Prisão da Mulher

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Há tempos o confinamento da mulher em casa tinha função importante- garantir a castidade ou fidelidade conjugal. “ Uma escrava ou doméstica podia sair pela rua a qualquer serviço- como no Brasil ou Estados Unidos no tempo da escravidão- o escravo não tinha “dignidade” ou” decoro” a preservar, mas a “mulher livre”- a esposa ou a filha, tinha bem menos liberdade neste ponto.

Eram poucas as opções para esta “mulher livre”, e é em parte por isto que com o triunfo da Igreja os conventos vieram a ser um importante campo de ação feminino. Há um episódio bem instrutivo em que um amigo de Sócrates vem queixar-se a ele de que, devido à guerra com Esparta, está com a casa cheia de parentas pobres e ociosas que representam uma carga pesada. O conselho de Sócrates é simples e prático: botá-las para trabalhar na confecção de túnicas baratas. Foi um santo remédio: as mulheres puseram-se a trabalhar e daí a pouco estavam alegres e bem- humoradas, em vez do tédio e irritabilidade de antes. E agora criticavam o dono da casa seu parente por ser o único que “comia sem trabalhar”!

Este incidente mostra que os gregos conheciam bem os perigos do tédio e irritabilidade causados pela ociosidade sem objetivo. Mas também demonstra que se negava  às mulheres um verdadeiro lazer. Seu trabalho nunca terminava, e as queixas da continuidade implacável das tarefas se fazem ouvir através dos séculos. Ainda hoje, ouve-se o protesto de mulheres “profissionais”, que trabalham fora de casa, mas muitas vezes ainda têm de cuidar de casa e dos filhos pequenos.

Já na era cristã no Império Romano, São Jerônimo registra as queixas de uma mulher casada, que se desculpa por não dedicar mais tempo a suas devoções: “Como é que se pode passar dia e noite em orações e jejuns com o choro de meninos pequenos, os clamores de toda casa, crianças agarrando-se ao pescoço, o cálculo das despesas e do orçamento”… A dona tem de passar o dia indo de um recanto para outro, vendo se as camas foram feitas, se o chão foi varrido, se os cálices de bebida estão em ordem, se o jantar foi preparado. Como é que se pode pensar em Deus no meio de tudo isso?

Quem fala assim tem o espírito todo de uma Marta (Bíblia), e acha impossível ser uma Maria. Mas é inegável que na Europa Ocidental, em áreas rurais antes da Revolução Industrial, as mulheres cuidavam de toda uma série de tarefas, que hoje em geral passaram para as fábricas: confecção de sabão e velas, fazer pão, extrair remédios de ervas, fazer manteiga e queijo, defumar e salgar carne, preparar conservas e geleias, fazer cervejas; ou, em casas suburbanas, criar galinhas, porcos e até vacas. As mais pobres empregavam-se em fazendas ou ajudavam na colheita.

É fácil de imaginar os efeitos que a limitação à esfera doméstica produzia na educação, intelecto e personalidade. Se o escravo era mutilado e moldado para ajustar-se à sua função de fazer o trabalho pesado do senhor, a mulher também era domesticada e tinha como que as asas cortadas. Se aqueles tempos foram mudando, em 2019 temos de mudar muito mais e para melhor e tempos felizes. Vamos lutar para ser felizes e não para sermos perfeitos.

Adhemar Cecílio de Medeiros- 02.01.2019

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