvimento do Estado. Exemplos desse esforço foram apontados pelo presidente da Assembleia, ao citar dois personagens do movimento “Sou Minas Demais”, liderado pelo Parlamento mineiro, que procura valorizar os talentos e as potencialidades de Minas. Um deles é o físico Ado Jorio, da UFMG, que estuda nanoestruturas com aplicações em novos materiais e biomedicina. Outro é Rodrigo Cartacho, empreendedor que criou o Sympla, plataforma de venda de ingressos para eventos.
Tanto o presidente Agostinho Patrus quanto a deputada Beatriz Cerqueira salientaram que o Fórum Técnico e o Plano Estadual serão uma construção coletiva, já iniciada na primeira reunião preparatória, logo após a solenidade, nesta segunda-feira. A previsão é que o processo se conclua apenas em maio de 2020.